Clima de todo o planeta sofre influência direta

Odair Leal/Folhapress
Rio Juruá, um dos mais sinuosos do mundo, com nascente no Peru e foz no rio Solimões, no Amazonas

Uma pesquisa idealizada por cientistas brasileiros e estrangeiros, apresentada no ano passado em Princeton, nos Estados Unidos, revela ainda mais o peso que a Floresta Amazônica tem em relação ao clima global.

O trabalho avaliou o que aconteceria com o planeta se a maior floresta tropical do mundo fosse totalmente destruída e concluiu: a temperatura subiria, em média, 2,5 graus Celsius na Terra.

"Não sou muito favorável à visão catastrofista de que o mundo vai acabar e de que a humanidade vai desaparecer por causa das mudanças climáticas", afirma Paulo Artaxo, físico da USP e um dos principais especialistas do tema. "Mas, apesar disso, o ponto pacífico é que as próximas gerações vão ter dificuldades muito maiores do ponto de vista climático em comparação com as gerações que passaram ou estão na Terra nos últimos 100 anos", diz.

Os modelos matemáticos do estudo analisaram inúmeros dados, como as emissões demetano, carbono e a evotranspiração das plantas, e simularam vários cenários, inclusive um bem otimista, o de que o mundo conseguirá reduzir drasticamente a emissão de carbono.

Mesmo nesse caso, o resultado é alarmante: sem a Amazônia, a temperatura na região Norte pode aumentar até 4,5 graus Celsius. Numa região em que os termômetros hoje já alcançam facilmente os 37 graus, a vida no local seria inviável.

Além do aumento da temperatura, a quantidade de chuvas cairia drasticamente, reduzindo o fluxo de água dos rios e a pluviosidade que a área exporta para as demais regiões do Brasil e da América do Sul.

EMISSÃO DE CARBONO

Mas se o mundo depende da floresta, a Amazônia também depende da redução drástica da emissão de dióxido de carbono (CO2)."Se os níveis de emissão de carbono não baixarem, esquece. A Amazônia vai perder completamente as condições ecológicas de se manter viva. Desta forma, ela vai mesmo colapsar", afirma.

O CO2 é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que provoca o aumento da temperatura terrestre. As florestas têm um limite de tolerância térmica e, se esquentar muito, começam a perder biomassa, a mortalidade das árvores aumenta e a taxa de crescimento de vegetação diminui. Em vez de retirar e armazenar dióxido de carbono da atmosfera, a Amazônia poderá ser uma fonte de emissão de gases.

Ao mesmo tempo, o desmatamento total tem potencial para lançar uma quantidade gigantesca de carbono pelos ares. A biomassa preservada na floresta tropical brasileira é da ordem de 150 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a mais ou menos três anos das emissões mundiais. "Emissão de carbono e desmatamento é um jogo de perde-perde", sustenta o pesquisador da USP.

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