Fórum destaca importância da preservação ambiental, de práticas éticas e de responsabilidade social na relação entre governos, empresas e consumidores

O respeito às regras em vigor, à ética, ao social e ao ambiente é a nova ordem mundial para a realização de negócios. Trata-se de um caminho sem volta em que não há mais espaço para modelos econômicos baseados na exploração ilimitada e insustentável dos recursos naturais.

Nessa nova configuração, é essencial pensar em todos os stakeholders e nas comunidades envolvidas na cadeia produtiva. Esse novo ordenamento social foi a essência das atividades do quarto e último dia do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes, com o tema "governança ambiental, social e corporativa - relevância no contexto atual".

Nos três primeiros dias do fórum, em sua versão online, promovido pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, que teve como tema central "O Futuro é Agora", foram discutidas "as perspectivas para o Brasil e os Países Árabes no novo cenário global", questionado se há "uma nova ordem dos negócios internacionais" e "segurança alimentar: uma parceria entre Brasil e mundo árabe".

No encerramento do último dia do fórum, nesta quinta-feira (22), participaram lideranças políticas e empresariais árabes e brasileiras. Entre eles, o vice-presidente da República do Brasil, Hamilton Mourão, Khaled al-Osaily, ministro de Economia da Palestina, Khaled Hanafy, secretário-geral da União das Câmaras Árabes, e Hossam Zaki, secretário-geral adjunto da Liga Árabe.

Hamilton Mourão, vice-presidente da República do Brasil, discursou no encerramento do fórum e lembrou dos laços históricos que unem o Brasil aos Países Árabes
O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun, durante seu pronunciamento no encerramento do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes, quando destacou a importância de a realização do evento ter alcançado 61 países

GOVERNANÇA

Na abertura das atividades, Mohamed Orra Mourad, vice-presidente administrativo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, afirmou que a sociedade está mais atenta à política das empresas em relação à preservação do ambiente, aos impactos de suas atividades na mudança climática e se a produção é feita de uma forma sustentável e responsável.

Mohamed Orra, vice-presidente administrativo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, dá início às atividades do último dia do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes

"Se nós temos uma boa parcela da população mundial preocupada sobre onde comprar, investir e trabalhar, nada mais justo do que assumir que a bandeira ESG [governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês] pode ser adotada como estilo de vida."

Representando o governo do Estado de São Paulo no evento, o embaixador Affonso Massot, assessor especial da Secretaria de Relações Internacionais, anunciou que no pavilhão do Brasil, na próxima Expo Dubai, haverá espaço sobre as novas oportunidades que o Estado oferece para o biênio 21/22, como investimentos sustentáveis em projetos de infraestrutura, privatizações e concessões.

Já Ryad Mezzour, chefe do Gabinete do Ministério da Indústria do Marrocos, destacou as ações adotadas por seu país no combate à pandemia do Covid-19 e que, por determinação real, foram priorizados os valores humanos e sociais nas ações empreendidas.

O embaixador Affonso Massot, assessor especial da Secretaria de Relações Internacionais do governo do Estado de São Paulo, anuncia em pronunciamento ações que serão adotadas por São Paulo na próxima Expo Dubai

A última painelista da abertura, Jihène Ben Romdhane, vice-presidente da Fipa (Agência de Promoção e Investimento Exterior da Tunísia), relacionou as iniciativas de seu país, principalmente no campo educacional, para preparar os tunisianos para atuar nas mais diversas áreas da economia global, tornando o país uma porta de entrada para novos mercados, principalmente o africano. "Somos líderes em investimento em educação. A Tunísia é considerada a terceira economia mais inovadora na África."

Jihène Ben Romdhane, vice-presidente da FIPA (Agência de Promoção e Investimento Exterior da Tunísia), falou sobre os investimentos em educação promovidos pelo governo daquele país

CASA ÁRABE

A cultura árabe estará disponibilizada na palma da mão. Num clique, será possível acessar o acervo de museus, universidades, bibliotecas, filmes, gastronomia, além de uma agenda de eventos com cursos e debates, entre outros. Essa é a proposta da Casa Árabe, um portal de informações que foi anunciado no último dia do fórum.

A Casa Árabe servirá de centro de desenvolvimento institucional entre árabes e brasileiros. É uma iniciativa da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e vai permitir que as várias gerações de descendentes dos Países Árabes que vivem no Brasil possam se conectar e ter acesso facilitado às informações culturais daquela região, compreender suas raízes e também mostrar o que há de novo.

O espaço virtual deverá representar o modo de vida dos 22 países que compõem a Liga Árabe, incluindo as diversas formas de cultura dessa região que abrange o Golfo, o Norte da África e Oriente Médio. Vai mostrar o modo de viver e fazer arte.

A diretora de Cultura da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Sílvia Antibas; o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun; e no telão o conselheiro da Fiesp, Roberto Duailibi; o professor do Cecal-Usek, Roberto Khatlab; e o presidente do Instituto de Cultura Áraba (Icarabe), Mohamed Habib, anunciam a criação da Casa Árabe

COMPROMISSOS

O último dia do fórum teve a assinatura e adesão a diversos acordos e tratados. Um deles foi com a Academia Halal, que prevê a disseminação do conceito e das práticas éticas do halal. O halal é um certificado de cunho religioso, que garante aos muçulmanos que o alimento ou produto foi cultivado ou preparado de acordo com os preceitos islâmicos.

O acordo é uma iniciativa pioneira na América Latina e incentivará o conhecimento, a pesquisa e a formação de mão de obra dentro do conceito halal.

O presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun, assinou com o presidente da Academia Halal, Ali El Zoghbi, um acordo que prevê a disseminação do conceito e das práticas éticas do halal

A Academia Halal do Brasil, parceira da Câmara Árabe-Brasileira, nesse acordo, é um instituto privado de formação, treinamento, qualificação e capacitação continuada com especialização no segmento halal.

Também foi assinado o protocolo de adesão da Câmara ao Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) pelo presidente da Câmara, Rubens Hannun. O ato de assinatura foi acompanhado, via online, por Carlo Pereira, secretário-geral do Pacto.

O Pacto Global da ONU é uma iniciativa lançada em 2000 para empresas alinharem suas estratégias e operações a princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, ambiente e combate à corrupção. É hoje considerada a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo.

Assinatura da adesão da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira ao Pacto Global da ONU, nas presenças de Rubens Hannun, presidente da Câmara, Fernanda Baltazar, gerente de Relações Institucionais da Câmara, e Carlo Pereira, secretário-geral do Pacto Global das Nações Unidas (no telão)

O último acordo desta edição do fórum envolveu a Associação dos Exportadores do Egito (Expolink). Esse acordo visa facilitar o comércio entre o Egito e Brasil. Também se estenderá à América do Sul.

Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (no estúdio), e Khaled El Mikati, presidente da Associação dos Exportadores do Egito - Expolink (na tela), exibem o documento de acordo de comércio assinado entre as duas entidades

"É uma grande oportunidade para o Egito ampliar os negócios com o Brasil e também com os países do Mercosul", disse Khaled El Mikati, presidente da Associação dos Exportadores do Egito.

PAINÉIS

Os debates realizados por empresários e representantes de entidades nos painéis de discussões do último dia do fórum contextualizaram as práticas ESG nas políticas corporativas e nos mercados de investimentos.

As empresas Natura, representada por Paulo Dallari, head de Relações Institucionais; Al Baraka Bank, por meio de Ali Adnan Ibrahim, vice-presidente de Sustentabilidade; DP World, na voz de seu presidente, Dallas Hampton; e BRF, na figura do CEO global, Lorival Nogueira Luz - as duas últimas no painel "CEO Talk" -, apresentaram iniciativas que convergem para os princípios preconizados pelo conceito ESG.

Empreendedores discutem as boas práticas de governança durante painel no último dia do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes, promovido pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira

A Natura, por exemplo, planeja zerar suas emissões de carbono em 10 anos, elevar a representação de gênero em cargos de liderança a 50% e acabar com a disparidade salarial entre homens e mulheres.

O controle de emissões de gases de efeito estufa, um índice de 100% na reutilização de água e 93% da energia provida por fontes renováveis foram itens que embasaram a fala de Lorival Nogueira Luz, da BRF, bem como a retirada de todos os antibióticos com o intuito do bem-estar animal.

Investimentos em ambiente, esportes e educação na região da cidade de Santos (SP) foram relacionados por Dallas Hampton, da DP World, empresa multinacional de logística com sede no Emirados Árabes Unidos.

As chamadas finanças sustentáveis foram destaque dos discursos de Rodrigo Tavares, de Portugal, fundador e presidente da Granito Group, e Samy Podlubny, head de Debt e Capital Markets Advisory da KPMG.

Tavares salientou que, nos mercados de investimentos, empresas com boas estratégias de sustentabilidade corporativa têm obtido melhores performances financeiras. "A sustentabilidade não pode ser periférica [nas companhias]", afirmou.

"No mercado de capitais, o investidor analisa se determinado projeto faz sentido economicamente, ao mesmo tempo que olha uma eventual governança e aspectos sociais e ambientais", corroborou Podlubny.

Os preceitos do halal foram também objetos de análise no painel ao serem abordados por Ali Adnan Ibrahim, vice-presidente de Sustentabilidade do Al Baraka Bank, e Tomas Guerrero Blanco, gerente da Halal Trade and Marketing Centre.

Os dois executivos reforçaram como o halal passou a ser indicativo de bem-estar e práticas sustentáveis mesmo entre os não adeptos de crenças muçulmanas e islâmicas. "Sustentabilidade e halal são sinônimos", afirmou Ibrahim. "Não muçulmanos começam a comprar produtos halal", disse Blanco.

O painel foi mediado inicialmente por Carlo Pereira, secretário-geral do Pacto Global das Nações Unidas. Depois, deu continuidade à mediação o secretário-geral da Câmara, Tamer Mansour. O CEO Talk, que contou com os executivos da DP World e da BRF, foi mediado por Daniel Hannun, diretor da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

ENTRE CÂMARAS

Foi também promovido um encontro entre líderes de câmaras. A discussão, mediada pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Rubens Hannun, e por sua gerente de Relações Institucionais, Fernanda Baltazar, reuniu Omar Khan, diretor-responsável pelos Escritórios Internacionais da Dubai Chamber; Natheem Sabbah, presidente da Arab Investor Awards; e Simon Bachawati, presidente da Câmara de Comércio de Trípoli.

Khan lembrou que as empresas costumavam separar orçamentos paralelos para iniciativas ligadas ao ecossistema e que agora essas práticas estão muito mais integradas às estratégias gerais. E ressaltou que, até 2050, Dubai planeja que 75% da energia que utiliza provenha de fontes limpas. "Até 2021, não queremos mais utilizar papéis dentro de nossos escritórios", acrescentou.

A intenção de assinar vários acordos de cooperação com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira foi sinalizada por Sabbah, da Arab Investor Awards. Já Bachawati destacou a necessidade de firmar parcerias, não em busca de aportes financeiros, mas pelas "oportunidades de trabalharmos juntos".

ENCERRAMENTO

Na cerimônia de encerramento do fórum, o vice-presidente da República do Brasil, Hamilton Mourão, destacou que a relação do Brasil e os Países Árabes tem origem em uma longa história em comum. "A influência árabe em nossa cultura é anterior ao surgimento da nossa nação brasileira. Os primeiros elementos da herança árabe chegaram às Américas a bordo das caravelas portuguesas."

Mourão falou da importância da comunidade árabe no Brasil na construção de um futuro de prosperidade, inclusão e sustentabilidade, sobretudo neste momento em que o país e o mundo enfrentam a pandemia da Covid-19.

De acordo com o vice-presidente, a "economia do conhecimento exige maior capacidade em matéria de pesquisa, desenvolvimento e inovação, nos mais diferentes setores da atividade econômica".

Mourão citou dados de uma pesquisa realizada com CEOs de empresas brasileiras que, para ele, "ilustram a magnitude e velocidade das transformações que vêm ocorrendo. "Para 40% deles [CEOs], o progresso da digitalização das operações e a criação da próxima geração do modelo operacional foram acelerados em questão de meses", afirmou.

Ainda de acordo com o vice-presidente, 53% dos grandes empresários afirmam que um dos principais investimentos estratégicos será a aquisição de novas tecnologias, digitalização dos negócios e inovação.

O vice-presidente disse que "a sustentabilidade se tornou elemento central para o pacto geracional do século 21". "Precisamos satisfazer as necessidades das atuais gerações sem comprometer as capacidades para que nossos filhos e netos possam suprir suas necessidades no futuro próximo", enfatizou Mourão.

"O mundo corporativo brasileiro acompanha esse processo e está se reposicionando para atender às novas exigências da sociedade e do mercado, com disposição e capacidade para adotar protocolos ambientais, como a eficiência energética, a gestão de resíduos, a preservação de recursos naturais, as tecnologias limpas e a rastreabilidade da cadeia de alimentos", declarou. "Os associados e parceiros da CCAB estão atentos e contribuem para essa evolução", concluiu.

Khaled Tash, do MInistério de Investimentos da Arábia Saudita, em seu pronunciamento, destacou a importância da realização do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes para o estreitamento de relações bilaterais

Em seguida, o presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, agradeceu a todos que contribuíram para a realização do fórum e citou números superlativos do evento.

De acordo com Hannun, o fórum, em sua edição especial online, foi assistido por mais de 9.000 pessoas, nos cinco continentes, em 61 países (entre Árabes, das Américas e europeus).

Mais de 2,3 mil pessoas visitaram virtualmente os estandes de 20 expositores. Foram mais de 20 horas de transmissão online e a participação de mais de 120 oradores de 23 países. "Foram quatro dias extremamente intensos, com conteúdo riquíssimo, para falar sobre essa relação histórica [entre Países Árabes e Brasil]."

Segundo Hannun, houve um clima de otimismo e entusiasmo desde o primeiro dia do evento, que começou no dia 19, e que se manteve ao longo do fórum até o seu encerramento.

Na sua conclusão, Hannun declarou: "A Câmara deu um passo para a frente e assumiu seu papel de liderança. Por isso que o tema foi 'O Futuro é agora'. Nós temos que fazer o futuro. Sermos os protagonistas".

O secretário-geral adjunto da Liga Árabe, Hossam Zaki, afirmou que a Liga dos Estados Árabes continuará a ser parceira dos brasileiros e "a serviço das causas dos nossos povos, para elevar nossas relações em todos os níveis".

Já Khaled Tash, do Ministério de Investimentos da Arábia Saudita, ressaltou a importância do seu país como o maior parceiro estratégico do Brasil com o Oriente Médio. "A Arábia Saudita é o portão de entrada para uma oportunidade de mais de US$ 1 trilhão em negócios globais. Os muçulmanos gastaram US$ 1,4 trilhão em alimentos, produtos farmacêuticos, cosméticos halal."

O ministro de Economia do Estado da Palestina, Khaled al-Osaily, destacou as relações históricas com o Brasil e convido empresas brasileiras a prospectar oportunidades no mercado, para cooperação técnica em vários setores promissores na Palestina.

Khaled al-Osaily, ministro de Economia do Estado da Palestina, que discursou no encerramento do Fórum Econômico Brasil & Países Árabes e convidou empresas brasileiras a prospectarem oportunidades no mercado palestino

O recado de Ajlan A. Ajlan Al Ajlan, presidente do Conselho das Câmaras Sauditas, foi: "Mais do que nunca, precisamos de cooperação mútua". "Priorizamos o estreitamento dos laços com o Brasil".

Para Ibrahim Alzeben, decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil e embaixador do Estado da Palestina, o fórum traduziu "o desejo comum de levar nossas relações econômicas aos mais amplos horizontes". "A tendência da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira de expandir suas atividades para fora do Brasil é uma abordagem sólida e promissora."

A necessidade de um novo modelo de cooperação entre o Brasil e os Países Árabes foi a conclusão de Khaled Hanafy, secretário-geral da União das Câmaras Árabes, em relação ao fórum. "O desejado não é apenas aumentar [o volume de transações] do jeito que era antes, queremos uma transformação, passar de apenas exportações e importações para uma relação estratégica", definiu.

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