Congresso apresenta soluções para melhorar a eficiência na saúde

Evento da Associação Nacional de Hospitais Privados irá apresentar exemplos bem-sucedidos, no Brasil e no exterior, para tornar o sistema mais eficiente e acessível à população

São inúmeros os desafios para assegurar saúde de qualidade à população, mas há um consenso, no Brasil e nos países desenvolvidos, de que reduzir o desperdício é o primeiro passo para tornar o sistema mais eficiente e acessível.

Compartilhar experiências exitosas de gestão e debater ações contra o desperdício dentro das perspectivas assistencial, operacional e de governança são os principais objetivos do 6° Conahp, Congresso Nacional de Hospitais Privados, que será realizado nos dias 7, 8 e 9 de novembro no Hotel Sheraton, na capital paulista. O tema do evento é justamente "Como o combate ao desperdício irá transformar o sistema de saúde."

"A proposta do Congresso é podermos conhecer experiências do que vem sendo feito no Brasil e no mundo e de como implantá-las de acordo com a realidade de nossas instituições", afirma Eduardo Amaro, diretor do Hospital e Maternidade Santa Joana e presidente do Conselho da Anahp.

Mais de 80 palestrantes nacionais e internacionais irão falar durante os três dias do evento, com os ingressos esgotados e que deverá receber mais de 2.000 convidados.

"Vamos reunir representantes de hospitais, laboratórios, seguradoras, indústria, governo e agência regulatória porque todos somos responsáveis e todos temos muito o que fazer", avalia Miguel Cendoroglo, superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein e presidente da Comissão Científica do Congresso.

Reunir todos os envolvidos na área para buscar soluções em conjunto é o primeiro passo para mudar um sistema de saúde tão complexo como o brasileiro, afirma o médico Ezekiel Emanuel, vice-reitor de iniciativas globais e presidente da Universidade da Pensilvânia, Departamento de Ética Médica e Política de Saúde, e um dos palestrantes internacionais do Congresso.

Segundo ele, é preciso implementar essas mudanças rapidamente já que os resultados só começam a aparecer após alguns anos. Um dos idealizadores do Obamacare, a ambiciosa reforma da saúde implantada por Barack Obama, o oncologista americano afirma que é preciso garantir a sustentabilidade econômica do sistema de saúde e uma das medidas é rever a prescrição de alguns medicamentos. "Hoje, há no mercado alternativas mais acessíveis de tratamento que beneficiam os pacientes da mesma forma que os medicamentos considerados inovadores e mais caros" afirma.

INTERNAÇÕES E EXAMES EM EXCESSO

Um dos marcos conceituais do Congresso deste ano é o estudo realizado pela OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que apontou os principais problemas na área da saúde e concluiu: há internações e exames desnecessários, excesso de burocracia, além de perdas causadas por erros e fraudes.

Principais causas do aumento de gasto no setor
Principais causas do aumento de gasto no setor

Martha Oliveira, diretora executiva da Anahp, afirma que o seminário não é voltado apenas aos hospitais, mas ao sistema de saúde como um todo. "Vamos abordar vários temas, como formação do profissional, medicina baseada em valor e processos de gestão. Mas o principal é que iremos dar exemplos práticos do que deu certo e do que pode melhorar", explica Martha Oliveira.
Segundo a diretora, uma das novidades do 6° Conahp serão as visitas monitoradas em hospitais de São Paulo, onde os participantes poderão conhecer projetos bem-sucedidos de gestão, de relacionamento com o paciente e de uso de novas tecnologias.

Novas tecnologias têm ajudado a reduzir os custos do sistema de saúde em todo o mundo. É o caso da telemedicina, tema que será abordado pelo espanhol Manuel Grandal, coordenador do Grupo de Trabalho de Telemedicina do Governo de Madri.

Segundo Grandal, o uso da videoconferência reduz custos com deslocamentos desnecessários e, principalmente, diminui a necessidade de implantar vários centros de excelência médica em uma mesma região. Em Madri, por exemplo, 10 hospitais de referência em neurologia atendem a 14 hospitais do entorno, que não possuem centros neurológicos.
No Brasil, a telemedicina ainda tem muito a avançar. Na Espanha, teve início em 2007 e hoje, afirma Grandal, o uso das videoconferências - em consultas e até em atendimentos de emergência - apresenta um nível de eficiência clínica similar ao das consultas presenciais.

A ideia do 6° Conahp, afirma Martha Oliveira, é que os convidados tenham a possibilidade de interagir mais com os palestrantes. "Estarão presentes no evento as principais lideranças do setor e precisamos estreitar nossas relações. É preciso diminuir a desconfiança entre operadoras e hospitais, por exemplo, porque essa desconfiança também acaba sendo custosa ao sistema", diz.
Durante o evento, também será apresentado um estudo encomendado pela Anahp, em que se registra um aumento de R$ 49 bilhões nos gastos na saúde suplementar de 2012 a 2017. O principal responsável por esse crescimento, com peso de 70% nesse valor, foi a frequência de uso dos serviços disponíveis.

Uma série de fatores contribui para esse resultado, afirma o presidente do Conselho de Anahp. Segundo Amaro, o setor precisa debater a entrega de valor para o paciente, com o melhor desfecho clínico. Esse aumento da frequência de uso de serviços traz embutido desperdícios, alguns desses gastos são desnecessários, fruto de utilização inadequada. "O principal motivo desse problema é a desorganização da cadeia de assistência, precisamos debater e enfrentá-lo. Atualmente temos uma assistência desorganizada, fragmentada, sem coordenação do cuidado e sem gestão", afirma Amaro.

Variação do gasto em saúde suplementar
Variação do gasto em saúde suplementar

Miguel Cendoroglo, presidente da Comissão Científica do Congresso, defende a discussão sobre a formação do profissional da área de saúde. "O médico precisa enxergar melhor o seu papel no sistema de saúde, saber trabalhar de forma interdisciplinar, ser o líder de uma equipe, agir como gestor", afirma o superintendente.

Ele e o presidente do conselho da Anahp concordam, também, que é preciso "desospitalizar" o sistema de saúde, diminuindo o número de idas dos pacientes aos hospitais e prontos-socorros. Isso, segundo os especialistas, ajuda a reduzir drasticamente os custos do sistema, possibilitando maiores investimentos em tratamentos que efetivamente contribuam para melhorar a qualidade de vida da população. "O diagnóstico está pacificado, agora é preciso ação. Por isso é tão importante reunirmos todas essas lideranças para iniciar essa mudança", conclui Martha Oliveira.