Teleaulas garantem calendário escolar no AM

Michel Mello/Secom-AM
Professora Sabrina Araújo grava aula de biologia

A geografia sempre foi um desafio para o sistema educacional do estado do Amazonas. O difícil acesso a alguns municípios, principalmente nas zonas rurais, somado à falta de professores especializados em determinadas matérias, exigia criatividade e empenho na hora de oferecer ensino a todos.

A solução foi o chamado ensino presencial mediado pela tecnologia: aulas são gravadas por especialistas em estúdios em Manaus e transmitidas pela TV ou via satélite para escolas em comunidades remotas, onde professores generalistas acompanham o desempenho dos alunos e os ajudam nas tarefas.

Quando a pandemia da Covid-19 obrigou o fechamento das escolas em todo o estado, a espinha dorsal para garantir a continuidade dos estudos a distância já estava de pé. Bastava adaptar o acesso.

"A nossa experiência com esse ensino presencial mediado pela tecnologia foi fundamental para que retomássemos as aulas rapidamente. Muito do conteúdo já estava desenvolvido. Então, fizemos um convênio com a TV pública (TV Encontro das Águas) para transmitir as aulas na TV aberta. Já estamos transmitindo em quatro canais abertos e vamos agregar mais um", afirma Luis Fabian, secretário de Educação do Amazonas.

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Técnico finaliza videoaula no Centro de Mídia do Amazonas

As aulas começaram para os alunos do ensino fundamental 2 (do sexto ao nono ano) e do ensino médio. Logo estarão disponíveis também para o fundamental 1. Chegam a alunos da capital, Manaus, e de mais quatro municípios, os mais populosos. A ideia é atingir 450 mil estudantes.

São cinco aulas por dia de 40 minutos cada, nas mesmas disciplinas que eram oferecidas pelos colégios em aulas presenciais.

Alunos com acesso à internet podem também assistir às aulas por meio do Facebook, Instagram ou na página da Secretaria da Educação.

Além disso, um aplicativo chamado Mano permite que tirem dúvidas com professores plantonistas. "Queremos que haja muita interação entre alunos e professores e que os estudantes utilizem ferramentas antes usadas apenas para o lazer, como as redes sociais, para continuar com o aprendizado", afirma Sabrina Araújo, gerente de mídias e conteúdo digital da Secretaria da Educação e também professora de biologia e ciências.

As aulas são gravadas no Centro de Mídia do Amazonas, que começou a operar em 2007 e conta com sete estúdios. Para o programa "Aula em Casa", são mais de cem profissionais, entre técnicos e professores.

Para deixar as aulas mais atraentes e mais didáticas, são usados vários recursos, como o chroma key (ao falar sobre um deserto ou sobre uma floresta, por exemplo, o professor pode aparecer como se estivesse nesse ambiente), animações em 2D e 3D ou realidade aumentada. "Incentivamos o professor a usar a imaginação e os recursos de estúdios de TV para conseguir a atenção do aluno", afirma Sabrina.

PROFESSORES ENGAJADOS

Os professores que deixaram de dar as aulas presenciais também então engajados no projeto. "Eles estão trabalhando remotamente, de suas casas. Acompanham seus alunos por meio de grupos de WhatsApp ou telefone. Ligam ou mandam mensagens lembrando os horários das aulas, passam trabalhos e tiram dúvidas", afirma o secretário da Educação. Esse acompanhamento e as interações têm ajudado muito, segundo alunos (leia texto ao lado).

A ideia é que, passada a necessidade de isolamento social, os alunos voltem para as escolas, e os professores façam a verificação de aprendizagem, por meio, por exemplo, de provas. Com isso, o calendário escolar poderá ser mantido, sem prejuízo para os alunos.

"Estamos sendo procurados por muitos estados que ainda não conseguiram desenvolver ferramentas para manter os estudantes ocupados e aprendendo neste período em que é preciso ficar em casa. Como a necessidade já nos havia obrigado a desenvolvê- -las, pudemos reduzir ao máximo o tempo em que nossos alunos ficariam ociosos. Além disso, conseguimos reaproximar a família toda do processo de aprendizagem dos filhos", afirma Fabian

"Com organização e vontade, dá para continuar aprendendo"

André Luiz Queiroz tem 17 anos, e a pandemia do coronavírus o pegou no ano em que precisa se preparar para o vestibular. Aluno do terceiro ano do ensino médio, pensa em cursar direito. O problema é que a necessidade de isolamento social o tirou das aulas no Colégio Militar. "Fiquei bastante preocupado. Imagine perder o ano", afirma o estudante, de Manaus.

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André Luiz Queiroz, de 17 anos, assiste à aula em sua casa

Desde o dia 20 de março, André está participando do programa "Aula em Casa". O conteúdo que teria em sala de aula, nas manhãs, agora chega pela televisão. "Eu criei uma rotina de estudos. Além das aulas pela TV, reservo ao menos mais três horas por dia para fazer exercícios em livros didáticos, ler e fazer pesquisas sobre as matérias na internet. Não é a mesma coisa que estar com os professores e os colegas ao lado, mas, se a gente se organizar, se tiver vontade, dá para continuar aprendendo", diz.

A tecnologia também está ajudando. "A gente usa o aplicativo para ter acesso aos professores. Além disso, há muitos grupos no WhatsApp. Os professores também estão usando o WhatsApp. Há pouco, concluí um trabalho e mandei a foto dele para o professor."

Patrícia Queiroz, mãe de André, disse que teve muito medo de o filho perder o ano. "Com a pandemia, não podemos fazer muita coisa. Não dá para matricular em um cursinho pré-vestibular. Ainda bem que criaram esse modelo de aula em casa."

Contadora autônoma, Patrícia tem um outro filho, de 14 anos, que também está no programa "Aula em Casa". "A gente tenta ajudar no que pode. E aproveita umas aulas também. Elas não são maçantes, ao contrário. Dá para rever aquilo que aprendemos há bastante tempo", diz.

Para André, a ajuda dos familiares é fundamental. "A gente tem que buscar o aprendizado onde ele estiver. Nas aulas, nos livros, na internet e também com os pais e outros familiares. O importante é aproveitar o tempo da melhor maneira possível."

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