Temas como colonização e crítica a crendices marcam peças em primeiro dia do Festival de Curitiba

Foi em 2014 que o ator Renato Livera começou a trabalhar com a temática presente em "Colônia", primeira peça aberta ao público da Mostra oficial de espetáculos da 27ª edição do Festival de Curitiba.

Apresentado na quarta (28) e nesta quinta (29), no espaço Grupo Obragem de Teatro, o monólogo parte do livro "Holocausto Brasileiro". Nele, a jornalista Daniela Arbex escreve sobre a crueldade vivida pelos pacientes do extinto manicômio Colônia, em Barbacena (MG). Em cena, porém, este evento histórico é uma das camadas da dramaturgia, que explora as formas de acepção da palavra colônia.

Divulgação/Estúdio Folha
Renato Livera, protagonista em Colônia

"É um prato cheio ter existido no Brasil, um país que ainda sofre um mal-estar por sua colonização, um manicômio chamado Colônia onde mais de 60 mil pessoas foram mortas", diz o dramaturgo Gustavo Colombini. "Hoje se fala muito em colonização e descolonização. Nosso contato com o livro fez com que pudéssemos reinterpretar a palavra colônia, abordando-a de uma forma não ortodoxa", completa.

A direção de Vinicius Arneiro seguiu pela investigação de um teatro de conferência no qual Livera é uma espécie de palestrante. "Ele começa elaborando de forma lógica alguns conceitos até que essa exposição vai adquirindo humanidade e se tornando uma vivência com o próprio público", afirma o ator que pela primeira vez, em 20 anos de carreira, faz um solo.

Na noite de quarta (28) também teve a primeira apresentação de "Manual de Autodefesa Intelectual", montagem da Kiwi Companhia de Teatro que já realizou três temporadas em São Paulo. A peça poderá ser vista novamente na quinta (29), no teatro Sesc da Esquina.

Com roteiro e direção de Fernando Kinas, o espetáculo dá continuidade à pesquisa estética do grupo, que trabalha com textos não dramáticos, em um terreno próximo ao do teatro documental, e à discussão de temas sociais.

Nos 30 quadros de "Manual de Autodefesa Intelectual", a Kiwi aborda o que Kinas chama de "adestramento para a credulidade". Ou seja, como a população está exposta a mecanismos sociais, caso da mídia, das religiões e da escola, que a conduz a crer em determinadas coisas. "Problematizamos quem nos adestra, como e para quê", explica o diretor. "Usamos, por exemplo, números de mágica. A dinâmica da mágica resume bem esta ideia: quanto mais enganada é uma pessoa, mais bem-sucedido é o mágico", completa.

O diretor Gabriel Villela fez sua estreia nesta edição do Festival com "Hoje É Dia de Rock", no teatro Guairinha. Na montagem, que tem dramaturgia de José Vicente e interpretação de atores do Teatro de Comédia do Paraná (TCP), uma família deixa a pequena área rural onde vive, em Minas Gerais, para tentar a vida em uma cidade grande. Comandados por um pai sonhador e músico e por uma mãe que se preocupa com o sustento da família, os cinco filhos vão crescendo, mudando e tomando seus próprios rumos - assim, as relações familiares se transformam.

O espetáculo de José Vicente também trata do choque das culturas brasileira e estrangeira, refletido na trilha sonora do musical: tudo começa com "Bola de Meia, Bola de Gude", de Milton Nascimento, e chega até os Beatles e Elvis Presley.

Villela também participa da 27ª edição do Festival com "Boca de Ouro" nos dias 31/3 e 1°/4.

Para encerrar o primeiro dia de festival, a garagem do Guairinha recebeu, às 23h, "Salomé by Fausto Fawcett", peça escrita pelo artista Fausto Fawcett a partir da tragédia do autor inglês Oscar Wilde.

Friccionando literatura, teatro e música, o segundo trabalho da Cia. de Teatro do Urubu provoca no público uma experiência sensorial. Em um mundo paralelo orquestrado por ironia e barbárie, os personagens instauram uma luta pela sobrevivência.

"Há uma sensação de vazio após uma série de sobreposições de discursos. O que resta depois que você pede a cabeça de alguém e ela te é dada?", comenta a diretora Carolina Meinerz. O espetáculo também fica em cartaz na quarta (29), no mesmo horário e local.

Além desses espetáculos, "Dança Sinfônica + Gira", programa coreográfico do Grupo Corpo, também foi apresentado na terça (28).

O Festival

Neste ano, mais de 400 atrações artísticas e culturais irão passar por cerca de 90 espaços de Curitiba e da região metropolitana. Durante 13 dias (27/3 a 8/4), a maratona cultural oferece espetáculos de teatro e de dança, shows de stand-up, musicais, palestras, oficinas e programações infantil e gastronômica. Artistas como Denise Stoklos, Denise Fraga, Caio Blat, Renata Sorrah e Malvino Salvador sobem ao palco.

A venda dos ingressos será pelo site www.festivaldecuritiba.com.br, pelo aplicativo "Festival de Curitiba 2018" e nas bilheterias oficiais do evento, no ParkShoppingBarigüi (Seg. a sex.: 11h às 23, sáb.: 10h às 22h e dom.: 14h às 20h) e no Shopping Mueller (Seg. a sáb.: 10h às 22h e dom.: 14h às 20h). Três espetáculos da Mostra 2018 estão com ingressos esgotados: "Grande Sertão: Veredas", "Preto" e "A Visita da Velha Senhora".

Programação

Saiba o que assistir na Mostra oficial

QUINTA (29/3)

14h - "The Machine to Be Another/A Máquina de Ser Outro"
Direção: Philippe Bertrand e Alessandra Vidotti. Desenvolvimento: BeAnotherLab.
Cia Brasileira de Teatro - r. José Bonifácio, 135, Largo da Ordem

19h - "Colônia"
Dramaturgia: Gustavo Colombini. Direção: Vinicius Arneiro. Com: Renato Livera.
Grupo Obragem de Teatro - al. Júlia da Costa, 206, São Francisco

21h - "Dança Sinfônica" e "Gira"
Direção: Paulo Pederneiras. Com: Grupo Corpo.
Guairão - Auditório Bento Munhoz da Rocha - r. 15 de novembro, 971, Centro

21h - "Domínio Público"
Com: Elisabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz.
Teatro da Reitoria - r. 15 de Novembro, 1299, Centro

21h - "Manual de Autodefesa Intelectual"
Dramaturgia e direção: Fernando Kinas. Com: Fernanda Azevedo, Maíra Chasseraux, Maria Carolina Dressler e Vicente Latorre.
Teatro Sesc da Esquina - r. Visconde do Rio Branco, 969, Centro

23h - "SALOMÉ by Fausto Fawcett"
Dramaturgia: Fausto Fawcett. Direção: Carolina Meirnez. Com: Anderson Caetano, Carolina Meinerz, Gustavo Gusmão e outros.
Garagem do Guairinha - r. Amintas de Barros, s/nº, Centro

SEXTA (30/3)

14h - "The Machine to Be Another/A Máquina de Ser Outro"
Direção: Philippe Bertrand e Alessandra Vidotti. Desenvolvimento: BeAnotherLab.
Cia Brasileira de Teatro - r. José Bonifácio, 135, Largo da Ordem

21h - "Domínio Público"
Com: Elisabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz.
Teatro da Reitoria - r. 15 de Novembro, 1299, Centro

21h - "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas"
Dramaturgia: Tiago Rodrigues. Direção: Thomas Quillardet. Com: Maloue Fourdrinier, Marc Berman, Christophe Garcia, Jean-Toussaint Bernard.
Teatro Guairinha - Auditório Salvador de Ferrante - r. 15 de Novembro, 971, Centro

Espaço Pago