"Meu Passado Não Se Apaga" junta pesquisas históricas e cultural para falar sobre raízes africanas

A carioca Companhia Resenha Teatral - CRT resolveu falar de um assunto antigo, mas ainda bastante atual: "Meu Passado Não Se Apaga - Ubuntu: Sou o que Sou pelo que Somos", apresentado no Fringe do Festival de Teatro de Curitiba, trata das origens negras da maioria dos brasileiros e do preconceito em relação a essas raízes.

Fábio Souza/Estúdio Folha
Meu Passado Não Se Apaga - Ubuntu: Sou o que Sou pelo que Somosse tem preconceito como tema central

"Eu sempre tive vontade de falar sobre o poema "Navio Negreiro", de Castro Alves. Depois, começamos a conversar com o nosso grupo e falamos sobre origens e introduzimos dança e mitologia africanas. "Meu Passado Não Se Apaga" surgiu assim", conta a diretora Carol Araujo.

A trama acompanha um grupo de negros que vive em uma tribo africana - nas primeiras cenas, a cultura, a dança, as vestimentas e a música do local são representadas. Um dia, porém, um branco os sequestra e os coloca a bordo de um navio negreiro, rumo ao Brasil e à escravidão.

A CRT precisou enfrentar um problema técnico grave na primeira apresentação do espetáculo, na tarde de quarta (28/3): a região do Portão Cultural, local da sessão, sofreu um blecaute e ficou sem energia elétrica. Sem se abalar, o elenco apresentou a peça em um local improvisado, perto da rua. Mesmo sem os recursos de luz e som, "Meu Passado Não Se Apaga" foi intenso. Quem comprou ingressos para esta sessão, a R$ 20, pode retornar nas próximas: na quinta (29/3), às 17h e às 21h, ou na sexta (30/3), às 17h.

ORIGENS OCULTAS

A atriz Maria Carol Leguede destaca a importância da cultura africana. "Ninguém fala muito de mitologia africana, porque isso evoca religião, orixás, e existe um preconceito sobre isso. Mas esse preconceito não existe, por exemplo, quando falamos de mitologia grega, que também tinha fundo religioso".

"Minha família tem origem negra", diz Carol Araujo. "Mas dentro da minha própria família havia preconceito, porque minha mãe dizia que meu bisavô era "moreno". A palavra "negro" nunca era usada".

"É um processo muito vagaroso", afirma Maria Carol. "As pessoas ainda estão se aceitando como negras". Segundo ela, a onda de conservadorismo e o preconceito que ainda resiste têm seu lado bom. "Acho que o discurso de ódio, ao menos, faz as máscaras caírem".

TEATRO ACESSÍVEL

Parte do Festival de Curitiba, o Fringe chega à 21ª edição com 372 espetáculos, vindos de vários Estados do Brasil, além de Portugal, Chile, Uruguai e Colômbia.

Diferentemente dos espetáculos selecionados para a Mostra, as peças do Fringe não passam por curadoria e participam de forma espontânea.

Do total de espetáculos que integram o Fringe, 96 são gratuitos 46 participam do sistema "pague o quanto vale", no qual o espectador decide o quanto quer pagar pelo ingresso.

O Festival de Teatro de Curitiba tem patrocínio da Cielo, Vivo, Denso do Brasil, Uninter, Copel Telecom, Sanepar, Governo do Estado, Ebanx, Tradener Comercialização de Energia, GRASP e Renault do Brasil. O aplicativo de mobilidade oficial do evento é Uber.

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