Apesar do feriado de Páscoa, a programação da 27a edição do Festival de Curitiba segue intensa. Na sexta (30), o espetáculo francês "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas", com a companhia 8 Avril, fez sua estreia no Brasil no teatro Guairinha. No sábado (31) houve uma última sessão no mesmo endereço.
A peça, aclamada no ano passado no Festival de Avignon, na França, mostra o mundo, suas crises e acontecimentos sociais e políticos pelo olhar de uma menina de nove anos."Isso sempre nos remeteu a uma grande liberdade, porque o imaginário de uma criança é bem mais forte. Para ela, tudo pode", afirma o ator e diretor Thomas Quillardet, também responsável pela tradução francesa da dramaturgia do português Tiago Rodrigues.
A trama é conduzida por uma garota apelidada de Girafa, pois é alta para a sua idade. Apesar dos poucos anos, ela precisa lidar com problemas de gente grande: a mãe morreu há pouco tempo, e o pai está desempregado. A luz e a TV a cabo são cortadas devido aos pagamentos pendentes.
O que importa para a criança é que o canal Discovery Channel não está mais disponível. Ela decide, então, sair às ruas de Lisboa para tentar encontrar um modo de arranjar o dinheiro. A sua única companhia é seu ursinho de pelúcia, Judy Garland, bastante mal humorado e boca suja - só a menina consegue vê-lo e ouvi-lo.
Durante este dia, a protagonista passa por uma série de acontecimentos que a fazem crescer. "O texto não deixa claro se é sonho ou verdade. Pode ser que ela nunca tenha saído do quatro. Nós preferimos acreditar que é real porque ela não poderia ter crescido tão rápido se não tivesse de fato tido contato com a realidade", expõe Quillardet.
Crianças a partir de 10 anos e adultos podem assistir a "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas", que é falada em francês, mas com legendas em português. "O texto conversa com o lado adulto da criança e com o lado infantil do adulto", diz o diretor.
A programação da sexta (30) da mostra oficial de espetáculos do Festival também incluiu a segunda apresentação de "Domínio Público", no teatro da Reitoria. A peça reúne quatro artistas que nos últimos meses foram foco de debates sobre expressão artística, liberdade e censura: Maikon K, Renata Carvalho, Wagner Schwartz e Elisabete Finger.
A montagem, porém, não busca colocar em cena estes acontecimentos. "Queremos falar a partir dessas histórias, mas não sobre elas", diz a performer e coreógrafa Elisabete Finger.
Em uma espécie de "peça-palestra", os quatro artistas falam sobre "Mona Lisa", de Leonardo Da Vinci. De forma sutil, cada um deles relaciona a clássica obra às desagradáveis polêmicas que os cercaram no passado.
O dia também foi de estreia para a terceira edição do Curitiba Mostra, realizada este ano em paralelo ao Festival. Até 7/4, serão 28 apresentações gratuitas, entre espetáculos teatrais, shows, performances e encontros literários, no Espaço Fantástico das Artes e arredores. A mostra é idealizada pela atriz Nena Inoue, que celebra 40 anos de trajetória artística com uma festa no fim do evento
"Sempre achei brega isso de comemorar os anos de carreira. Mas entendi que fazer 40 anos de teatro é uma forma de resistência. A celebração acabou virando uma festa porque quero que as pessoas se contaminem desse espírito de que é possível dar certo fazendo teatro", diz Nena Inoue.
Divulgação/Estúdio Folha | ||
Nena Inoue, idealizadora do Curitiba Mostra |
A programação deste ano tem como eixo "os excluídos". A temática aparece tanto como discurso nos trabalhos, caso de "Inferninho Cabaret", peça escrita por Dalton Trevisan, quanto na própria realidade pessoal dos artistas que se apresentam. Nos dias 1o e 7/4, por exemplo, cerca de 80 jovens da periferia participam de um cortejo literário no centro, com rap, hip-hop e poesia.
O solo de Nena, "Para Não Morrer", com o qual conquistou, no ano passado, o troféu Gralha Azul de melhor atriz, também estará em cartaz. Nele, ela é uma narradora que conta histórias de luta de mulheres que deram sua vida pela liberdade e pela justiça.