Um dos principais eixos do trabalho de Guilherme Webber e Márcio Abreu, curadores da 27ª edição do Festival de Curitiba, são os espetáculos coproduzidos.
Este ano, há quatro trabalhos neste formato: "Domínio Público", "Denise Stoklos em Extinção", "A Ira de Narciso" e "Se o Título Fosse um Desenho, Seria um Quadrado em Rotação".
"Domínio Público" foi o primeiro deles a estrear. A apresentação aconteceu na quinta (29), no teatro da Reitoria, e pôde ser vista novamente na sexta (30). A peça reúne quatro artistas que nos últimos meses foram foco de debates sobre expressão artística, liberdade e censura: Maikon K, Renata Carvalho, Wagner Schwartz e Elisabete Finger.
Divulgação/Estúdio Folha | ||
Domínio Público usa sutileza para falar sobre a relação entre polêmica e arte |
Maikon ficou conhecido como "o homem nu da bolha", preso em Brasília por estar nu em sua performance; Renata, como "a travesti que interpreta Jesus"; Wagner como "o homem nu do MAM"; e Elisabete como "a mãe do MAM" (que permitiu que sua filha tocasse o tornozelo do homem nu).
A montagem, porém, não busca colocar em cena estes acontecimentos. "Queremos falar a partir dessas histórias, mas não sobre elas", diz a performer e coreógrafa Elisabete Finger.
Em uma espécie de "peça-palestra", os quatro artistas falam sobre "Mona Lisa", de Leonardo Da Vinci. De forma sutil, cada um deles relaciona a clássica obra às polêmicas que os cercaram no passado.
"Mona Lisa" ficou anos no museu do Louvre, mas só foi reconhecida após ser roubada por um italiano -foi a comoção que o incidente causou no público que a fez famosa. O texto também trata de outros aspectos da obra, como a teoria de que Mona Lisa poderia ser um homem (ou ser uma figura híbrida entre homem e mulher), o fato de que a obra foi atacada ao longo dos anos e precisou ser protegida por vidros e a possibilidade de que Mona Lisa estava grávida ao posar para Da Vinci.
Maikon, Renata, Schwartz e Elisabete receberam o convite do Festival de Curitiba para criar um espetáculo em conjunto. "A primeira ideia que tivemos era abrir o microfone para a plateia, mas percebemos que repetiríamos todas as coisas que já foram ditas", contou Elisabete em um debate que seguiu a primeira apresentação da peça, na quinta (29).
Segundo os artistas, a ideia de falar sobre "Mona Lisa" veio quase por acaso. Por exigência do Festival, eles tinham que enviar rapidamente um título, uma sinopse e uma imagem sobre o espetáculo. Escolheram o nome "Domínio Público", pelo que foi feito de suas próprias obras: cortadas, editadas e divulgadas na internet sem o consenso dos artistas. E pensaram em "Mona Lisa" para ilustrar, pois é uma obra amplamente popular e reproduzida. Decidiram, então, escrever sobre a obra de Da Vinci e relacioná-la indiretamente às suas experiências.
Na época do convite do Festival, afirmam os artistas, eles ainda estavam tentando lidar com toda a repercussão de suas obras. Quando finalmente se reuniram para criar o espetáculo, contudo, os assuntos já tinham virado velhos na internet. Atualmente, conseguem lidar e responder melhor a tudo isso.
"Como "Mona Lisa", eu também quis ter uma redoma de vidro, pois recebi cerca de 150 ameaças de morte", diz Schwartz. "Tive medo de vir ao teatro e levar um tiro. Para mim, seria mais fácil ter um vidro blindado para me proteger. Hoje, não preciso mais do vidro. Essa é minha resposta."
Maikon K. afirma que a intenção não é parecer um mártir da cultura nacional. "Tampouco a salvação e nem a resposta da cultura em 2018", completa Renata.
O que eles querem é aprofundar o diálogo. "Problematizar e levantar uma discussão real, entre pessoas reais que se encontram em uma sala. Conversar por meio de corpos e não através de uma tela", expõe Elisabete.
Além de "Domínio Público", a programação de quinta (29) da Mostra oficial contemplou as segundas, e últimas, apresentações de "Colônia", "Dança Sinfônica + Gira", "Manual de Autodefesa Intelectual" e "Salomé by Fausto Fawcett". A instalação interativa "The Machine to be Another/A Máquina de Ser Outro", que convida o público a se colocar na pele do outro, segue até 3/4, no espaço da Cia Brasileira de Teatro.
O dia também teve atividades das Interlocuções, segmento do Festival que busca intensificar a troca de ideias entre artistas e público. Na Casa Quatro Ventos, Marcos Steuernagel ministrou uma palestra sobre performance e política no Brasil contemporâneo.
PROGRAMAÇÃO
Saiba o que assistir nos próximos dias na Mostra oficial
SEXTA (30/3)
14h - "The Machine to Be Another/A Máquina de Ser Outro"
Direção: Philippe Bertrand e Alessandra Vidotti. Desenvolvimento: BeAnotherLab.
Cia Brasileira de Teatro - r. José Bonifácio, 135, Largo da Ordem
21h - "Domínio Público"
Com: Elisabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz.
Teatro da Reitoria - r. 15 de Novembro, 1299, Centro
21h - "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas"
Dramaturgia: Tiago Rodrigues. Direção: Thomas Quillardet. Com: Maloue Fourdrinier, Marc Berman, Christophe Garcia, Jean-Toussaint Bernard.
Teatro Guairinha - Auditório Salvador de Ferrante - r. 15 de Novembro, 971, Centro
SÁBADO (31/3)
14h - "The Machine to Be Another/A Máquina de Ser Outro"
Direção: Philippe Bertrand e Alessandra Vidotti. Desenvolvimento: BeAnotherLab.
Cia Brasileira de Teatro - r. José Bonifácio, 135, Largo da Ordem
21h - "Tristeza e Alegria na Vida das Girafas"
Dramaturgia: Tiago Rodrigues. Direção: Thomas Quillardet. Com: Maloue Fourdrinier, Marc Berman, Christophe Garcia, Jean-Toussaint Bernard.
Teatro Guairinha - Auditório Salvador de Ferrante - r. 15 de Novembro, 971, Centro
21h - "Boca de Ouro"
Dramaturgia: Nelson Rodrigues. Direção: Gabriel Villela. Com: Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio, Mel Lisboa e outros.
Guairão - Auditório Bento Munhoz da Rocha - r. 15 de novembro, 971, Centro
21h - "Cidadão Instigado 20 Anos"
Com: Cidadão Instigado.
Teatro da Reitoria - r. 15 de Novembro, 1299, Centro