Com Renata Sorrah e Grace Passô, peça da Cia. Brasileira discute racismo no Festival de Curitiba

05/04/2018 09h28

Nesta quarta (4/4), a mostra oficial de espetáculos da 27º edição do Festival de Curitiba estreou em sua grade a peça "Preto". Mais recente trabalho da Companhia Brasileira de Teatro, o espetáculo, que já teve temporadas em São Paulo e no Rio, é um desdobramento de "Projeto Brasil", apresentada em 2015.

A dramaturgia de Márcio Abreu, também diretor do espetáculo, Grace Passô e Nadja Naira é articulada a partir da fala pública de uma mulher negra.

	Nana Moraes/Divulgação

	Espetáculo Preto aborda racismo

Em "Preto", os atores e atrizes Renata Sorrah, Grace Passô, Cássia Damasceno, Felipe Soares, Nadja Naira e Rodrigo Bolzan buscam estabelecer uma série de diálogos utilizando vídeo, microfones e trilha sonora ao vivo, executada pelo músico Felipe Storino.

A montagem é uma espécie de conferência sobre questões que envolvem racismo. Ela promove uma investigação a respeito da rejeição das diferenças na sociedade contemporânea e sobre a busca pelo entendimento de identidades. "Eu não sei falar sobre mim. Mas sei falar sobre o que me atravessa. E me atravessa aquela garota erguendo a carteira da escola no meio da rua. Aquela mulher esbravejando com o policial", diz um trecho da peça.

O dia também contou com as últimas apresentações dos espetáculos "Cabaré Macchina", "Doze Flores Amarelas" e "Insetos" e da experiência "Frequência Ausente - 19Hz".

Em "Cabaré Macchina", a Selvática, companhia curitibana que há seis anos investiga a linguagem do cabaré, leva para rua seu mais novo trabalho, que teve participação da cantora Karina Buhr. A peça costura textos do dramaturgo alemão Heiner Müller. Na trama fragmentada, figuras cabalerescas por vezes vivem personagens como Hamlet e Medeia. "O que nos interessa é a releitura desses clássicos numa perspectiva de cabaré, trazendo os corpos politicamente para a rua", diz o diretor Ricardo Nolasco.

Já "Doze Flores Amarelas", outra montagem marcada pela música, a banda paulistana Titãs toca 25 canções inéditas em uma ópera rock. Ela conta a história de três meninas que usam um aplicativo chamado Facilitador, uma espécie de oráculo que dá respostas a perguntas. Guiadas por ele, as garotas acabam sendo enganadas e violentadas por cinco colegas de faculdade.

É a primeira vez que Branco Mello, Tony Belloto e Sérgio Britto, já conhecidos por tratarem de assuntos atuais em suas canções, criam músicas para personagens e trabalham com elementos teatrais. "No disco "Nheengatu" (2014), nós já falamos sobre racismo, homofobia, violência contra a mulher", diz Britto. "Continuamos instigados a compor inspirados por coisas diferentes, que não são óbvias. Sempre fizemos um pouco a crônica do nosso tempo e não queremos abrir mão disso".

Com "Insetos", a Cia dos Atores celebra 30 anos de trajetória. Com texto de Jô Bilac e direção de Rodrigo Portella, a peça traz quatro fundadores da companhia carioca no elenco: Cesar Augusto, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e Susana Ribeiro. Em cena, o universo humano é atravessado por insetos num espetáculo composto de 12 quadros independentes. Fabulesco, eles trazem, por exemplo, gafanhotos que aparecem num resort para destruir tudo e baratas ativistas que acabam pisoteadas.

Em "Insetos", que utiliza o recurso de audiodescrição como forma de aproximar ainda mais o público, o grupo aprofunda sua pesquisa cênica que tem como pilares, entre outros aspectos, trabalho físico, musicalidade e humor.

Por fim, em "Frequência Ausente - 19Hz", realizada na Casa do Damaceno, a paulistana ExCompanhia de Teatro propõe que o espectador saia às ruas de Curitiba sendo guiado por fones de ouvido conectados ao smartphone.

Com concepção, direção e dramaturgia de Gustavo Vaz e de Bernardo Galegale, o espetáculo é baseado no romance "A Náusea", de Jean Paul-Satre. Na trama, um ator se prepara para apresentar um monólogo inspirado no livro, mas ninguém vai assistir.
Sem público, ele vaga sem rumo pelas ruas da cidade e se desmaterializa. Um ano depois, o homem volta à cidade para contar o que aconteceu com ele - é esse relato que os espectadores de "Frequência Ausente - 19Hz" vivenciam.

À trajetória do personagem, unem-se curiosidades e fatos históricos da cidade onde o espetáculo é apresentado. "Em cada cidade, tentamos coletar a memória local e a história, para entender o que é viver naquele lugar e o que ele representa para as pessoas", afirma Gustavo Vaz.

PROGRAMAÇÃO
Saiba o que assistir nos próximos dias na Mostra oficial

QUINTA (5/4)

17h30 - "Se o título fosse um desenho, seria um quadrado em rotação"
Concepção e condução: Eleonora Fabião.
Casa Hoffmann - r. Doutor Claudino dos Santos, 58, São Francisco

21h - "Denise Stoklos em Extinção"
Dramaturgista: Ricardo Goldenberg. Direção: Denise Stoklos, Francisco Medeiros e Marcio Aurelio. Com: Denise Stoklos.
Teatro Guairinha - Auditório Salvador de Ferrante - r. 15 de Novembro, 971 Centro

21h - "Preto"
Dramaturgia: Marcio Abreu, Grace Passô e Nadja Naira. Direção: Marcio Abreu. Com: Cássia Damasceno, Felipe Soares, Grace Passô, Nadja Naira, Renata Sorrah e Rodrigo Bolzan.
Teatro José Maria Santos - r. Treze de Maio, 655 São Francisco

21h - "INOAH"
Direção: Bruno Beltrão. Com: Bruno Duarte, Cleidson De Almeida 'Kley', Douglas Santos, Igor Martins, João Chataignier e outros.
Teatro da Reitoria - r. 15 de Novembro, 1299, Centro

21h - "Suassuna - O auto do Reino do Sol"
Dramaturgia: Bráulio Tavares. Encenação:Luiz Carlos Vasconcelos. Com: Adrén Alves, Alfredo Del Penho, Beto Lemos, Fábio Enriquez, Eduardo Rios, Renato Luciano e Ricca Barros.
Guairão - Auditório Bento Munhoz da Rocha - r. 15 de novembro, 971, Centro

21h - "A Ira de Narciso"
Dramaturgia: Sergio Blanco. Direção: Yara de Novaes. Com: Gilberto Gawronski.
Teatro Sesc da Esquina - r. Visconde do Rio Branco, 969, Centro

SEXTA (6/4)

21h - "A Ira de Narciso"
Dramaturgia: Sergio Blanco. Direção: Yara de Novaes. Com: Gilberto Gawronski.
Teatro Sesc da Esquina - r. Visconde do Rio Branco, 969, Centro

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