A 27ª edição do Festival de Curitiba chegou ao fim neste último fim de semana (7 e 8/03) com cinco espetáculos nacionais nos palcos.
"Grande Sertão: Veredas", a aguardada montagem que rendeu a Bia Lessa o prêmio Shell na categoria de melhor direção e a Caio Blat o troféu de melhor ator, foi apresentada no SEPT. A peça já passou por São Paulo e Rio.
Alexandre Nunes/Divulgação | ||
Peça "Grande Sertão Veredas" conta com Caio Blat no elenco |
Em cena, a saga do jagunço Riobaldo escrita por Guimarães Rosa é contada numa espécie de cenário-instalação. Durante as mais de duas horas de espetáculo, os dez atores permanecem todo o tempo em cena. Ali, são tudo: tanto os personagens do romance, como Riobaldo e Diadorim, quanto os elementos da natureza presentes no universo narrado pelo escritor.
O público acompanha com fones de ouvido, numa experiência imersiva e sensorial. Além de escutar as vozes dos atores, é possível ouvir uma partitura de sons da natureza.
"Guimarães é o primeiro escritor ecológico no sentido de colocar o homem fazendo parte da natureza. O espetáculo fala um pouco sobre esse respeito: ao outro, ao pensamento e à diferença", afirma Lessa.
Além de Caio Blat, que interpreta Riobaldo, o elenco traz nomes como Luisa Arraes e Luiza Lemmertz.
A Visita da Velha Senhora
A atriz Denise Fraga também subiu ao palco no último fim de semana de Festival. Ela, que participou da cerimônia de abertura no teatro Guaíra, voltou ao endereço para protagonizar "A Visita da Velha Senhora", no Guairinha.
Dirigida por Luiz Villaça, a montagem também tem no elenco os atores Tuca Andrada, Fábio Herford e Romis Ferreira, entre outros.
A comédia trágica escrita em 1956 pelo suíço Friedrich Dürrenmatt conta a história de uma milionária que promete salvar os cidadãos da falência. Em troca, porém, eles devem matar a sua paixão da juventude, um homem que a abandonou grávida por um casamento de interesse.
A montagem é uma continuação de uma linha de textos épicos aos quais Fraga vem se dedicando. Antes, ela montou "A Alma Boa de Setsuan" e "Galileu Galilei", ambas do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
"É quase como finalizar uma trilogia de nosso eterno dilema entre a ética e o ganha pão", diz a atriz, indicada ao prêmio Shell por sua atuação.
Tom na Fazenda
Também premiada, a peça "Tom na Fazenda", que fez temporada no Rio e realizou breve passagem por São Paulo, teve sessões no teatro da Reitoria. Idealizado pelo ator e produtor Armando Babaioff e dirigido Rodrigo Portella, o espetáculo foi indicado em cerca de 40 categorias dos principais prêmios de teatro do Brasil. Ele é baseado no original "Tom à la Farme", do autor canadense Michel Marc Bouchard.
José Limongi/Divulgação | ||
Peça "Tom Na Fazenda" foi Idealizada pelo ator e produtor Armando Babaioff |
Na história, após a morte do seu companheiro, o publicitário Tom vai à fazenda da família para o funeral. Ao chegar, ele descobre que a sogra nunca tinha ouvido falar dele e tampouco sabia que o filho era gay. O protagonista é, então, envolvido numa trama de mentiras criada pelo irmão do marido falecido.
Para Portella, a montagem vai além da discussão homossexual. "O texto também fala sobre intolerância e sobre a dificuldade de aceitar o que é diferente", comenta.
Corpo Sobre Tela
A aceitação de diferenças também guia outra produção apresentada no fim da 27ª edição do Festival. O espetáculo de dança "Corpo Sobre Tela" trouxe o dançarino Marcos Abranches, que tem paralisia cerebral.
Em seu solo, Abranches se inspira na vida e obra de Francis Bacon. Ele usa seu corpo como pincel para ilustrar as obras do pintor irlandês.
"Sou livre para o silêncio das formas, das cores na riqueza de pintar uma obra. Nossa sociedade trata o deficiente como coitado. Se me baseasse nesse tipo de pensamento, não colocaria os pés para fora de casa", diz.
Apresentada no Sesc da Esquina, a coreografia faz parte do Movva, recorte de apresentações de dança do Festival, em sua segunda edição neste ano.
O fim de semana teve, ainda, sessões de "Os Guardas do Taj". Dirigida por Rafael Primot e João Fonseca, a peça tem os atores Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi no elenco.
O espetáculo, que estreou em Portugal e fez breve passagem por São Paulo, foi apresentado no teatro Guaíra.
O texto do premiado dramaturgo Rajiv Joseph tem a lenda do Taj Mahal como pano de fundo para refletir sobre amizade, lealdade, subserviência e poder.
Na trama, dois amigos e guardas imperiais estão em pé e de costas para o ainda oculto Taj Mahal. Um é questionador e curioso, enquanto o outro é pura ortodoxia e obediência. Eles acabam, assim, se confrontando diante das regras impostas e exibindo formas distintas de ver o mundo.
O Festival
Neste ano, mais de 400 atrações artísticas e culturais passaram por cerca de 90 espaços de Curitiba e da região metropolitana. Durante 13 dias (27/3 a 8/4), a maratona cultural ofereceu espetáculos de teatro e de dança, shows de stand-up, musicais, palestras, oficinas e programações infantil e gastronômica. Artistas como Denise Stoklos, Denise Fraga, Caio Blat, Renata Sorrah e Malvino Salvador subiram ao palco.
Parceiros que fazem acontecer
O Festival de Curitiba é apresentado pela Cielo, com patrocínio da Vivo, Denso do Brasil, Uninter, Copel Telecom, Sanepar, Governo do Estado, Ebanx, Tradener Comercialização de Energia e GRASP. O Uber é o aplicativo de mobilidade oficial do evento.
Os eventos simultâneos -Guritiba, MishMash e Risorama- também contam com o apoio de parceiros importantes para levar a arte, cultura e entretenimento ao público.
O Guritiba é apresentado por Perkins Motores, Mili, Parati e Unimed Curitiba, com patrocínio da Caterpillar e New Holland e apoio da Peróxidos do Brasil e Brose do Brasil.
O Grupo Boticário, este ano, apresenta o MishMash, evento que tem também o patrocínio da Schattdecor.
O Risorama é apresentado pela Potencial Petróleo, Havan, Sistema Fiep e Madero. E este ano, o segmento de stand-up comedy do Festival de Curitiba tem também o apoio da Aveo Vision, da Ford Center e da FH.