A atriz e apresentadora Regina Casé voltou aos palcos após 25 anos com "Recital da Onça", apresentado pela primeira vez em um grande teatro na 28ª edição do Festival de Teatro de Curitiba. Antes de chegar ao Guairão (28/3 e 29/3), a montagem havia sido exibida em pequenas apresentações na Bahia.
Regina dá um tom familiar ao monólogo, cujo tema central é o medo. A história transcorre como uma conversa com o público que, mesmo em um grande teatro, chega a ser íntima. Em meio a confissões, divagações e explicações, a conversa entre atriz e plateia é recheada por textos de autores importantes da literatura brasileira, daí o "recital" do título.
A estreia intimista na Bahia não foi por acaso. "Trabalhei com Regina sempre como diretor de cinema e televisão, é minha estreia no teatro. Sou casado com ela há 23 anos e nunca a tinha visto no palco. Esse tempo todo eu dizia: faz alguma coisa, eu quero ver", conta Estevão Ciavatta, diretor do espetáculo ao lado de Hamilton Vaz Pereira. No final do ano passado, o casal foi passar dois meses na Bahia e pensou em criar algo para apresentar lá. "Aí veio a ideia de ser um recital. Mas começou como uma coisa muito pequenininha. Está sendo um desafio transpor de um lugar de cem pessoas para um lugar de 2.000."
Não há personagem. Regina fala dela mesma, de situações vividas e de pessoas que conhece. Assim, conta que recebeu um convite da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para fazer uma palestra sobre literatura brasileira de uma maneira mais "pop", a fim de aumentar o interesse por esse curso na universidade. O espetáculo seria uma parte da preparação, e, enquanto mostra ao público os textos escolhidos e pede ajuda sobre sua performance de palestrante, ela fala sobre a tensão da viagem e da passagem pela imigração, o frio severo do inverno norte-americano, sua carreira e seus medos. Em Curitiba, o roteiro foi adaptado para a inclusão de textos de dois autores paranaenses. "Acho que em uma temporada longa no Rio, em São Paulo, a gente pode mudar de um dia para o outro. Porque essa estrutura está se fortalecendo. Tem tanta coisa que a quente quer falar, tantas músicas que quer mostrar. E o público vai poder ir várias vezes, o que é ótimo", diz a atriz. A trilha sonora dialoga com os temas, incluindo canções da fadista portuguesa Amália Rodrigues e da banda curitibana Maxixe Machine, com sua mistura de punk rock e samba.
A escolha da literatura lida em cena é responsabilidade de Hermano Vianna, que, com Regina, criou a peça. "Uma das coisas de que eu gostava muito, um privilégio privado, era descobrir textos e pedir para a Regina ler, porque eu achava que o jeito que ela lia era muito especial, diferente. Então vários desses textos que fazem parte do recital acompanham nossa vida há muito tempo", afirma Vianna. O ritmo é bem conduzido, e é difícil apontar o que é roteiro e o que é improviso. A atriz conta que o público chega a duvidar de que se trata de um texto ensaiado: "Tem sido um prazer enorme quando alguém me pergunta, 'mas isso é você que tá falando ou é do texto?', que tem sido a pergunta mais recorrente. É uma pegadinha para aproximar, você pode ler isso aí, pode pensar isso aí. Isso faz parte da sua vida, não está numa estante, numa torre de cristal", reflete.
Há planos para que o espetáculo seja apresentado em outras cidades do país, porém, como em junho começa a preparação para a novela "Amor de Mãe", que deverá estrear no fim do ano na Globo, a ideia é começar a planejar as datas para após o término da trama, em 2020.
Festa aberta
Após passar pela mostra oficial do festival em 2018, a Casa Selvática voltou este ano para o Fringe, reunião de espetáculos independentes de curadoria. O coletivo curitibano selecionou 11 peças para a sua "Mostra de Artes Degeneradas", que abrange teatro, dança, performance e música, até o dia 31 de março, sempre no esquema "pague quanto puder". Apresentada nesta quinta-feira, "América" é protagonizada pelo ator e crítico Francisco Mallmann (também integrante dos Encontros Críticos do Festival). O artista aparece nu no palco lendo um texto cuja temática é o continente americano. "É uma obra para pensar sobre como devemos nos relacionar com essa América, mas também que América é essa. Aborda questões indígenas, colonização, descolonização e outros pontos", afirma Ricardo Nolasco, um dos artistas do coletivo. O espetáculo volta a ser apresentado nesta sexta (29/3), às 17h, na Galeria Julio Moreira.
Trocas afetivas
Ainda dentro do Fringe, a Mostra Artística Feijão Tropeiro reúne teatro e gastronomia na Sala Londrina. Quatro coletivos da região de Belo Horizonte se reuniram para trazer a Curitiba um pouco de arte, cultura, comida e cachaça típicas de Minas Gerais e esquentar público e artistas no friozinho que tem feito na capital paranaense. Além dos cinco espetáculos, há rodas de conversa e confraternizações em torno de um bom prato de feijão tropeiro, que sai por R$ 15 no almoço, em dias selecionados. "A cena artística mineira é um grande feijão tropeiro, pois há muita diversidade e vozes diferentes", afirma Bremmer Guimarães, da Plataforma Beijo, em uma referência à variedade de ingredientes da tradicional receita. Destaque entre os espetáculos, Projeto Maravilhas, com apresentações de 29/3 a 1/4, faz um recorte contemporâneo das potências e fragilidades das homossexualidades nos espaços urbanos.
Clube de comédia
Começou nesta quinta-feira a 16ª edição do Risorama, que segue até o dia 2/4, com shows de humoristas no Park Cultural, dentro do Parkshopping Barigui. "Esse vai ser o point da comédia stand up de novo. Ali vão se revelar novos talentos. E ali o público vai se reunir com os amigos para ver grandes nomes da comédia. Não é uma atração isolada, mas sim uma experiência para curtir com amigos", afirma Diogo Portugal, curador do evento. Alguns dos nomes famosos que vão passar por lá nos próximos dias são Danilo Gentili, Rafael Cortez e Rafael Portugal. Os ingressos custam R$ 70, mas quem for assistir às peças de stand up terá a chance de ganhar mais um par de entradas para o evento. É que a Potencial Petróleo, uma das patrocinadoras do Risorama, distribuirá nas filas flyers com QR codes, que valerão para um sorteio após os espetáculos.
Mostra especial
Dentro da programação principal, a quinta-feira teve também a estreia da Mostra Stavis - Damaceno na Caixa Cultural, em comemoração aos 15 anos da companhia curitibana. A primeira peça apresentada foi "Árvores Abatidas ou para Luis Melo", um monólogo da atriz Rosana Stavis, em que, ao participar de um jantar em homenagem a um famoso ator de teatro, a protagonista percebe que está em uma reunião de talentos medíocres. A peça, que volta a ser apresentada depois de três anos fora de cartaz, terá sessões até o dia 31/3, sempre às 19h. Os outros espetáculos são "Homem ao Vento" (29/3 a 31/3), "Psicose 4h48" (1/4 e 2/4) e Artista de Fuga (4/4 a 7/4).