Uma viagem aos coloridos anos 1970

Léo Aversa
Musical conta a história da criação da discoteca Frenetic Dancin Days
Musical conta a história da criação da discoteca Frenetic Dancin Days

As cores, a alegria e a liberdade dos anos 1970 são o atrativo de "O Frenético Dancin Days" (2/4 e 3/4), um espetáculo animado e dançante que traz a coreógrafa Deborah Colker pela primeira vez assinando a direção de uma peça teatral. O musical é parte da programação da mostra principal do Festival de Teatro de Curitiba.

Frenetic Dancin Days foi uma discoteca que existiu por quatro meses no Rio de Janeiro de 1976, idealizada pelo jornalista e produtor musical Nelson Motta ao lado da jornalista Scarlet Moon, do então produtor musical Leonardo Netto, do DJ Dom Pepe e do produtor teatral Djalma Limongi. O musical conta a história de sua criação, no shopping da Gávea, para atrair público ao local. Foram poucos meses, mas esse lugar de liberdade e até libertinagem, onde tudo era permitido, marcou época.

Com preços populares, a discoteca foi a primeira do país, trazendo ao Brasil a moda da disco music. Para isso, Motta passou alguns dias em Nova York, de onde trouxe um enorme globo espelhado e alguns discos de artistas que estavam fazendo sucesso na cena noturna norte-americana.

Ali passaram nomes como Marília Pêra (na época casada com Motta), Rita Lee e Cazuza. Foi no clube, também, que o grupo Frenéticas nasceu, formado por atrizes contratas para servir e entreter o público. "Foi um momento bom da década de 1970 que reverberou muito na cultura musical do Brasil. Era um espaço democrático onde as pessoas podiam ser o que quisessem, fazer o que quisessem, e onde a alegria não tinha limites", diz Érico Brás, intérprete de Dom Pepe. Além dele, outros 16 nomes compõem o elenco, incluindo Stella Miranda, atriz vencedora de diversos prêmios importantes do teatro brasileiro.

No palco, os atores revivem essa época com doses de nostalgia. Os números musicais embalam o público com músicas conhecidas como "Y.M.C.A" (Village People) e "Last Dance" (Donna Summer). As coreografias de Deborah Colker e Jacqueline Motta dão vontade de dançar junto, e os figurinos multicoloridos, criação de Fernando Cozendey, dão a sensação de uma viagem no tempo.

A autoria da peça é do próprio Motta e de Patrícia Andrade. Segundo Brás, "o espetáculo é muito fiel ao que aconteceu e também ao que não aconteceu, isto é, ao que fez parte do imaginário daquele lugar". Atualmente, o musical está em cartaz em São Paulo, no teatro Opus, até 28 de abril.

Psicose 4:48

Uma cadeira de rodas e uma cadeira branca. Uma em frente à outra. Uma lâmpada branca tubular, que pisca de vez em quando. Era este o cenário de "Psicose 4:48", texto da inglesa Sarah Kane montado pela companhia Stavis-Damasceno e exibido na última terça-feira (2) dentro do Festival de Teatro de Curitiba.

A peça foi encenada em um espaço na Caixa Cultural em que o público (55 pessoas; lotação esgotada) sentava em cadeiras que rodeavam os dois atores, Rosana Stavis e Eduardo Ramos. O local escuro é, de certa forma, dá ao espectador a impressão de estar dentro da mente da personagem, que parece passar por uma ebulição autodestrutiva.

Psicose 4:48 é a quinta (e última) peça escrita por Sarah Kane, que cometeu suicídio em 1999, quando tinha 28 anos. A depressão aguda, indomável, que leva alguém a tirar a própria vida, é o fio condutor da peça. Rosana, a paciente, despeja frases em um fluxo quase interminável, e fica difícil distinguir o que é real do que é imaginário. Ramos, o médico, intervém, tentando colocar a paciente de volta à consciência. Mas ele mesmo parece não saber se está com os dois pés no chão.

É uma peça aflitiva desde o início, quando o público é envolto por uma música eletrônica cheia de barulhos e texturas ("I Don't Know You People", do Orbital). E o encerramento, em que a personagem de Stavis sai de cena pelo meio do público, é feito apropriadamente ao som de "How to Disappear Completely", do Radiohead.

Festival para Todos

Neste 2019, o Festival de Teatro de Curitiba é produzido sob o mote "Festival para Todos". A expressão resume o espírito do evento, que consegue engajar público e patrocinadores no maior evento de artes cênicas da América Latina.

Uma das empresas que acreditam no festival é a Junto Seguros, que distribuiu mais de 250 pares de vale-ingressos aos seus colaboradores. "Decidimos que todos os colaboradores que quisessem ir a um espetáculo desta 28ª edição, iriam, e todos se manifestaram rapidamente", afirma o diretor de marketing, Ricardo Trunci.

O Festival de Teatro de Curitiba de 2019 foi responsável pela geração de 700 vagas diretas e 1.500 indiretas de trabalho. "Instigar uma cadeia de profissionais, de vários setores da produção cultural, em um projeto tão grande como o Festival de Curitiba, é uma tarefa diária que exige sensibilidade, empatia e encorajamento", afirma Fabíula Passini, coordenadora de produção do evento.

O Instituto Barigui se propõe a criar uma relação que dê suporte à comunidade, à cultura e ao meio ambiente. Destinou vale-ingressos para sorteios e ações de valorização dos colaboradores e para pessoas participantes de projetos sociais.

"Há muitos casos de pessoas que vão pela primeira vez ter essa experiência por conta do vale-ingresso", conclui a supervisora de sustentabilidade do Instituto, Andrea Silva.

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