Uma peça que nasceu do sofrimento, mas que não tem nada de sofrimento. "Tripas" é, na verdade, uma viagem à essência da relação entre pai e filho e, ainda, uma investigação sobre o lugar em que estamos e de onde viemos.
Dirigida e roteirizada por Pedro Kosovski, a peça, encenada no sábado (6) e no domingo no Festival de Teatro de Curitiba, é estrelada por Ricardo Kosovski, pai de Pedro. A ideia de fazer a montagem surgiu de uma viagem dos dois pelo Oriente Médio -e, por sua vez, a viagem é o resultado de um período difícil na vida de Ricardo.
Uma grave crise de diverticulite levou Ricardo a ficar internado em um hospital por nove meses (e a passar por três cirurgias). Depois da tormenta, em 2017, pai e filho decidiram embarcar em uma viagem de volta às origens, para conhecer de onde vieram. Foram, então, para Israel.
"Quando estávamos juntos no hospital, sentimos uma coisa. Percebemos que tínhamos de fazer um espetáculo, não sobre a doença, mas sobre ancestralidade, sobre fronteiras. Então a peça é uma resposta artística a uma situação radical da vida", conta Ricardo.
"Há vários modos de conhecer uma pessoa. Nós somos um pai e um filho que viajaram juntos por um mês, intensamente", relembra. "Quando estávamos fazendo a travessia de Israel para a Jordânia, em uma passagem feita a pé, num território que fica basicamente entre os dois países, o Pedro disse: 'Se levarmos um tiro, seremos socorridos pelos israelenses ou pelos jordanianos?'. É uma situação curiosa. A peça fala sobre isso, sobre essa fronteira misteriosa. Uma região pela qual queremos passar rápido."
O filho, Pedro, diz que se viu "em uma peregrinação, sem muito destino, à deriva. E esse ponto específico era uma região neutra da fronteira. Desértico, seca e muito tensa."
"Tripas" está em cartaz desde 2017. E, para Pedro, a história ainda não acabou. "Não é uma história com começo, meio e fim. A história está aqui (aponta para o pai), a criação não para."
Gastromix faz caldeirão de sabores
Lina Sumizono | ||
Gastronomix deste ano teve a curadoria do chef Celso Freire |
Um dos grandes sucessos do Festival de Teatro de Curitiba é a sua perna gastronômica. O Gastromix foi montado no sábado (6) e no domingo nos gramados do Museu Oscar Niemeyer. Neste ano, teve a curadoria do chef Celso Freire.
O Gastromix reuniu 17 nomes da culinária brasileira (e um do Peru, a chef Arlette Eulert), que prepararam pratos especiais para o evento, a preços populares. Outros cinco cozinheiros ficaram responsáveis pelas sobremesas, e ainda teve espaço para a venda de bebidas especiais (cervejas artesanais, drinques com gim). Em um palco, músicos animaram os presentes.
O preço dos pratos ficava entre R$ 10 e R$ 25. Por esses valores, era possível degustar, por exemplo, o arroz de polvo cacimba de Noronha, feito por Auricélio Romão, do restaurante Cacimba, de Fernando de Noronha, o nasi goreng de porco (espécie de arroz frito típico da Indonésia), preparado por Marcos Sodré, do Sawasdee, do Rio, e o pato confit e nhoque frito de Paulo Hruschka, da Tartuferia San Paolo, de Curitiba.
Monólogo expõe histórias de cadeirantes
Luciano Mallmann brincou durante encontro com a imprensa, antes da primeira apresentação da peça "Ícaro", no Festival de Curitiba, na sexta-feira (6). "Alguém me disse 'Luciano, você viu que tem uma pesquisa sobre células tronco que está superavançada?'. Eu respondi 'Não quero saber! Vamos esperar acabar a temporada da peça'."
Luciano é cadeirante (sofreu uma lesão medular em 2014) e há dois anos percorre o país com o monólogo "Ícaro", no qual encena seis histórias que têm como ponto em comum o ponto de vista de um cadeirante.
"Antes de qualquer deficiência, em cima da cadeira existe uma pessoa como qualquer outra. Não é um espetáculo de militância. São personagens que estão em cadeira de rodas e que têm suas histórias", diz.