Riqueza na água

Estado quer triplicar produção de peixe

Despesca na propriedade de Luiz Helder Bonfá, na cidade de Rio Preto da Eva

Até o final de 2018, total produzido deve atingir 60 mil toneladas, suprindo com sobra a demanda local

Atividade com baixíssima emissão de carbono, que não requer desmatamento e proporciona alto rendimento em pequenas áreas, a piscicultura é a base da Matriz Econômica Ambiental.

No ano passado, o Estado, que consome 40 mil toneladas de peixe por ano, produziu apenas 22,5 mil toneladas. Com a implantação da matriz, pretende atingir, já neste ano, 30 mil toneladas e chegar a 63 mil toneladas no ano que vem. Com isso, não precisará mais importar as 17 mil toneladas que traz anualmente dos Estados vizinhos.

Até 2030, deverão ser investidos R$ 4 bilhões no setor, elevando a produção para 200 mil toneladas/ano.

A ação do governo, tanto na implantação como na manutenção desse programa, é fundamental para atingir essas metas. A escavação dos viveiros, o fornecimento de alevinos (filhotes de peixes) e a assistência técnica são feitos gratuitamente pelo Estado. Já neste ano, serão escavados 10 mil novos viveiros, totalizando uma superfície de água de mil hectares.

A distribuição dos alevinos fica por conta de 17 Unidades de Produção de Alevinos, que são abastecidas por três centros de produção (leia ao lado). O Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas) se encarrega da assistência técnica permanente aos piscicultores.

Por meio da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam), o produtor tem acesso a financiamento para a compra de insumos (como o calcário, usado para regular o pH da água dos viveiros) e de maquinário (como aeradores, que elevam a oxigenação da água e a produtividade dos viveiros). O governo também estuda formas de subsidiar a ração e os outros insumos.

"O projeto de piscicultura foi trabalhado segundo a lei estadual da aquicultura, que aprimora as regras de licenciamento, garantindo a sustentabilidade do processo. Isso tem agilizado o trabalho e eliminado a burocracia. Outro ponto importante é que todos os projetos são implementados em áreas alteradas, tornando-as produtivas e sem a necessidade de se avançar sobre as florestas nativas", explica Tomás Sanches, secretário-adjunto da Sepa (Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura).

Mesmo com a escavação de novos tanques, a prioridade, diz Sanches, é aumentar a produtividade de quem já produz, além de identificar novos produtores, já que desta forma o percentual de sucesso tende a ser maior.

"O órgão de assistência técnica do Estado está presente nos 62 municípios do Estado e fará também a seleção dos produtores, priorizando terras que sejam planas, onde haja disponibilidade de água e cujos candidatos já tenham experiência no tema", diz José Maria Frade Júnior, gerente do Idam em Rio Preto da Eva.

O governo, por meio da ADS (Agência de Desenvolvimento Sustentável), faz o link entre a produção e o consumidor final. "A Matriz Econômica Ambiental prevê que o produtor tenha sempre garantida a venda de sua produção. A agência, com seu Balcão de Negócios, encontra o comprador e garante a colocação do peixe no mercado", diz Lissandro Breval, diretor-presidente da ADS.

Centros garantem suprimento de alevinos aos produtores

Para garantir o suprimento aos piscicultores do Amazonas, 17 UPAs (Unidades de Produção de Alevinos), localizadas em pontos estratégicos do Estado, distribuem os alevinos produzidos em três centros de pesquisa e produção.

Localizadas em Balbina (200 km ao norte de Manaus), Humaitá (sul do Estado) e Benjamin Constant (fronteira com o Peru), essas três estações suprem a demanda nas principais áreas de produção do Estado -na região do rio Madeira, no Alto Solimões e na região metropolitana da capital.

Operando plenamente, o CTPC (Centro de Tecnologia, Produção e Conservação de Recursos Pesqueiros), em Balbina, é hoje o principal produtor de alevinos para as UPAs. "Toda tecnologia empregada e gerada no centro é direcionada aos produtores, instituições e agentes ligados ao setor. O intuito é melhorar a produção dos piscicultores gerando renda, emprego e garantindo sustentabilidade e competitividade. Para isso, a sanidade, a genética, a nutrição e a preocupação com o ambiente são alguns fatores que colocamos como prioridade", explica o engenheiro de pesca e diretor do CTPC-AM, Geraldo Bernardino.

Para uma maior eficiência, o centro, em vez de distribuir alevinos a essas unidades, leva pós-larvas (que têm uma semana de vida), já que em um saco de 20 litros de água podem-se levar mil alevinos ou 100 mil pós-larvas.

Ao chegarem a uma das 17 UPAs, as pós-larvas vão para tanques, onde ficam por 30 dias, até se transformarem em alevinos, que são então entregues aos criadores.
Balbina produz atualmente 25 milhões de pós-larvas por ano e está capacitada para dobrar essa produção se houver demanda.

Com estruturas diferentes, piscicultores servem de modelo

Fabrícia Zamperline e Luiz Helber Bonfá são uma espécie de "garotos propaganda" da Matriz Econômica Ambiental do Amazonas. Piscicultores em Balbina e Rio Preto da Eva, respectivamente, têm estruturas totalmente diferentes em termos de produção. Mas ambos são usados pelo Idam como modelo para os piscicultores do Estado.

Fabrícia iniciou sua criação há quatro anos. Começou usando o tambaqui e mais tarde passou a produzir também matrinxã e pirarucu.

Sua propriedade, de quatro hectares, com cinco viveiros, tem o tamanho padrão das que integrarão a Matriz Econômica Ambiental, por isso é um exemplo perfeito para o Idam em suas ações de fomento à piscicultura.

Atualmente, um terço da renda de Fabrícia, que tem também um pequeno comércio na vila de Balbina, vem da criação dos peixes.

Com escala de produção diferente, Luiz Bonfá é outro parceiro do Idam. Produtor experimentador, viaja muito em busca de novas tecnologias.

Há 15 anos na piscicultura, produz atualmente 450 toneladas/ano de peixe em seus 20 hectares de superfície de água.

Sempre aberto a inovações e instruído pela Embrapa, instalou recentemente em todos os seus viveiros aeradores de água. Apenas com essa tecnologia, e sem nenhuma mudança no manejo dos peixes, aumentou sua produtividade de 7 toneladas de peixe por hectare para 18 toneladas por hectare.