Aprendizagem contínua garante aposentadoria ativa

Emiliano Capozzoli/ Estúdio Folha
O americano Tim Driver, fundador da RetirementJobs.com, durante palestra no XIV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros

Uma vida longa exige uma aprendizagem contínua em todas as fases. "Algumas coisas são simples, como usar o WhatsApp e o skype, mas existem outras habilidades mais complexas que precisaremos desenvolver para nos manter viáveis e empregáveis", diz o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, consultor do Grupo Bradesco Seguros para assuntos relacionados à longevidade.

Dados recentes do IBGE apontam o crescimento da expectativa de vida no Brasil, que passou a ser de 76,3 anos (72,8 anos para os homens e 79,9 anos para as mulheres). Em 1940, era de 45,5.

Uma longevidade sustentável significa mais tempo no mercado de trabalho e demanda qualificação para que isso aconteça. Um desafio para a população mais velha que pode ser visto também como oportunidade, não apenas de se aperfeiçoar, mas de fazer algo diferente: realizar um sonho que parecia impossível aos 30, transformar um hobby em atividade principal, voltar a estudar

"Fazer diferente" é o desejo da maioria dos adultos acima de 50 anos, nos Estados Unidos, que desejam voltar a trabalhar, segundo o empreendedor social norte-americano Tim Driver, que participou do XIV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, em São Paulo.

O evento reuniu em novembro pesquisadores e especialistas do Brasil e exterior para discutir a Aprendizagem ao Longo da Vida.

Driver é fundador da RetirementJobs.com, que recolocou 200 mil pessoas acima de 50 anos no mercado de trabalho. A empresa faz parte da holding agefriendlyventures.com, que promove educação profissional e suporte para os chamados "Grey Power" (adultos com mais de 50 anos).

"O mundo está mudando: estamos vivendo mais, com maior diversidade. E essa mudança atinge também o mercado de trabalho: novas áreas estão surgindo, e os setores existentes estão sendo totalmente transformados", afirma Driver. E completa: "Com o aumento da expectativa de vida e o avanço da tecnologia, a aposentadoria ativa é uma tendência mundial, com as pessoas permanecendo mais tempo nos seus empregos ou continuando no mercado de trabalho em outra atividade".

O especialista, que conta com 1,3 milhão de membros na agefriendlyventures.com, traçou cinco perfis do público mais velho que busca a aprendizagem contínua e a recolocação no mercado de trabalho.

1 - Os que decidem realizar um sonho antigo.
Driver cita o exemplo de uma executiva e mãe que sempre quis dar aulas e está fazendo mestrado em educação com esse objetivo.
"Esse grupo vê na aposentadoria a oportunidade de ir atrás de algumas paixões, explorar outras possibilidades e assumir coisas novas, transformando esse desejo em uma nova carreira. São pessoas com curiosidade e vontade de continuar a aprender, que veem na educação um fator fundamental para atingir novas metas", afirma Driver.

2 - Os que pretendem continuar na carreira, conquistando e aperfeiçoando habilidades para se tornarem mais competitivos.
"Uma parte dessas pessoas mais velhas quer crescer onde está, tem aspiração de subir para se tornar um líder, quer ser um catalizador na sua organização." De novo existe o interesse em saber mais, e a aprendizagem contínua é o caminho. Para se tornar ainda melhores naquilo que fazem, esse grupo foca na atualização.

3 - Os que querem desenvolver novas habilidades ou estudar para fazer algo diferente.
O ponto forte nesse grupo é o desejo de experimentar algo completamente diferente do que fez a vida toda. Driver cita o exemplo de um contador que decidiu fazer um curso de assistente de enfermagem.

4 - Os que querem empreender.
Nesse grupo entram os que pensam em abrir um negócio ou simplesmente gerenciar a própria carreira, para ter flexibilidade de horários e estabelecer as suas condições de trabalho.

5 - Os que desejam desenvolver um trabalho social ou comunitário.
O exemplo é uma mulher que tinha a aspiração de devolver à comunidade tudo o que teve a oportunidade de aprender. Ela fez um mestrado em gerontologia e se concentrou nessa causa específica: tornar a idade madura mais fácil para a sua comunidade.

"Essas pessoas querem reverter a aposentadoria involuntária, depender menos da aposentadoria. Outro ponto comum é a curiosidade, a vontade de continuar a aprender e envolvimento com a atividade escolhida", diz o empreendedor. "O diferencial das pessoas 50+ que procuram um trabalho é que elas valorizam o tempo de um modo diferente."

NOVA DIVERSIDADE

Driver afirma que, nos Estados Unidos, muitas empresas estão valorizando uma menor rotatividade dos empregados. E mais: "O que vimos acontecer nos últimos 30, 40 anos, em todo o mundo, é o advento da diversidade no mercado de trabalho. E a idade é a nova diversidade."

Segundo o especialista, está crescendo o número de empregadores que reconhecem o mérito de ter uma força de trabalho diversificada, que reflita seus clientes. "O mercado 50+ representa uma fatia economicamente significativa. E, se você quer vender seus produtos para essas pessoas, é importante ter gente dessa faixa etária na equipe de desenvolvimento, no marketing e em vendas. Esse conceito está pegando entre as empresas, é uma tendência."

Driver lembra que vivemos em uma economia impulsionada pelo serviço e não pela manufatura. E muitos desses trabalhos podem ser feitos mais tarde pelos mais velhos.

PREPARANDO O MUNDO PARA OS MAIS VELHOS

Não é só o mercado de trabalho que deve se adaptar para acolher as pessoas que estão vivendo mais: as cidades precisam voltar o olhar para essa população, uma vez que a inversão da pirâmide etária já é uma realidade em vários lugares.
Segundo a OMS, o mundo terá 2 bilhões de idosos em 2050, e envelhecer bem deve ser prioridade global. Com esse foco, a Organização Mundial da Saúde lançou em 2005 o projeto "Cidade Amiga do Idoso", que tem como um de seus idealizadores Alexandre Kalache, uma das maiores autoridades mundiais em envelhecimento.

O projeto foi desenvolvido com financiamento do governo do Canadá, a partir de oito pontos fundamentais para a população mais velha e deu origem a um protocolo adotado em mais de 1.000 cidades espalhadas pelo mundo - Porto Alegre, Veranópolis e Esteio, no Rio Grande do Sul, e Pato Branco, no Paraná, são as únicas representantes brasileiras.

"O Brasil vai dobrar a proporção de idosos, de 10% para 20%, até 2030. Em 2070, vamos ter, em termos absolutos, 70 milhões de idosos. Uma vida longa e com qualidade exige uma mudança de atitude de cada um de nós e, coletivamente, da sociedade. Só assim poderemos ver o envelhecimento como a grande conquista do século", afirma Kalache.

Conheça mais sobre esse e outros assuntos relacionados à longevidade no Portal Viva a Longevidade, uma plataforma de conteúdo com reportagens, colunas, podcasts, vídeos, pesquisas e muitas outras informações.

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