Comida para quem não tem quase nada

Acervo pessoal
Eliana Rosa, que arrecada e distribui alimentos para moradores da zona oeste de São Paulo

"Trabalho como diarista, faço faxina, e tive que parar quando começou a quarentena. Estou há quase 90 dias sem trabalho, sem renda. Vi outras pessoas na mesma situação e isso me preocupou muito. Mas quem me inspirou a tomar uma atitude foi um senhor que vende pamonha perto da minha casa. Ao descer do ônibus, eu sempre comprava uma pamonha dele. De repente, ele sumiu. Fiquei pensando: 'o que essas pessoas estão fazendo para sobreviver?' Eu queria muito ajudar de alguma forma.

Conversei com minha filha e tivemos a ideia de preparar marmitex para doar. Mas a logística seria muito complicada. Eu precisaria de um fogão industrial, uma panela gigante e seriam necessárias muitas coisas para fazer almoço em grande escala para distribuição. Surgiu então a ideia de arrecadar alimentos.

Há algum tempo eu tinha montado uma ONG com minha filha de 20 anos e uma colega, mas ela estava inativa. O nome é União Paulista pela Educação - Acolhendo Sonhos. No início, a proposta era ser uma escolinha, mas ficou parada por falta de recursos.

Com a pandemia, tivemos essa ideia de usar a ONG para ajudar as pessoas que estão sem trabalho. Decidimos reativá-la para atuar na área de assistência social.

Pedimos a colaboração de algumas pessoas e empresas. Começamos então a receber doações e foi possível montar as cestas básicas para distribuição. A maioria dos que nos ajudam são vizinhos e conhecidos. Entre os doadores há apenas uma empresa, que é do ramo alimentício. O que minha família está comendo também vem dessas doações.

Nossa cesta é composta por um pacote de cinco quilos de arroz, um óleo, um pacote de macarrão, um extrato de tomate, um pacote de sal, um de açúcar, meio quilo de café e um pacote de bolacha água e sal. Quando a família é grande, nós damos duas cestas. Outro dia mesmo fomos entregar a cesta a uma mulher e vimos que ela tinha cinco filhos, então demos duas.

Por enquanto, todo o trabalho é feito na minha casa, no Jaraguá, porque só temos esse espaço. Tudo que recebemos é separado para a montagem das cestas básicas e depois é feita a distribuição. Além dos mantimentos, também aceitamos roupas.

Ajudamos principalmente moradores de uma comunidade próxima ao Jaraguá. Agora que as pessoas já sabem que fazemos esse trabalho, elas nos procuram pedindo ajuda. Conseguimos ajudar 40 famílias por mês com as cestas básicas. Não é muito, mas são pessoas que não teriam outra fonte para sobreviver.

O pamonheiro voltou no início do mês. Fiquei feliz por reencontrá-lo e perguntei se estava bem, se precisava de ajuda, mas ele disse que estava conseguindo se manter. Mal sabe que sua ausência me inspirou a ajudar os outros."

Espaço Pago
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