Diariamente, inúmeros papéis são entregues no guichê da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), em São Paulo, para serem analisados e receberem um selo de autenticidade. Dessa rotina morosa e burocrática dependem as transações de exportação do Brasil para 22 países árabes. Em meados de 2019, a entidade sem fins lucrativos que há 68 anos conecta empresas brasileiras aos países de língua árabe decidiu que era hora de agilizar, desburocratizar e dar mais credibilidade a esses processos.
Em busca de uma solução, Marcos Bulgarelli, gerente de Tecnologia da Informação da Câmara, identificou no blockchain a oportunidade de digitalizar esses processos em uma plataforma segura. Com o aval de Tamer Mansour, CEO e secretário-geral da CCAB, a entidade decidiu seguir a tendência mundial de investir na tecnologia que permite registro seguro e colaborativo de transações em cadeia de blocos. Dados da IDC apontam que os investimentos mundiais em blockchain devem crescer 57,1% ao ano até alcançarem 14,4 bilhões de dólares em 2023.
BLOCKCHAIN PARA EXPORTAÇÃO
Depois de identificada a tecnologia que iria apoiar o projeto, o primeiro passo da Câmara Árabe rumo à digitalização foi dado em agosto, ao assinar um acordo de intenções com o governo da Jordânia para aceitação dos processos digitais.
Em seguida, entre novembro e dezembro do ano passado, a Câmara foi ao mercado comparar os serviços oferecidos por diversos fornecedores. "Chegamos à IBM porque ela é referência no assunto", afirma o gerente de TI. "Além disso, por serem trâmites internacionais que envolvem governos e entidades privadas, precisávamos de um parceiro que tivesse alta credibilidade e reconhecimento internacional", complementa. Sem isso, ele acredita que a resistência dos países árabes poderia inviabilizar o projeto.
A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) optou pela IBM Blockchain Plataform em IBM Cloud para substituir papéis e processos manuais de forma ágil e transparente. "A nuvem da IBM veio como consequência, porque já tínhamos um plano de migrar nossa infraestrutura para cloud e isso acabou acontecendo naturalmente naquele momento", explica.
DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO
Na CCAB, as áreas de Tecnologia da Informação, Certificação de Documentos e Relações Institucionais trabalharam em conjunto no projeto, sob orientação do CEO e secretário-geral Mansour.
Toda a parte de desenvolvimento da plataforma Ellos, como foi chamada, foi conduzida em cooperação entre as equipes da IBM e da Câmara por meio da metodologia IBM Garage. A primeira etapa foi a construção de um Mínimo Produto Viável (MVP), ambiente de testes em versão reduzida e simplificada. "Também iniciamos as conversas com entidades privadas de certificações e o governo brasileiro para conectá-los ao Ellos, para prover as informações necessárias para todo o processo", conta Bulgarelli.
"Inicialmente foi difícil convencer nossa alta gestão de que poderíamos cumprir as expectativas, inclusive em relação aos prazos", diz ele. E, para complicar, a Câmara Árabe perdeu seu desenvolvedor logo no começo do projeto. "Foi um susto, mas tudo continuou fluindo como se nada tivesse acontecido", conta ele, ressaltando a agilidade com que o time identificou problemas e fez correção de rotas. "Em seis semanas, conseguimos um MVP redondo, que funcionou sem bugs e nos permitiu fechar as parcerias que precisávamos", conta o gerente. "Até eu fiquei impressionado com o que conseguimos fazer nesse prazo."
PILOTO EM AÇÃO E NOVOS PLANOS
"No momento, a CCAB realiza um projeto-piloto com grandes exportadores brasileiros, entidades certificadoras, a Tradelens (plataforma Blockchain para rastrear remessas globais construída por IBM e Maersk) e o governo da Jordânia."
E os planos da Câmara Árabe para o próximo ano não param por aí. A ideia é oferecer outros serviços aos associados por meio da plataforma Ellos. Entre eles, estão um ecommerce B2B e a ferramenta Matchmaking, que facilita o agendamento de reuniões online entre associados brasileiros e árabes. Há projetos também para integrar a plataforma com os bancos, o que deve agilizar o recebimento dos créditos dos exportadores.
Há ainda um projeto que deve utilizar o blockchain para rastrear todos os alimentos exportados para os países árabes desde a sua origem. "Essa iniciativa é muito importante porque esses países têm grande preocupação com segurança alimentar e exigem diversas certificações, entre elas a Halal, que atesta que empresas, processos e produtos seguem os requisitos legais e os critérios determinados pela jurisprudência islâmica para produção de alimentos", explica Bulgarelli. "É mais um desenvolvimento que vai para Garage da IBM."