O Brasil tem várias barreiras a romper para ampliar o acesso da população à saúde de qualidade, mas é preciso reconhecer os avanços alcançados desde a implantação do Sistema Único de Saúde, o SUS, em 1988.
"Certos direitos, como o acesso a serviços de saúde e à educação, compõem os elementos que criam uma civilização", afirma o médico Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e referência na área. Ele defendeu a necessidade de fortalecer o SUS e de ampliar a integração entre os sistemas público e privado ao falar sobre a importância do sistema de saúde no Brasil.
"Ainda estamos longe de cumprir os princípios da universalidade, da integralidade e da igualdade, que são as bases do SUS, mas caminhamos muito em pontos importantes", afirma. Ele destaca, por exemplo, o fato de 95% dos transplantes realizados no país serem feitos pelo SUS e de 100% dos pacientes brasileiros com hemofilia receberem medicação gratuita.
O sistema de vacinação brasileiro distribui todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Somos um dos únicos países no mundo que distribui essa quantidade de vacinas."
Por outro lado, ele aponta a necessidade de repensar o atual modelo de assistência. "Nosso modelo de atenção à saúde é do tempo em que as pessoas morriam de doenças infectocontagiosas: o paciente era tratado e tinha alta. Hoje, 35% das mortes no Brasil são causadas por doenças cardiovasculares e metabólicas, como diabetes, e 20%, por câncer. São doenças para as quais não existe alta." Por isso, diz, é fundamental que o país invista em atenção primária à saúde.