Adultos devem ler para a criança desde a gestação, insistem especialistas

A leitura traz benefícios tanto cognitivos como emocionais para o desenvolvimento da criança. Não existe uma idade mínima para colocar esse hábito em prática. Especialistas defendem que a leitura para a criança comece o mais cedo possível, de preferência enquanto ela ainda estiver na barriga da mãe.

"O bebê se dá conta de que a entonação da voz em uma leitura é diferente do tom da conversa. Isso começa a introduzi-lo em outro mundo", diz Claudia Sintoni, coordenadora de mobilização social da Fundação Itaú Social.

Essa experiência precoce terá efeitos positivos para o desenvolvimento futuro da criança.

"O crescimento intelectual acontece numa velocidade muito grande, principalmente nos três primeiros anos de vida. Todo estímulo que pudermos dar à criança contribuirá para sua plasticidade e seu desenvolvimento intelectual, com o coeficiente de inteligência, com a autoestima. A leitura só traz benefícios", afirma Luciana Rodrigues, presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).

Além de abrir o universo da leitura, o hábito de contar histórias reforça o vínculo afetivo dentro da família.

"Esse vínculo pode ser com o pai, com um cuidador ou com o irmão mais velho. O adulto que lê está apresentando a literatura e, por meio das histórias e personagens, a criança pode vivenciar novas experiências, aprender a lidar com as diversas emoções e sentimentos", diz Claudia.

O Itaú Social e a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal lançaram no ano passado a campanha "Receite um livro", que, em parceria com a SBP, pede que os pediatras incentivem os pais a ler para crianças de zero a 6 anos.

"Na hora em que o pediatra pede aos pais que leiam para seus filhos e explicam os benefícios dessa atividade, eles ficam sensibilizados. Quando um pediatra recomenda a leitura desde cedo, ele contribui para o desenvolvimento adequado da criança", afirma a presidente da SBP.

Se a criança não tiver livros em casa, os pais podem buscar alternativas. O projeto Bebelê, implantado em bibliotecas públicas de São Paulo, estimula esse contato por meio do empréstimo de livros e fantoches, por exemplo.

"No Bebelê, a gente parte da premissa de explorar um tempo diferente, um tempo de qualidade entre a criança e seu pai ou mãe", afirma Pierre André Ruprecht, diretor-executivo da SP Leituras, a organização que mantém o projeto.

O Espaço de Leitura, localizado no parque da Água Branca (zona oeste de São Paulo), possui um acervo de 2.000 livros que fica disponível para o público visitante do local. Não é preciso documento nem carteirinha para emprestar um livro. Basta pegá-lo e devolvê-lo até o horário de fechamento -o espaço funciona de quarta-feira a domingo, das 9h às 18h. Nos fins de semana acontecem feiras de troca, contação de histórias e apresentações de teatro.

Campanhas como a "Leia para uma Criança" incentivam esse contato com a literatura graças à mediação de um adulto -seja no mundo físico, seja no digital. Neste ano, a campanha distribuirá 3,6 milhões de livros.

É preciso ressaltar que creches e escolas infantis também são muito importantes na apresentação da leitura para crianças, principalmente para aquelas que não têm contato com livros no seu cotidiano.

Para a SBP, o importante é que os livros estejam ao alcance dos pequenos. "A disponibilidade de livros perto de casa é essencial para quem não tem condições de comprá-los. Vamos fazer a campanha com prefeituras e escolas, para que cada vez mais crianças tenham acesso a livros para ler com suas famílias", diz a presidente da entidade.