"Não dá trabalho ser honesto", diz Britto

André Piccinini/Estúdio Folha
Torquato Jardim, ministro da Transparência, ao lado de Carlos Ayres Britto,ex-ministro do STF

Durante evento em Brasília, ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto afirma que o prêmio Empresa Pró-Ética veio para ficar

Ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) entre 2003 e 2012, o advogado Carlos Ayres Britto proferiu a palestra "Ética e Moralidade Administrativa" na abertura da 3ª Conferência Lei Empresa Limpa.

Em entrevista, ele comenta sobre a iniciativa do prêmio e a crescente adesão das empresas.

Estúdio Folha - Qual é a importância de uma iniciativa como o selo Empresa Pró-Ética?
Carlos Ayres Britto - Eu acho que é um sinal de completa abertura para esse reclamo necessário de governança ética para cada qual das empresas do Brasil. É uma exigência jurídica e um imperativo moral, ético, não só individual como coletivo. É reagir sem agredir as normas da boa convivência empresarial e da boa convivência individual. Veio para ficar.

O senhor vê relação entre a adesão crescente das empresas ao selo e o atual momento político do Brasil?
Sim, sem dúvida que há um link em tudo isso. As empresas estão compreendendo cada vez mais que precisam atuar dentro da moralidade, da ética. Claro que existe a competitividade, a concorrência, o livre mercado. Cada empresa possui as suas estratégias no mercado, mas não pode se desviar dos quadros jurídicos tracejados exatamente para a conduta de cada uma delas.

O senhor acredita que essa busca pela honestidade é um processo firme e irreversível no país?
Não é mais possível haver marcha à ré nesse processo. Já começamos a viver uma nova era, um novo estágio de civilidade. [Albert] Einstein dizia que a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original, primitivo.

Os avanços estão aí, não há volta, a sociedade não permitirá.

Cada um de nós se conscientiza cada vez mais de que tem o direito a um governo, a uma administração que prime pela legalidade, pela impessoalidade, pela moralidade, pela publicidade e pela eficiência, conforme o artigo 37 da Constituição. É uma grande novidade coletiva no Brasil e nos anima. É uma bela novidade, na linha do que disse um pensador norte-americano e constitucionalista que governou os EUA, de 1801 a 1809, Thomas Jefferson. A arte de governar consiste exclusivamente na arte de ser honesto.

Quais mudanças de comportamento uma empresa deve ter?
Empresa eficiente é aquela que respeita a lei, a ética, a moral. É preciso que toda empresa seja movida por uma energia moral limpa.
O modo mais inteligente de ser é ser honesto. Não dá trabalho, não dói ser honesto. Se os governantes, as empresas e os profissionais autônomos querem seguir bem na vida, sem o menor receio de um dia receber uma citação, intimação, convocação ou chamamento. Assim, podem chegar à noite, na cama, na hora de dormir, e manter um arrebatado caso de amor com o seu travesseiro.