Água não nasce na torneira

Como dizia a música, todo dia ela (ele também) faz tudo sempre igual: abre o chuveiro para o banho, a torneira para escovar os dentes, faz a barba, pega água para fazer café, lava a louça, põe a roupa na máquina e por aí vai. Os hábitos são cotidianos e em nenhum momento se pensa de onde vem essa água toda. Basta um piscar de olhos e ela está ali, correndo ralo a fora. Mas, afinal, qual o caminho percorrido por ela até chegar na residência?

Não há atalhos. A partir de sua captação em rios e represas, a água é levada para estações de tratamento onde passa por rigoroso controle de qualidade. Mesmo nascendo cristalina, a água recebe impureza por causa da chuva. E da ação do homem, que polui, seja com produtos usados na lavoura, seja pelo despejo irregular de esgoto. Só depois disso é que a água potável pode ser consumida.

No caso da Sabesp, que abastece mais de 25 milhões de clientes, espalhados por 365 municípios no Estado de São Paulo, são necessárias 235 estações de tratamento e uma rede de água que alcança inimagináveis 71,7 mil quilômetros, o equivalente a quase duas voltas em torno do planeta. Nesse processo atuam 17 laboratórios, que trabalham 24 horas por dia e realizam, em média, mais de 62 mil análises mensais. Para operar essa engrenagem, um exército de mais de 14 mil funcionários, acostumados a não ter tempo ruim para garantir o abastecimento.

É da sua conta, porém, saber que os recursos para obras de produção de água e coleta e tratamento de esgoto vêm da receita da tarifa paga. No caso de São Paulo, sem subsídios do governo do Estado. São da receita das taxas que a concessionária consegue investir em tecnologia de ponta para construir represas, interligar sistemas de abastecimento, reduzir perdas, combater o desperdício, radiografar subterrâneos com mapeamento das tubulações, ultrafiltrar água... enfim, garantir o fornecimento na torneira mesmo que a água não caia do céu, como se verificou na recente crise hídrica.

De volta à letra de Chico Buarque, a canção fala que todo dia ela diz que é pra eu me cuidar. No caso, é sempre bom cuidar do consumo da água. Por trás de um simples copo lavado há uma estrutura gigantesca para água de qualidade jorrar da torneira. E ela tem valor. Tanto para quem paga tarifa como para quem dispõe apenas destes recursos para fazê-la chegar a milhões de pessoas.