Especialistas alertam sobre a importância de vacinar as crianças contra a gripe

Surtos da doença em escolas e creches são comuns; vacinação contra o vírus influenza deve ser feita anualmente

Com as aulas presenciais sendo pouco a pouco retomadas, as crianças devem ampliar o contato social após meses de distanciamento de colegas e professores. É importante lembrar que a volta ao ambiente escolar significa também maior exposição ao vírus influenza, causador da gripe e que pode ser prevenido por meio de vacinação, recomendada a partir dos seis meses de idade1.

“As crianças ficaram isoladas durante a pandemia de Covid-19 e, de forma geral, os vírus respiratórios circularam menos. Por conta disso, a imunidade delas não foi melhorada. A imunidade é estabelecida ao longo da infância, sobretudo na primeira infância, quando temos o primeiro contato com muitos vírus. É a razão pela qual as crianças, algumas mais, outras menos, adoecem com mais frequência. Sem essa imunidade desenvolvida, há um risco maior de infecções respiratórias mais graves”, explica Eitan Berezin, pediatra e infectologista, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

A vacina contra a gripe faz parte do calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde 19992, quando foi realizada uma campanha direcionada para pessoas com mais de 65 anos. Agora, a vacina está disponível para várias faixas etárias. “A vacina para influenza já existe há algum tempo e é segura. É importante acreditar nas informações científicas e na razão de a vacina existir”, afirma o pediatra.

Berezin lembra que a vacinação contra a gripe deve ser feita anualmente, já que a composição da vacina é produzida de acordo com as cepas (famílias de vírus) circulantes naquele ano, seguindo as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Um estudo apresentado no “Clinical Infectious Diseases”, publicação da sociedade norte-americana de doenças infecciosas, concluiu que crianças têm maior probabilidade de ter gripe. Entre zero e 17 anos, a probabilidade é de 9,3%; na faixa etária de 18 a 64 anos, 8,8%, e de 65 anos ou mais, 3,9%. Ou seja, os menores de 18 anos têm duas vezes mais chances de desenvolver uma infecção de gripe sintomática do que adultos com 65 anos ou mais3.

A gripe pode se manifestar de modo abrupto de um a cinco dias após a incubação do vírus e os sintomas mais comuns são febre, dores no corpo e de cabeça, mal-estar, tosse, dor de garganta e irritação no nariz4. Embora na maioria dos casos não haja complicações e o quadro melhore em uma semana, há possibilidade de a gripe, principalmente em crianças e em pessoas com alguma doença pré-existente que predisponha o paciente a desenvolver outras doenças (a chamada comorbidade), evoluir para casos mais graves, como síndrome respiratória aguda grave (SRAG) ou pneumonia4.

O aumento na procura por serviços médicos, pediátricos ou não, fica visível em vários momentos em decorrência de picos de casos de gripe3. “Há um impacto sazonal muito importante do vírus influenza no inverno”, destaca o infectologista pediátrico Marco Aurélio Sáfadi, que também faz parte da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Estudos mostram que crianças matriculadas em creches e escolas são os maiores disseminadores do vírus, especialmente as menores, que tendem a eliminar o vírus por períodos mais longos5. “Os surtos de doenças em escolas são bem evidentes. Quando tem um caso, ocorrem outros e, muitas vezes, se replicam nas famílias”, alerta o médico.

Sáfadi afirma que há dados muito claros sobre o papel relevante da primeira infância na transmissão da gripe. As crianças, diz, são vetores muito importantes e ao imunizá-las há um impacto em todos os outros grupos, de qualquer idade, que não foram vacinados, beneficiando-os e reduzindo o espalhamento do vírus”, diz.

Sáfadi e Berezin alertam para a queda da cobertura vacinal em todo o país. “Despencaram as coberturas vacinais para várias enfermidades de forte impacto na população pediátrica, como a difteria, coqueluche, meningite, pneumonia e sarampo. Toda uma série de doenças cruciais, que estavam eliminadas ou muito controladas. O cenário é preocupante porque as crianças voltarão às atividades em ambientes em que a cobertura vacinal está muito baixa. Isso representa claramente um risco de crescimento descontrolado dessas doenças”, afirma Sáfadi.

Os especialistas alertam ainda que, mesmo com a vacina, é preciso manter todos os cuidados, como uso de máscaras e distanciamento social, porque ainda não há uma previsão de quando as crianças terão acesso a uma vacina contra a Covid-19.

Referências

1. WHO. Fact sheet: Influenza (seasonal). Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/influenza-(seasonal) Acesso em 08-02-2021

2. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Imunizações: 30 anos. Brasil, 2003.

3. CDC. Key Facts About Influenza (Flu). Disponível em: https://www.cdc.gov/flu/about/keyfacts.htm

4. Ministério da Saúde. Saúde de A a Z: Gripe. Disponível em: https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/gripe

5. Ministério da Saúde. Campanha contra a gripe. Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/vacinagripe2017/o-que-e.html Acesso em 08-02-2021


MAT-BR-2101251 | fevereiro de 2021 | Material para todos os públicos