A Covid-19 exige que as pessoas fiquem em casa e evitem aglomerações para não se contaminarem, mas há outras questões de saúde que não podem ser paralisadas ou adiadas. Registros de hospitais mostram que o medo do novo coronavírus está fazendo com que pacientes interrompam tratamentos continuados e negligenciem sintomas que precisam ser investigados, o que eleva os riscos. Na oncologia, por exemplo, o paciente trava uma luta contra o tumor. Para vencer essa batalha, diagnóstico precoce e acesso a todos os recursos da medicina são fundamentais.
"Ainda não sabemos dizer quando essa crise da Covid-19 será plenamente superada. Os tumores não param de crescer simplesmente porque estamos enfrentando um problema sério de saúde pública", diz Artur Katz, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo. O médico cita como exemplo a leucemia, uma doença que, se não tratada, pode levar à morte em algumas semanas.
Katz ressalta que todos os cuidados e condutas em casos oncológicos precisam ser individualizados. "Cada paciente precisa discutir com o seu médico qual o melhor caminho a seguir, ou seja, quais os riscos e as implicações de manter ou interromper o tratamento", diz.
"Temos a pandemia, uma doença grave, mas temos também o câncer. E o retardo do diagnóstico, do início do tratamento e falhas no seguimento podem comprometer o desfecho do paciente. Isso significa, eventualmente, diminuir a quantidade e a qualidade de vida. Um tumor que era curável pode deixar de sê-lo", diz Gilberto de Castro Junior, médico oncologista do Hospital Sírio Libanês.
O hospital adotou em todas as suas unidades protocolos para elevar a segurança dos pacientes e separar casos confirmados e suspeitos de Covid-19 dos demais. Tudo é separado, desde a entrada.
Além disso, há um cuidado ainda maior para aqueles que tratam de outras doenças.
Em situações em que o tratamento envolve cirurgia, radioterapia e quimioterapia, por exemplo, há possibilidade de adaptações para que fique menos agressivo e não deixe o paciente debilitado, com o sistema imunológico muito comprometido. Tudo é pensado de forma individual, a favor do paciente.
"Esses tipos de tratamentos não devem ser interrompidos ou atrasados. Para que funcionem da forma desejada, não se pode esperar muito tempo", diz Romualdo Barroso, oncologista clínico e coordenador de pesquisa translacional no Hospital Sírio-Libanês em Brasília. Interromper um tratamento aumenta o risco de o câncer voltar no futuro, afirma o médico.
Negligenciar sintomas e evitar uma consulta médica também podem significar um complicador no futuro. Segundo Barroso, o número de diagnósticos de câncer caiu drasticamente porque as pessoas, por conta da situação de pandemia, pararam de fazer exames. "Assim como os tratamentos, os rastreamentos são também importantes, sobretudo em pacientes de alto risco para determinados tipos de câncer. Casos e sintomas precisam ser analisados de forma individualizada. O atraso no diagnóstico pode, em algumas situações, levar a estágios mais avançados do tumor", completa Barroso.