"Nunca pararia meu tratamento porque só eu sei o quanto foi difícil"

Raquel Medeiros, 33 anos

"Fui diagnosticada muito precocemente com câncer de mama. Foi no ano passado. Eu tinha 32 anos. Foi de repente. Primeiro eu tive uma TPM (tensão pré-menstrual) atípica, de muita dor, cólica, enjoo. Minha pressão caiu. Quando passou e veio o ciclo normal, fui colocar o top para correr. Resolvi apalpar o seio e senti uma coisa enorme. A princípio, achei que não era nada. Sempre fiz exames semestrais, incluindo os de imagem. O último havia sido em maio de 2019 e era final de agosto. Fazia apenas três meses.

Mesmo assim, resolvi marcar uma consulta com uma mastologista que encontrei no livrinho do plano de saúde. Ela também achou que não era nada. Apalpou-me, viu os exames que eu levei. Mas, por via das dúvidas, me pediu uns exames.

Fui fazê-los no Sírio-Libanês, que era onde eu sempre fazia. Na mamografia eu passei muito mal. No ultrassom, vi a mudança no semblante da médica. Como eu lia muito a respeito, tive duas amigas que recentemente faleceram de câncer, meio que sabia o que era um tumor, a aparência de um. E o meu era muito característico. Era uma massa enorme. Tinha quase 11 centímetros, totalmente disforme e com umas raízes, bem típicas do câncer.

Nesse ultrassom também deu para ver que eu tinha linfonodos alterados. Eu já saí dali com BI-RADS 5, que é 95% de probabilidade. Eu estava só, meu marido estava viajando a trabalho. Fiz a biópsia, deu positivo. Depois veio a questão do estudo do tumor. Os médicos temiam que fosse um tipo que acomete mulheres mais jovens e tende a ser mais agressivo.

Aí comecei a tratar com o clínico, o oncologista e o mastologista do Hospital Sírio-Libanês. Fiz todo o scanner do corpo e graças a Deus não havia metástase. Então minha doença era curável.

Fiz um congelamento de óvulos na velocidade da luz, porque o tratamento para pacientes na minha idade tende a ser muito agressivo e a impactar na produção de óvulos sadios. Na sequência, comecei a quimioterapia.

Fiquei bem durante a quimio porque eu queria viver, e entendi que minha cabeça ia trabalhar a meu favor. Foi muito tranquilo, não tive grandes efeitos colaterais da quimioterapia. Continuei fazendo meus exercícios físicos, corrida, comecei crossfit. Me sentia ótima, com exceção dos pêlos que caíram todos.

Quem me visse não diria que eu tinha câncer, mas muito pela minha postura de continuar a ser quem eu era. Meu tratamento foi neoadjuvante (quimioterapia é realizada antes da cirurgia), pela minha idade e porque já tinha doença no linfonodos, a primeira porta de entrada para o sistema sanguíneo. Eu corria um risco de metástase, então os médicos optaram por primeiro tratar a doença, matando as células, evitando que elas se espalhassem.

Terminei a quimio no dia 9 de janeiro. Em 7 de fevereiro, fiz mastectomia bilateral radical, com remoção linfonodal, esvaziamento axilar. Tirei também a mama direita, apesar de só ter a doença na esquerda. Tirei por opção.

Eu ainda teria radioterapia para fazer. Fiz os três ciclos, cirurgia, quimioterapia e radioterapia. E minha radioterapia ficou para meados de março, logo quando apareceu a pandemia, bem no início da quarentena. Então foi bem assustador para mim. Eu tinha reagido muito bem à quimioterapia, sempre mantendo minha imunidade OK, mas não sabia como iria reagir à radioterapia.

Mas me tranquilizaram muito. A área de oncologia do Sírio-Libanês é separada das demais. Isso já te traz segurança. Os protocolos determinados foram seguidos desde o primeiro minuto: uso de máscara, álcool em gel. Não que não fosse feito antes, mas foi intensificado com quem entrava no hospital.

Fiz todo o meu tratamento. Terminei a radioterapia no dia 7 de abril. Tive sim algumas complicações, porque o tratamento te deixa mais fadigada, mas nada demais.

Perguntei para minha oncologista se eu deveria fazer exame de Covid-19, porque era muito conflitante o que eu sentia, dor de garganta e mal-estar. A radiação ia um pouco para o pescoço, então eram sintomas conflitantes. Mas ela disse que não precisava, pois os sintomas não eram suspeitos para Covid-19, e sim relacionados ao tratamento. Os médicos foram acompanhando de perto e eu melhorei.

Já tive alta, fui curada do câncer. Por 10 anos eu farei terapia hormonal, que consiste em me induzir a uma menopausa precoce. Todo mês tenho de ir ao hospital para tomar uma injeção e pegar a medicação que tomo diariamente. É um tratamento de suporte para evitar o retorno da doença.

Minha experiência no hospital é muito tranquila, me sinto muito segura. Fiz uns exames agora e pedi para fazer o IGG, o exame de sangue para saber se eu tinha tido Covid-19. Deu não reagente.

Nunca pararia meu tratamento, porque só eu sei o quanto foi difícil. Reconheço a gravidade de tudo o que a gente está vivendo, mas eu quero que passe e quero que meu câncer também passe e não volte. Então, para estar bem, eu precisava realmente seguir firme e finalizar meu tratamento."

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