"No ano passado fiz normalmente meus exames de check-up e estava tudo OK. Em dezembro, senti algo diferente na mama direita e marquei uma consulta com minha médica. Fizemos os exames gerais novamente e foi diagnosticado um tumor. Fizemos a biópsia. Em janeiro continuei fazendo alguns exames, no início de fevereiro já estavam todos prontos. Nessa época começava-se a falar da pandemia de Covid-19, ainda sem nenhum caso no Brasil.
Fiz a cirurgia em 13 de março. Eu quis fazer logo, para não dar oportunidade à doença de evoluir, porque a probabilidade de cura diminui. Tirei só o quadrante, não foi necessário fazer esvaziamento. Fiz o preenchimento e ficou tudo normal. A cirurgia foi feita pela mastologista Arícia Giribela e sua equipe. Sou muito grata a todos eles.
Não tive medo por causa do coronavírus. O pior era manter o câncer dentro de mim. Nós conseguimos tirar o tumor por inteiro. Os outros exames, que seriam nos linfonodos sentinelas nas axilas, deram negativos, graças a Deus.
Uns 30 dias depois da cirurgia, comecei a fazer a quimioterapia no Sírio-Libanês e já estava todo esse movimento sobre a pandemia. Faço a cada 15 dias. Mas desde o primeiro dia, quando passei com a doutora Marina, me senti muito confiante em frequentar o hospital. Porque é um lugar isolado das demais situações. A oncologia do Sírio é só para pacientes oncológicos mesmo. Respeita-se todo um espaço, tem todo um sistema de segurança, de higienização. Eu nunca tive receio.
É lógico que a gente tem um certo temor pelas notícias, mas acho que, no meu caso, seria muito pior manter o tumor. Esperar passar algo que a gente não tem nem certeza de quando vai passar.
Eu tinha de fazer oito sessões de quimioterapia. Estou na metade. Todas as minhas idas ao hospital têm sido muito seguras. Não tem por que não fazer o tratamento com a estrutura que encontro lá. Se não fizer, você só prolonga e fica mais longe de uma possibilidade de cura. Quanto mais cedo você tratar, quanto mais cedo você fizer a sua parte, melhor o resultado.
Nunca tive medo de ir ao hospital e não é porque eu seja 'a corajosa', é porque ele passa essa confiança.
Eu não conseguiria parar meu tratamento. Quando ouço falar que tem pessoas que pausaram o tratamento, fico muito preocupada. Porque desenvolve, não adianta. Vai desenvolver algo pior depois. A gente corre contra o tempo. Algo que é simples pode não ser tão simples depois. Para mim, a única forma de agir tem que ser essa. Quem tiver medo tem de encarar o medo e fazer. Não tem por que não fazer."