Ano de pandemia reforça importância do Outubro Rosa

Masao Goto Filho/Estúdio Folha
Anita Pereira Silva durante consulta com a médica Paula Tambellini, do Núcleo de Mastologia do Sírio-Libanês, no Ambulatório de Filantropia mantido pelo hospital em São Paulo

A campanha do Outubro Rosa foi criada com o objetivo de chamar a atenção para a importância do rastreamento e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Com a detecção em fase inicial, a chance de cura da doença ultrapassa os 90%. Mas, neste ano atípico, a mensagem do Outubro Rosa ganhou um novo viés: o da necessidade da manutenção dos exames de rastreamento, mesmo em um cenário de continuidade da COVID-19.

No início da pandemia, muitas pessoas deixaram de cuidar da saúde de uma forma geral. Por isso, a classe médica reforça o aviso. "Não se pode esperar que o problema do Coronavírus seja resolvido para depois correr atrás das outras questões de saúde. No início da pandemia, muitas pessoas deixaram de cuidar da saúde de uma forma geral. Essas questões podem ter consequências futuras adversas", alerta Artur Katz, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo.

Desde março, cerca de 50 mil brasileiros deixaram de fazer exames de rastreamento. Os tumores para os quais esses testes estão indicados são: mama, colo do útero (papanicolau), colorretal e pulmão (em pacientes fumantes). O mais prevalente desses tumores é o de mama.

É muito importante que a mulher fique atenta à questão da saúde. Se notar alguma alteração na mama, nódulo, retração de mamilo, alteração de pele, deve procurar o médico e fazer os exames. "Não podemos, neste momento de tanta angústia pela questão da pandemia, deixar passar um diagnóstico de câncer que na maioria das vezes é curável. O diagnóstico precoce do câncer de mama é igual a cura", diz Marcelo Cruz, oncologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio -Libanês em São Paulo.

"O Outubro Rosa é muito utilizado para chamar a atenção para o rastreamento, mas é importante lembrar de que 30% a 50% dos tumores em geral podem ser prevenidos com mudanças de estilo de vida, como, por exemplo, não fumar, ter um índice de massa corporal adequada, consumir frutas e vegetais, fazer atividade física e não consumir álcool em grandes quantidades. Tudo isso é importante também", diz Daniele Assad, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

A boa notícia é que o acompanhamento é cada vez menos agressivo, menos penoso. "É importante procurar o diagnóstico precoce para ter menos sequelas no tratamento", diz Romualdo Barroso, oncologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

O ideal é que a mamografia seja feita anualmente a partir dos 40 anos. As mulheres que têm risco aumentado de câncer ou histórico familiar muito próximo devem seguir o acompanhamento de forma diferente. Isso deve ser definido caso a caso.

"É um exame seguro, com uma quantidade de radiação pequena, e que tem a capacidade de detectar tumores ainda muito pequenos, bem antes que possam ser palpados em um autoexame, por exemplo. Além de aumentar as chances de cura, o diagnóstico precoce permite tratamentos menos invasivos e menos impactantes para a vida da paciente", diz Marina Sahade, oncologista do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Cada vez mais os tratamentos em oncologia são muito específicos para determinados grupos de pacientes. No câncer de mama existem três exemplos nesse sentido. O primeiro é a hormonioterapia, administrada quando as mulheres têm um receptor hormonal expresso no tumor. O segundo é quando o tumor tem uma proteína específica. "Há medicamentos indispensáveis, se a proteína estiver presente, e totalmente fúteis se a proteína estiver ausente", explica Artur Katz.

Outro exemplo é um tipo de mutação que ocorre em aproximadamente 30% dos casos de tumores de mama. Quando a mutação está presente, hormonioterapia e quimioterapia podem ter menor eficácia. "Tudo passa por um diagnóstico muito preciso, para poder selecionar a estratégia de tratamento mais apropriada", afirma Katz.

Estudos recentes continuam a trazer novos conhecimentos. Um deles analisa o uso de uma medicação, em caráter adjuvante (após cirurgia ou radioterapia), associada à hormonioterapia. "Esse é um resultado importante, porque pode mudar completamente a conduta da hormonioterapia em uma parcela das pacientes. Essa conduta não vai mudar para mulheres que têm tumores pequenos, com linfonodos não comprometidos, mas pode, de fato, ser transformadora para aquelas que têm uma doença localmente avançada", diz Katz.

"Cada câncer de mama tem um sobrenome e cada sobrenome tem um tratamento diferente. Cada paciente tem o seu tratamento. A medicina personalizada permite que o câncer de mama metastático possa se transformar em uma doença crônica, com a qual a paciente consegue conviver por bastante tempo", completa Marina Sahade.

Andrea Shimada, oncologista clínica do Hospital Sírio-libanês em São Paulo, reforça que o Outubro Rosa deve também ser um alerta para as pacientes em tratamento oncológico sobre a importância de mantê-lo. "Elas devem recorrer aos seus médicos para sanar dúvidas e angústias, já que a adesão ao tratamento é fundamental para seu sucesso e, nos casos de doença incurável, primordial para a melhora de sintomas e promoção da qualidade de vida", finaliza.

AMBULATÓRIO DE FILANTROPIA DO SÍRIO-LIBANÊS

Masao Goto Filho/Estúdio Folha
Paciente faz exame de ultrassonografia mamária no Ambulatório de Filantropia do Sírio-Libanês na capital paulista

O Ambulatório de Filantropia do SírioLibanês atende pacientes em tratamento de câncer de mama encaminhadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Prefeitura de São Paulo.

Essas pacientes são identificadas com câncer na rede pública. "Quando chega ao ambulatório, ela é atendida pelos médicos do corpo clínico do nosso hospital. Confirmamos o diagnóstico e criamos um plano de cuidado para essa paciente. Fazemos todo o tratamento ambulatorial, a cirurgia e acompanhamos essa mulher por cinco anos", diz Vânia Bezerra, Superintendente de Responsabilidade Social do Hospital Sírio-Libanês.

No ambulatório, a paciente também pode fazer a reconstrução mamária, simetria da mama e cirurgia plástica tatuadora para reconstruir o mamilo, entre outros serviços. "Temos uma rede de apoio que ajuda a cuidar da autoestima dessa paciente", explica Vânia.

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