Descrição de chapéu câncer

Roda de Conversa destaca evolução no tratamento do câncer de mama em mulheres jovens

Bruna, que descobriu a doença aos 33, e os oncologistas Antonio Buzaid e Gilberto Amorim conversam sobre formas de enfrentá-la

Bruna Brüner descobriu um câncer de mama no início de 2015, aos 33 anos. "Senti alguma coisa na mama direita e fui investigar. Logo nos primeiros exames, descobri que o câncer estava metastático no fígado. A partir daí comecei a fazer tratamento do protocolo normal", conta.

Ao lado dos oncologistas Antonio Buzaid, do Instituto Vencer o Câncer (IVOC), e Gilberto Amorim, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Bruna participou de uma roda de conversa, realizada pelo Estúdio Folha em parceria com a Novartis, que abordou o câncer de mama metastático em mulheres jovens.

"Fiz primeiro a quimio vermelha, a quimio branca e depois a cirurgia. Fiquei dois anos na hormonioterapia, com a doença super controlada. No meio de 2018, descobri que o câncer tinha voltado no fígado, mais dois pontinhos. Foi então que o doutor Buzaid me propôs o tratamento oral. Comecei a tomar [dois medicamentos] diariamente, por 21 dias e paro 7. Desde então, estou com a doença controlada", relatou.

O câncer de mama é o mais prevalente entre as brasileiras. São cerca de 60 mil novos casos por ano no país e estima-se que entre 20% e 50% dos pacientes em fase inicial vão desenvolver a doença em estágio metastático, que é quando ela se espalha por outros órgãos.

O tratamento que o doutor Antonio Buzaid ofereceu a Bruna faz parte de uma grande evolução na oncologia.

"O tratamento oral chegou para ficar. É um fato. É a realidade da oncologia. E que bom que as drogas são orais, que os pacientes possam tomar em casa, com menos efeitos colaterais. Não tem queda de cabelo, não tem enjoo forte e nem diarreia complicada, não tem risco de infecção, de queda de imunidade, como a gente vê com muitas quimios", explicou o médico Gilberto Amorim.

Na conversa, Bruna falou sobre a diferença do tratamento oral e como ele foi benéfico no seu caso.

Antes, Bruna tinha que ir ao hospital, em média, quatro vezes por semana. Hoje, apenas uma vez por mês, para exames de sangue, e a cada quatro meses para fazer o PET scan, exame que avalia o desenvolvimento de tumores.

"As lesões hepáticas sumiram e ela permanece em resposta completa até hoje. Tem tido vida normal. Ela sempre manteve uma atitude fantástica em relação à doença. Como ela era muito jovem, tentamos usar agressivamente uma quimio para ver se tinha alguma chance de a gente curar o tumor metastático no fígado, usando todas as armas. Infelizmente, essa estratégia não conseguiu eliminar a doença, e, um pouco depois, ela recorreu no fígado. Bruna teve resposta completa com a quimio, nós então operamos, irradiamos etc. e foi para a supressão ovariana. Na vigência, ela progrediu e entrou no programa de uso compassivo de dois medicamentos orais. E ela teve muita sorte, teve resposta rapidamente e permanece até hoje", contou o doutor Antonio Buzaid.

O oncologista explicou ainda o motivo pela opção de tratamento oral com inibidor de ciclina.

"Isso é uma mudança de paradigma. Ainda é muito prevalente no Brasil, por causa da falta de acesso, o uso excessivo de quimioterapia, afetando adversamente a qualidade de vida dos pacientes. Ninguém quer isso. A gente quer uma pessoa como está a Bruna. Ela está em remissão completa, o PET dela é limpo. Ela trabalha, toca a vida e me vê a cada quatro meses. Não tem nada, não sente nada. Se o exame de sangue está bom, as células brancas estão boas, ela pode reiniciar a medicação. No início era necessário vê-la mensalmente, mas uma vez estabelecido que ela está em remissão, clinicamente bem, fazendo ginástica, tudo, denota que a doença está sob controle", disse Buzaid.

"Nesses últimos dois ou três anos, o cenário da doença mudou. O câncer metastático sempre foi um diagnóstico devastador e ainda é. Receber uma notícia como essa é sempre muito complicado", disse Amorim. "Mas a gente precisa lembrar que não é uma sentença de morte, que é possível ter uma qualidade de vida muito boa, que muitas pacientes respondem e por muito tempo e não tem mais esse estigma de fazer quimioterapia."

O médico comentou o estudo que comprovou a eficácia dos inibidores de ciclina em casos como o de Bruna.

"Realmente é um jeito novo de tratar essas pacientes, nunca mais vamos tratá-las da mesma forma e torcemos, enquanto médicos, como cidadãos e também como membros de ONGs que lutam pela causa do câncer de mama, para que mais pessoas tenham acesso", afirmou Amorim.

Há ainda barreiras que dificultam que os medicamentos orais sejam disponibilizados pelos sistemas de saúde, como explicou Buzaid.

A falta de liberação das substâncias via oral no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS, gera ainda uma judicialização dos casos.

NOVA EDIÇÃO DE "VENCER O CÂNCER DE MAMA"

Em outubro, quando ocorre a campanha de conscientização pela prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, o Instituto Vencer o Câncer lançou uma segunda edição do livro "Vencer o Câncer de Mama", que pode ser baixado gratuitamente. "Tínhamos feito uma edição cinco anos atrás e resolvemos reescrever completamente, ele foi expandido. Nós resolvemos empoderar a população com mais detalhes. Dividimos o livro, no que concerne ao tratamento, em duas grandes partes: o tumor inicial e a doença avançada em três grandes cenários", disse Buzaid.

Conhecer a fundo a doença e suas opções de tratamento é o conselho que Bruna dá a quem recebe o diagnóstico. "Quando eu descobri que estava doente, fiquei desesperada, achei que fosse morrer e, na família, foi aquela choradeira. A primeira coisa que eu pense foi: vou morrer. A segunda, o que eu preciso fazer para não morrer."