Controle do glaucoma depende de prevenção e adesão a tratamento

Diagnóstico precoce e tratamento adequado podem diminuir o avanço da doença, que pode levar à cegueira; histórico familiar é um dos principais fatores de risco

O glaucoma é uma das três principais causas da cegueira no Brasil¹. A doença age de forma progressiva, silenciosa, irreversível e não tem cura, mas pode ser controlada se for diagnosticada precocemente e tratada de forma correta, o mais rápido possível. O paciente tem papel ativo neste processo, pois sua adesão faz parte do sucesso do tratamento.

"É uma doença do nervo óptico causada, na grande maioria dos casos, pelo aumento da pressão intraocular. O glaucoma leva à perda de campo visual: essa perda é irreversível e pode causar cegueira", explica o oftalmologista Roberto Galvão Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) e sócio-diretor do Instituto de Olhos do Recife.

Existem quatro tipos de glaucoma (veja quadro), mas o mais comum, que afeta cerca de 80% dos portadores, é o glaucoma primário de ângulo aberto, que só apresenta sintomas na fase avançada¹. "Como a doença afeta a parte periférica do campo visual, ou seja, das laterais para o campo central da visão, o paciente não percebe. Ele só se dá conta quando o glaucoma começa a prejudicar a parte central da visão e, nessa fase, já perdeu 60% ou mais do nervo óptico."

Jacqueline Branco e a filha Viviane, que procurou um oftalmologista após a mãe descobrir a doença
Jacqueline Branco e a filha Viviane, que procurou um oftalmologista após a mãe descobrir a doença - Arquivo pessoal

Foi o que aconteceu com a empresária Jacqueline Branco, 60 anos, de Recife (PE). "Descobri o glaucoma há 30 anos. Sempre usei óculos, mas nunca tinha feito o exame para medir minha pressão ocular. Quando troquei de oftalmologista e ele fez o exame, descobrimos que a pressão intraocular estava nas alturas e perto de 60% do nervo óptico já estava comprometido", conta.

Segundo Galvão Filho, o glaucoma primário é mais comum nas pessoas com mais de 40 anos, mas a incidência maior é após os 60 anos. "Precisamos ensinar às pessoas que existem fatores de risco para o glaucoma e quem tem um desses fatores precisa ir ao oftalmologista pelo menos uma vez por ano."

Com o objetivo de alertar a população sobre os sintomas e sinais do glaucoma, a SBG e a Allergan, uma empresa AbbVie, apoiam a campanha Abra os Olhos para o Glaucoma. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 1,5 milhão de pessoas têm a doença².

Galvão Filho afirma que o principal fator de risco é o histórico familiar, já que o glaucoma é uma doença genética hereditária (veja quadro). "A hipertensão arterial, o diabetes e a miopia também são fatores de risco importantes. A doença também tem maior probabilidade de acometer a população negra. No Brasil, temos uma forte miscigenação e mesmo pessoas com a pele um pouco mais clara podem ter ancestrais que passaram os genes associados do glaucoma."

O oftalmologista explica que o diagnóstico do glaucoma é feito por meio da medição da pressão intraocular e verificação do nervo óptico, realizado por exame de fundo de olho.

"Quanto mais cedo começar o tratamento, mais simples será. Se o diagnóstico é precoce, o glaucoma pode ser controlado. Mas é fundamental que a doença seja descoberta o mais cedo possível. "

Segundo o especialista, os colírios tratam 80% dos glaucomas. "Mas tem que usar a vida toda, todo dia. Se o colírio não funcionar, existem tratamentos adicionais, como laser e cirurgia."

Jacqueline acabou tendo que fazer a cirurgia uma semana depois do diagnóstico e usa colírios até hoje. "Apesar de ter descoberto o glaucoma em um estágio avançado, a doença foi controlada. O médico me fez entender que dali para a frente eu também seria responsável pela minha visão, não só ele", conta.

Depois que recebeu o diagnóstico da doença, a empresária levou os dois filhos ao oftalmologista e descobriu que a filha, na época com 14 anos, também tinha a pressão intraocular elevada. "Ela também começou o tratamento com colírios." Viviane Branco tem 34 anos, faz tratamento para pressão intraocular aumentada, mas não tem lesão no nervo óptico.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 19 procedimentos para acompanhamento, avaliação e tratamento do glaucoma. Para serem encaminhados aos Serviços de Atenção Especializada, os pacientes devem, primeiro, procurar uma unidade básica de saúde³. O sistema privado de saúde tem cobertura, conforme cada contrato, para consultas, acompanhamento, cirurgias e determinados tipos de procedimento.

Galvão Filho afirma que o exame Tomografia de Coerência Óptica (OCT) consegue diagnosticar o glaucoma oito anos antes de qualquer lesão no nervo óptico. "Ele é indicado para pacientes com algum dos fatores de risco; está disponível no SUS e tem cobertura dos planos de saúde suplementar."

Para mais informações sobre a campanha Abra os Olhos para o Glaucoma e outras condições de saúde ocular, acesse www.visaoemdia.com.br, ou pelo canal @visaoemdia.

Referências:

1 - https://www.visaoemdia.com.br/glaucoma/

2 - Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde e Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO)

https://bvsms.saude.gov.br/26-5-dia-nacional-de-combate-ao-glaucoma-5/

3 - https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/glaucoma-diagnostico-precoce-e-tratamento-evitam-perda-da-visao

4- Sociedade Brasileira de Glaucoma: https://www.sbglaucoma.org.br/