Diagnóstico precoce e tratamento adequado possibilitam qualidade de vida a pacientes com psoríase e artrite psoriásica

O avanço da medicina nas últimas décadas torna o momento presente mais promissor para o tratamento de doenças como a artrite psoriásica e a psoríase, que afetam a qualidade de vida dos pacientes e, em casos graves e não-tratados, podem levar à incapacidade física.

A psoríase é uma doença inflamatória da pele, crônica e não contagiosa, manifestada por placas avermelhadas, que descamam e coçam. As lesões aparecem em geral nos cotovelos, joelhos e no couro cabeludo. Uma em cada três pessoas com psoríase pode desenvolver a artrite psoriásica que, além das manifestações na pele, provoca inchaço, rigidez e dor nas juntas, comuns na artrite.

Para discutir a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para a qualidade de vida dos pacientes a jornalista Angélica Banhara entrevistou o reumatologista Marcelo Pinheiro, presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia, Wagner Galvão, dermatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Hospital Sírio Libanês, e Thays Ciconi, criadora do site Amigos com Psoríase. O vídeo, produzido pelo Estúdio Folha em parceria com a AbbVie, pode ser acessado acima.

"Na faculdade de medicina e na residência, víamos deformidades articulares causadas pela artrite psoriásica que nos desesperavam, porque a dermatologia não tinha muito a oferecer. Mas as opções de tratamento mudaram. Hoje somos mais ambiciosos porque temos muito o que fazer. Por isso insistimos que os pacientes procurem ajuda", afirma Galvão.

Se o diagnóstico da psoríase nem sempre é fácil fora dos grandes centros, o da artrite psoriásica pode levar anos. "A jornada do paciente com a artrite é muito longa. O paciente com psoríase tem isso na pele e as pessoas conseguem ver. A doença reumática muitas vezes não é fácil de diagnosticar. A dor é uma coisa subjetiva, e o paciente que sofre com ela muitas vezes é marginalizado", diz Pinheiro.

Por isso a informação é tão importante. Ela ajuda no diagnóstico precoce, na diminuição do preconceito em relação à doença (muitas pessoas ainda pensam que a psoríase é contagiosa, o que não é verdade) e na luta dos pacientes por acesso aos tratamentos mais modernos.

Compartilhar informações sobre a psoríase e a artrite psoriásica é um dos objetivos do grupo Amigos com Psoríase, criado por Thays em 2011. "Sofri muito com o preconceito das pessoas. A doença afetou minha autoestima e atrapalhou a interação com as pessoas. Me sentia sozinha. Minha vida melhorou muito quando aprendi a aceitar a doença e a conviver com ela. Descobri que eu podia ser feliz com ou sem psoríase."

O grupo, que conta com site e redes sociais, surgiu também para conectar pessoas portadoras dessas doenças, seus amigos e familiares. "É um espaço para conversar abertamente sobre psoríase e artrite psoriásica, tirar dúvidas, informar e levar a essas pessoas a certeza de que elas não estão sozinhas."

COMO TRATAR?

Wagner Galvão explica que, nos casos de psoríase leve, ainda são usados medicamentos tópicos. "A fototerapia também funciona bem para muitos pacientes. Mas a grande mudança aconteceu em 2009, com os medicamentos biológicos. Eles representaram um divisor de águas nos tratamentos." Os medicamentos biológicos são sintetizados a partir de organismos vivos, com uso de alta tecnologia e indicados para tratar doenças raras ou complexas.

"No início havia uma dificuldade de acesso a esses tratamentos pelo alto custo. Em 2018, alguns desses medicamentos foram incorporados ao SUS (Sistema Único de Saúde). Hoje existem nove opções de tratamento com medicamentos biológicos para psoríase e artrite psoriásica, com níveis cada vez melhores de eficácia e de segurança. Quatro deles foram incorporados ao SUS, e um quinto tratamento, aprovado recentemente, deve chegar em breve", disse o dermatologista.

Thays conta a diferença que o tratamento correto fez na sua qualidade de vida. A secretária tem 42 anos, convive com a psoríase desde os 12 e, há dez anos, também com a artrite psoriásica. "A minha vida mudou completamente com o uso dos medicamentos imunobiológicos. A artrite psoriásica chega a ser incapacitante, por conta das dores crônicas e muito fortes", explica. "Tenho a psoríase em placas e a gutata, em que lesões vermelhas em forma de gota se espalham pelo corpo todo. Com um mês e meio de tratamento eu não tinha mais nenhuma lesão na pele. E, em quatro meses, não sentia mais as dores da artrite."

A artrite psoriásica é uma das formas mais graves e mutilantes da artrite. Ela causa muito sofrimento ao paciente e pode levar à incapacidade se não for tratada adequadamente. "Há duas ou três décadas, a doença levava pacientes de 30 anos à aposentadoria precoce. Os imunobiológicos realmente representaram uma revolução no tratamento", afirmou Pinheiro.

O reumatologista, no entanto, ressalta que nem todo mundo vai precisar desse tipo de medicamento. "Existem formas leves da psoríase que melhoram com a exposição ao sol. Mesmo no caso da artrite, existem formas leves da doença."

Ele reforça também a importância de que os pacientes adotem algumas mudanças de hábito que vão fazer toda a diferença na qualidade de vida: se expor regularmente ao sol, não fumar e controlar o peso, para evitar a sobrecarga nas articulações e uma inflamação ainda maior do organismo.

"Vivemos um momento de maior acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos mais eficientes. A tendência para as próximas décadas é que o comprometimento das articulações seja cada vez menos frequente. Porque, se a psoríase for tratada adequadamente com os medicamentos disponíveis hoje, esperamos que ela não evolua para a artrite", disse Pinheiro.

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