Valorizar a sabedoria da floresta

Divulgação/Natura
Sementes de Ucuuba, espécie que estava ameaçada de extinção

Muitos dos moradores das comunidades ribeirinhas de Afuá, uma pequena cidade no interior do Pará, desconheciam o potencial das sementes de Ucuuba, árvore de madeira clara que costumavam derrubar e vender a R$ 10 para ser transformada em cabos de vassoura.

O conhecimento ancestral de que aquelas sementes vermelhinhas têm o poder de regenerar a pele estava desaparecendo, assim como a própria Ucuuba. Depois de anos analisando o potencial genético e a composição química da planta, os cientistas da Natura deram um novo rumo a essa história.

Não é de hoje que a Natura, maior multinacional brasileira de cosméticos, sabe que a floresta em pé traz muito mais riquezas às pessoas e ao planeta do que explorada de forma predatória. Essa relação teve início há 20 anos com o lançamento da marca Ekos, criada com a missão de conectar a ciência e a natureza para desenvolver cosméticos de alta perfomance e, ao mesmo tempo, conservar a Amazônia e os conhecimentos da floresta e dos que vivem nela.

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Agora, as famílias de Afuá ganham, em média, cinco vezes mais mantendo a Ucuuba viva e com a extração das sementes que serão transformadas em manteiga, base de uma das linhas de produtos Ekos. Mas elas não estão sós: mais de 5.162 famílias de 33 comunidades fornecem bioativos para a Natura. Essa estratégia de uso sustentável da biodiversidade em parceria com comunidades agroextrativistas contribui para a conservação de nada menos do que 1,8 milhão de hectares, o que equivalente a 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

"Fomos os primeiros a chegar à Amazônia com esse olhar, de pensar em um modelo de negócio que potencializasse tanto a conservação quanto o desenvolvimento social da região", afirma Denise Hills, diretora global de Sustentabilidade da Natura. Segundo ela, o primeiro passo para iniciar um negócio sustentável na Amazônia é criar um relacionamento com as comunidades locais, reconhecer e valorizar os conhecimentos tradicionais e atuar de forma coletiva.

Ao investir em tecnologia para transformar os ingredientes da floresta em produtos únicos, a Natura impulsiona uma rede de parceiros e colabora com o desenvolvimento local dos territórios onde estão as comunidades, inclusive com projetos socioambientais decorrentes da repartição de benefícios. "É a própria comunidade que, com o apoio de ONGs, do poder público e de outros parceiros define para onde vai esse dinheiro. Pode ser para projetos de conservação de tartarugas, por exemplo, para cursos de capacitação ou para saneamento básico, já que a falta de água potável, mesmo em uma região de recursos naturais tão abundantes, é um dos principais problemas nessas comunidades", afirma Mauro Costa, gerente de relacionamento e abastecimento com comunidades da Natura.

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Além da assessoria técnica para garantir boas práticas de manejo, a empresa incentiva que as próprias comunidades agreguem valor à matéria-prima, apoiando a construção de miniusinas para transformar as sementes em óleo ou manteiga.

Os resultados econômicos, sociais e ambientais obtidos pela Natura acabam incentivando outras empresas a acreditar na bioeconomia. Até porque o consumidor hoje não está atento apenas a origem do produto, mas quer também saber o impacto que ele causa ao ambiente e à sociedade.

"As pessoas estão cada vez mais conscientes que têm o poder de escolha e querem saber se o produto que estão comprando contribui, ou não, para um mundo melhor. Sustentabilidade deixou de ser uma palavra desconhecida", afirma Claudia Pinheiro, diretora global da Natura Ekos.

Ainda há muito a avançar em relação à conservação e à valorização da bioeconomia na Amazônia, diz ela, mas é inegável que toda essa discussão foi amplificada nos últimos tempos. "Estamos na Amazônia há 20 anos e cada vez mais as pessoas nos perguntam o que, de fato, a gente faz para manter a floresta em pé e valorizar as pessoas que estão lá."

ECOPARQUE

A criação do Ecoparque em 2014, no Pará, deu um novo impulso ao desenvolvimento local. "Hoje somos um dos atores relevantes para mostrar que esse modelo é viável e outras empresas podem fazer parte e trazer mais negócios com impactos sociais e ambientais positivos", diz Denise Hills.

No Ecoparque, há uma equipe de pesquisadores de campo que aliam conhecimentos científicos e das comunidades locais para identificar novos insumos potenciais. Ao descobrir uma nova semente, ela é enviada ao laboratório. "Aí começa o nosso trabalho para desenvolver, identificar e comprovar a vocação cosmética de um novo ingrediente. Fazemos um estudo aprofundado de composição química da planta, semente, folha ou fruto, e a maneira mais efetiva de extraí-los, através de processos verdes. O ingrediente obtido, óleo, manteiga e/ou extrato, tem seu benefício cosmético comprovado através de alta tecnologia. É preciso muita alta tecnologia para desenvolvimento de ingredientes eficaz e seguros", explica Cintia Ferrari, gerente científica da área de Ingredientes Naturais da Natura.

Além do Patauá, da Ucuuba e da Andiroba, a Natura usa cerca de 40 bioativos da Amazônia. Mas há inúmeros outros a serem descobertos. Cientistas calculam que, de 2010 a 2019, mais de mil novas espécies foram identificadas na Amazônia.

Essa riqueza ainda a ser descoberta, a diversidade cultural que abriga e a importância que tem em âmbito local e global tem mobilizado cada vez mais o planeta em defesa da Amazônia. A Natura e outras empresas brasileiras e estrangeiras se uniram para cobrar medidas mais efetivas para conter o desmatamento ilegal. "A Natura sabe que existe um valor inestimável na floresta. Nós estamos provando que é possível um modelo de negócios que conserve e gere impactos positivos às comunidades locais", afirma Denise Hills.

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