Floresta garante chuva para Brasil e América do Sul

Lalo de Almeida - outubro.2019/Folhapress
Reserva Biológica Morro dos Seis Lagos, na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM)

Se existe um ponto pacífico em relação à Amazônia é o fato de que, sem ela, o clima do mundo irá pifar. Manter a exuberância da floresta e de toda a vida ao seu redor é crucial para preservar o padrão de chuvas não apenas no Brasil Central mas em todo o planeta.

Um bloqueio total dos chamados rios voadores, massas de ar carregadas de água que alimentam o resto do país a partir da região amazônica, pode eliminar, em média, 25% das chuvas do território brasileiro. Mas não só aqui.

Os cientistas já identificaram elos climáticos importantes entre a região amazônica, o restante do Brasil e toda a América do Sul. Um das ligações praticamente diretas a partir da floresta é com a região do Brasil Central, onde grande parte do agronegócio brasileiro se desenvolve. Neste ciclo, fica claro que a floresta preservada é garantia de chuva e, portanto, de vida para as lavouras.

Por volta de 95% da água usada na agricultura brasileira vem da chuva, e apenas 5% é fruto de processos de irrigação. Se o desmatamento que já consumiu 20% da área original da floresta não for contido, o Brasil não conseguirá se manter como uma das maiores potências agrícolas mundiais.

"A interdependência entre a Floresta Amazônica e os brasileiros é muito maior do que cada um de nós imagina. Se bem usada e bem preservada, a Amazônia irá sustentar a nossa saúde, a nossa agricultura, nossa indústria e enriquecer a nossa cultura.", afirma Marcos Buckeridge, botânico e diretor do Instituto de Biociências da USP.

RIOS VOADORES

O fenômeno dos rios voadores, bastante estudado há anos por pesquisadores do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) além de outros institutos, é bastante didático.

As árvores da Amazônia absorvem a umidade que evapora no vizinho oceano Atlântico. Todo esse vapor chega empurrado pelos ventos e despenca sobre a mata em forma de chuva. O sol tropical gera mais evapotranspiração das plantas, o que deixa o ar amazônico carregado de umidade, parecendo uma sauna.

As massas de ar, com muito vapor d'água, continuam seu caminho para o oeste e encontram um obstáculo natural de até 4.000 metros de altura, a Cordilheira dos Andes. Esse bloqueio provoca muita chuva, alimentando os rios da região, que concentra 20% da água doce do planeta.

O vapor que não precipita dos rios voadores toma a direção Sul e vai chegar a todas as regiões do Brasil com mais ou menos intensidade, a depender da época do ano e de outras variáveis climáticas.

Sem mata, não haverá tanta umidade no ar, por meio da evaporação das plantas, e os rios voadores vão secar. Isso provocará mudanças climáticas importantes em toda a América do Sul.

"A solução para a Amazônia é o desenvolvimento de um sistema de governança que enfrente as questões tanto locais quanto globais. O planeta é um só. A atmosfera também é uma só. Nem o Brasil nem nenhum outro país do mundo está isolado", afirma Paulo Artaxo, físico da USP e um dos principais especialistas em mudanças climáticas do mundo.

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