A maior biodiversidade do planeta está aqui

Marcio Melo - ago.2019/Folhapress
Tucano de peito branco encontrado na região da Amazônia

Os superlativos atrelados ao ecossistema amazônico dificilmente podem ser usados para outras regiões do planeta. Vivem na floresta 60 mil espécies de plantas, mamíferos, répteis, invertebrados, anfíbios, peixes e pássaros.

A maior biodiversidade do planeta, cerca de 15%, está na região. Como parte dessa riqueza ainda é desconhecida, a justificativa para uma política árdua de preservação da floresta está mais do que presente, segundo os pesquisadores.

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Onça pintada na selva amazônica

"Estamos falando de 60 mil genomas que funcionam de forma distinta. Em processos que geram padrões genéticos que podem conter a cura ou o alívio de praticamente todas as doenças, entre elas aquelas que ainda nem conhecemos", afirma Marcos Buckeridge, botânico e diretor do Instituto de Biociências da USP.

Segundo o cientista, se a esses genomas forem acrescidos os ainda largamente desconhecidos microorganismos, como os protozoários, os fungos, as bactérias e os vírus, o número de informação a ser desvendada aumenta em algumas ordens de grandeza.

"Além de ajudarem a conhecer e curar doenças, os microrganismos também servem para desenvolver processos industriais e manter a agricultura funcionando. Em conjunto, a vida na biodiversidade amazônica pode oferecer uma gama gigantesca de materiais que podem vir a ser os biomateriais do futuro", afirma o pesquisador da USP.

Fernanda Preto /Folhapress
Uma das inúmeras espécies de pássaro

Diante da grande biodiversidade que vive na maior bacia hidrográfica do planeta, existe uma corrida entre os cientistas para identificar não apenas novas espécies mas também áreas geográficas que devem estar na lista de prioridades das políticas públicas de proteção florestal.

Uma pesquisa publicada em 2016 por um grupo da Universidade Federal de Minas Gerais mostrou com detalhes onde está parte dos locais mais biodiversos da Amazônia conhecidos até hoje. O trabalho, assinado por Ubirajara de Oliveira e colaboradores, revelou que 8% do ambiente amazônico tem uma composição de espécies praticamente única e, por isso, deveria estar na lista de alta prioridade de conservação de qualquer esfera de governo.

Fernanda Preto - jan.2005/Folhapress
Espécie de anfíbio da família Hylidae

As manchas, que somadas cobririam uma área aproximada de 40 mil quilômetros, estão espalhadas pelos estados que abrigam a floresta tropical. O que mostra como a vida, ao longo do tempo, floresceu de forma sistêmica por toda a região. Como ainda falta conhecer vários cantos da região com mais profundidade, novas áreas especiais estão por vir. É comum, a cada ano, a descrição de novos locais e de espécies inéditas por parte dos cientistas.

"Se hoje falamos em soluções baseadas na natureza para o futuro da humanidade, a riqueza existente na Amazônia não está nem na categoria de abundância, mas de fortuna", afirma Buckeridge.

RESTAURAÇÃO FLORESTAL ESTIMULA A ECONOMIA

O conhecimento científico acumulado pelos grupos de pesquisa no Brasil é mais do que suficiente para ajudar a revigorar a parte desmatada da Amazônia, inclusive com geração de emprego e renda para os povos da floresta, segundo Carlos Joly, botânico da Unicamp e presidente da A MAIOR Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. O programa apresenta soluções não apenas para a Amazônia mas para todos os ecossistemas nacionais.

"No caso específico da Amazônia, de fato, há grandes regiões que poderiam se beneficiar de projetos de restauração. Temos conhecimento suficiente sobre as etapas iniciais de coleta de sementes, tentando manter a maior variabilidade genética, produção de mudas e desenhos experimentais de como fazer os plantios", diz Joly.

Pelos dados da plataforma, a cada mil hectares de área desmatada a ser restaurada, a estimativa é que até 200 empregos diretos possam ser criados por meio de coletas de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção das áreas. Para cumprir a meta de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, o número de empregos gerados ficaria entre 112 mil e 191 mil. Os cálculos consideram todo o país e não apenas a Amazônia.

No caso específico do ecossistema amazônico, a grande solução que os cientistas vislumbram é atrelar a regeneração da floresta ao seu aproveitamento econômico, o que pode ser feito por meio da produção de castanhas, do açaí, da palma e de vários outros produtos que crescem na floresta e precisam que ela permaneça em pé para a produção prosseguir.

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