Risco de câncer de pulmão atinge também quem nunca foi fumante

Tosse e falta de ar não são sintomas exclusivos do novo coronavírus. São também o principal alerta para o câncer de pulmão, o que mais mata no mundo, excluindo o câncer de pele (melanoma). Mas diferentemente da Covid-19, que tem características agudas, a tosse que pode indicar um câncer de pulmão se arrasta por mais tempo.

Embora o principal causador do câncer de pulmão seja o tabagismo, os não fumantes também precisam ficar atentos, pois há outros fatores que provocam a doença. O médico Pedro De Marchi, oncologista de cabeça, pescoço e tórax da Oncoclínicas em Botafogo, no Rio de Janeiro, tem um caso emblemático de uma paciente não fumante que chegou até ele já em estágio avançado devido à crença geral, inclusive de alguns médicos, de que só o fumante desenvolve esse tipo de câncer.

A paciente começou a ter uma tosse que não passava. Após três semanas, procurou um pneumologista, que solicitou um raio X e detectou uma lesão suspeita para câncer de pulmão, com indicação para continuar a investigação. O médico solicitou uma tomografia, que detectou a mesma lesão.

Apesar das evidências, a possibilidade de câncer foi descartada, já que a paciente nunca fumou. Alguns meses depois, o pneumologista pediu uma nova tomografia, e a lesão, que tinha 2 cm no primeiro exame, já estava com 4 cm.

A paciente decidiu buscar uma segunda opinião, uma vez que a tosse persistia. "Quando a consultei e realizamos novos exames, o câncer já se encontrava em metástase", diz De Marchi. A metástase ocorre quando uma célula do tumor inicial cai na circulação sanguínea e se espalha por outros órgãos.

O caso da paciente carioca ilustra a necessidade de uma maior conscientização acerca das várias possíveis causas do câncer de pulmão.

O tabaco é, sem dúvidas, o maior vilão, mas há outros desencadeadores da enfermidade, como exposição a elementos químicos, como radônio, arsênio, crômio e berílio, por exemplo. Poluição e hereditariedade também são fatores de risco.

"Se você tem um sintoma respiratório que dura mais do que duas ou três semanas, é preciso fazer uma avaliação médica, mesmo que não seja fumante. Não é normal ter uma tosse persistente. Ainda que não seja câncer, tem grande chance de ser outra doença grave, como uma tuberculose", alerta De Marchi.

O câncer de pulmão mata cerca de 1,8 milhão de pessoas por ano no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. "O número é alto por se tratar de um câncer agressivo, que cresce e desenvolve metástase rapidamente", explica De Marchi.

Para complicar, na maioria das vezes, é assintomático no início. "Quando começam a aparecer os sintomas, em geral a doença já está avançada e com metástase. No Brasil, principalmente no sistema público de saúde, de 60% a 70% dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão já estão no contexto de doença incurável", diz. "Em Barretos, quando trabalhava apenas com o sistema público, 73% dos casos já eram metastáticos."

A dificuldade de acesso a diagnóstico e tratamento, principalmente no sistema público, é outro grande problema. É uma doença agressiva, que não pode esperar. "Dois ou três meses perdidos para conseguir o atendimento ou para fazer uma tomografia significam, muitas vezes, a morte do paciente, antes mesmo de se iniciar o tratamento", enfatiza.

Outro complicador é a ausência de um protocolo de exames de rastreamento para a identificação precoce da doença. O diagnóstico precoce é feito, por exemplo, para identificar o câncer de mama, com a mamografia periódica depois de determinada idade, e para o câncer de próstata. Para o de pulmão, o que existe é o programa de rastreamento usando tomografia com baixa dose de radiação. Porém, ela é indicada apenas para tabagistas acima de 55 anos e não está disponível no sistema público.

Mesmo nos convênios médicos, é necessário que haja um programa de rastreamento mais complexo, pois só a tomografia não basta, diz o médico. A investigação envolve biópsia e a participação de outros profissionais.

O paciente enfrenta uma jornada complexa até obter o diagnóstico preciso e a definição do tratamento adequado.

Há iniciativas que buscam dar agilidade a essa jornada, como o Inova HC, do qual a AstraZeneca faz parte. Trata-se de um complexo de saúde dentro do Hospital das Clínicas que reúne startups, empresas, investidores e pesquisadores.

É um hub de inovação 100% focado em health techs, com objetivo de reunir as melhores cabeças, produtos e tecnologias para criar, testar e expor soluções de saúde que irão impactar a realidade das pessoas e empresas em um futuro próximo.

O projeto abrange doença pulmonar crônica, asma e câncer de pulmão, e atua desde a prevenção até a utilização de inteligência artificial para o diagnóstico precoce e o estadiamento do câncer.

Agosto foi instituído como o mês em que se concentram campanhas de conscientização e de luta contra o câncer de pulmão. O objetivo é divulgar informações e ações que ajudem as pessoas a ficarem atentas e a procurarem um médico quando necessário. O diagnóstico precoce é fundamental para elevar as chances de cura do câncer de pulmão.

Campanhas como o #RespireAgosto, do Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL), divulgam informações sobre sintomas, meios de diagnósticos e melhores formas de tratamentos.

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