"O Brasil não pode ficar de fora" é uma frase recorrente nos discursos da The Green Hub (TGH). A empresa quer conectar o Brasil com o mundo dos negócios da Cannabis e, para isso, trabalha para destravar o tema no cenário nacional.
Primeira aceleradora do mercado nacional, fundada há seis anos, a empresa tem aberto caminhos internacionais para os brasileiros que querem investir no exterior, assim como para estrangeiros que se interessam pelo mercado nacional. Por meio do desenvolvimento de novos negócios, a aceleradora já engloba um portfólio de 19 empresas que atendem diferentes mercados beneficiários da Cannabis.
Outra frente que vem ganhando fôlego é a das parcerias estratégicas, já firmadas no Canadá, nos EUA e mais recentemente no Paraguai. Elas funcionam como extensões da TGH para atender aos interesses dos clientes.
É o caso justamente do cânhamo industrial, um mercado em ascensão mas que é travado no Brasil por falta de um marco regulatório. Aqui é proibido cultivar e até mesmo importar a matéria-prima para a produção de qualquer mercadoria. "Com a parceria firmada com a empresa paraguaia Healthy Grains, que já tem expertise e infraestrutura no ramo, podemos levar startups para fabricar produtos derivados do cânhamo no Paraguai", diz Marcel Grecco, fundador e CEO da TGH. "Mais do que isso, a partir do Paraguai existe a possibilidade de a mercadoria ser vendida para o mundo todo."
Os paraguaios elaboraram uma regulação específica para o cultivo e comércio do cânhamo industrial – o uso recreativo da Cannabis segue proibido. Ao contrário do Uruguai, que exporta a commodity in natura, o Paraguai se diferenciou por vender produtos industrializados, como condimentos elaborados com óleo da semente do cânhamo. "Entendemos a Cannabis como uma inovação e assim desenvolvemos toda a linha de consultoria e metodologia para o negócio", diz Marcel.
As escolhas dos parceiros e das startups aceleradas são realizadas dentro de padrões sustentáveis, que se alinham às diretrizes da ONU (Organização das Nações Unidas) para o meio ambiente e aos princípios ESG (Environmental, Social and Governance). A visão adotada dentro do ecossistema da empresa está alinhada ao que ela projeta para todo o mercado. Não por outro motivo, o maior propagador de impacto dessa visão é o Cannabis Thinking, o evento que se repetiu pelo quarto ano consecutivo, em setembro, no CIVI-CO, polo de iniciativas de impacto social onde está a sede da The Green Hub em São Paulo.
A tese da TGH é desenvolver o portfólio de startups atuando nos diversos nichos do setor. Neste grupo, atualmente, há 19 empresas desenhadas para solucionar problemas do mercado da Cannabis. Entre elas está a Adwa, de melhoramento genético da planta, com foco na redução de custos e aumento da produção do cultivo em escala. A empresa tem sede em Viçosa, Minas Gerais.
À frente dos negócios está o agrônomo Sérgio Rocha, diretor e idealizador, que fechou um acordo de cooperação técnica com a Universidade Federal de Viçosa, onde é pesquisador. "Isso possibilitou que eu entrasse com pedido na Justiça de autorização de plantio da Cannabis com finalidade científica", conta Rocha. "A empresa surgiu dentro de uma das universidades com maior aptidão à inovação agrícola. Por isso, também investigamos outras soluções, como o desenvolvimento de defensivos e fertilizantes mais adequados." Atualmente, o município de Viçosa é considerado o Vale do Silício da Cannabis brasileira.
Outra empresa que está sob o guarda-chuva da TGH é a Scirama, startup de base biotecnológica para pesquisa, desenvolvimento e inovação com foco em substâncias psicodélicas. Entre as pesquisas, os principais alvos são saúde mental, doenças neurodegenerativas e redução de inflamação. A Scirama tem no seu pipeline o desenvolvimento de inovações através de substâncias derivadas dos cogumelos como a psilocibina, substâncias que compõem o chá de ayahuasca, cetamina e os próprios canabinoides. A TGH fez um investimento inicial na empresa de R$ 1,5 milhão em 2021. A Scirama captou mais R$ 2,5 milhões neste ano, e busca captar mais R$ 10 milhões para o desenvolvimento dos projetos em 2023.
A necessidade de coletar e estruturar dados sobre o mercado da Cannabis que possam subsidiar a sociedade com informações sobre o tema deu origem ao Ipsec (Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas da Cannabis), incubado desde 2020. Hoje faz parte do portfólio do hub. Em 2021, o Ipsec articulou a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Cannabis Medicinal e do Cânhamo Industrial, na Assembleia Legislativa de São Paulo, em parceria com o deputado Sérgio Victor (Novo-SP). Depois de uma série de audiências públicas abertas à sociedade, encerradas neste ano, o deputado fez um pedido formal ao governador pelo fim do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os óleos de Cannabis. Também está sendo feito um trabalho para a aprovação do PL 1.180, de autoria do deputado Caio França (PSB-SP), que trata do fornecimento de medicamento à base de Cannabis pelo SUS.
Atualmente o Ipsec monitora o ambiente legal da Cannabis. O trabalho é realizado por meio de um software para acompanhar o andamento de projetos sobre o tema apresentados nas principais casas legislativas.
Toda essa coleta de dados gera informações atualizadas para o serviço de consultoria, que é um dos braços de atuação da TGH. "Somos procurados, por exemplo, por empresas interessadas em prospectar o mercado para avaliar desenvolvimentos e investimentos no setor. Apresentamos parâmetros das possibilidades, dos entraves e das perspectivas futuras", conta Marcel.
Boas notícias não faltam para quem quer entrar no mercado. "Fizemos uma projeção a partir de um ambiente hipotético de marco legal da Cannabis Medicinal e Cânhamo Industrial no país através do projeto de lei 399 que foi aprovado na comissão especial e agora está aguardando para ser votado no plenário do Congresso", diz Marcel. "Os estudos compreenderam três verticais – medicinal, industrial e bem-estar. Jogando com os parâmetros de crescimento do mercado canadense e americano, chegamos à conclusão de que aqui a planta poderia movimentar R$ 20,3 bilhões por ano a partir do quinto ano após o marco regulatório".