Agenda ASG pode ser central para desenvolver o país

Questões socioambientais e de governança perpassam por todos os setores de atividade que demandam seguros

ASG. Essas três letras, referentes a compromissos socioambientais e de governança, já vinham sendo tratadas por muitas empresas. Mas a pandemia da Covid-19 disparou o alerta de urgência para esses temas que podem ser excelentes oportunidades para o mercado segurador.

Outros focos são sustentabilidade, no qual o setor é uma de suas principais lideranças, e diversidade, que contempla a inclusão de saberes, equidade de gêneros, cores, raças e etnias, entre outras.

Conforme frisou Marcio Coriolano, presidente da CNseg, o setor de seguros, em que o risco é a razão de ser de sua existência, não ficou de fora, pois o tema ASG impacta a atividade em suas duas pontas: nos riscos cobertos e na gestão das garantias financeiras que suportam os riscos assumidos.

"O setor depende, crucialmente, de questões ambientais, sociais e de governança, visto que a matéria prima do seguro é o risco. Os riscos ASG perpassam todos os setores de atividade que demandam seguros", afirmou Coriolano, que destacou o montante de R$ 1,4 trilhão em provisões técnicas necessárias para mitigar riscos, incluindo ASG.

O setor financeiro também aderiu à agenda ASG. A BlackRock, maior gestora de ativos no mundo, com US$ 2,4 trilhões sob seus cuidados, anunciou que, no centro de sua política de investimentos, estão critérios ASG.

Já o diretor-executivo do Pacto Global da ONU, Caio Pereira, vê maior inserção de stakeholders em ASG. "As empresas e o mercado financeiro estão refletindo essa pressão da sociedade. Antes, era difícil reunir CEOs em defesa dessa agenda. Hoje, não há qualquer desafio nesse sentido."

Coriolano citou ainda a transição para uma economia de baixo carbono como mais uma oportunidade para o setor. O economista e ecologista Sergio Besserman concorda: "O Brasil é o único país do mundo que, caso a economia global vá realmente para o baixo carbono, ganhará inserção e competitividade".

Por isso, Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade da MAPFRE, afirmou que o setor precisa estar preparado para compreender que tais questões podem ser vistas como riscos, mas também um diferencial competitivo. "Nosso dever de casa é entender como essas questões podem ser integradas nos processos de análises e subscrição de risco, e na inovação para criar oportunidades ASG."

Sobre sustentabilidade, Solange Beatriz Mendes, diretora-executiva da CNseg, afirmou que o mercado segurador brasileiro é líder em sustentabilidade. "O Brasil é o país com o maior número de signatários nos princípios para sustentabilidade em seguros, o PSI, constituído pela ONU para ser uma referência mundial para o mercado segurador."

Outro tema que aumenta a necessidade de mitigar riscos são as mudanças climáticas, com ondas de calor e incêndios e inundações. Mais uma vez, o setor de seguros tem sido estratégico nos gerenciamentos desses riscos por já ter incorporado a agenda ASG.

DIVERSIDADE E INCLUSÃO

Para Luana Génot, fundadora do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), a diversidade "contempla saberes, gêneros, pessoas com deficiência, cores e raças e etnias. Por excelência, todos os ambientes são diversos porque as pessoas são diferentes".

"Porém, inclusão é dar um passo além e fazer um movimento para incluir os grupos que estão sub-representados nesses ambientes", disse Génot. Para isso, é preciso um plano que permita inovação e amplie a representatividade.

Patrícia Coimbra, vice-presidente da SulAmérica Seguros, afirmou que diversidade e inclusão melhoram o relacionamento na sociedade.

Luana Genot
Luana Genot - Divulgação
"Diversidade traz decisões mais robustas, permite inovação, atrai e retém talentos e traz representatividade de clientes e parceiros"

Luana Génot, fundadora do Instituto Identidades do Brasil

MITIGAR RISCOS

O setor de seguros tem o importante papel de mitigar os riscos à vida e à saúde que vêm sendo causados pelas mudanças climáticas. Conforme previsto pela ONU, 2021 ficará marcado por uma série de eventos climáticos extremos, gerando mortes e prejuízos.

O seguro paramétrico, por exemplo, é uma alternativa de mitigação dos riscos climáticos, sobretudo para os mais vulneráveis. Outro é o microsseguro, com simplificação das condições contratuais e com produtos inclusivos.

Ivani Benazzi de Andrade, superintendente da Bradesco Seguros, defende ainda a busca de parcerias públicos privadas, pois "os riscos climáticos são o grande desafio que a humanidade tem para solucionar, hoje".

Paulo Costa, assessor do diretor do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), disse que o instituto produz informações de mitigação de risco. "O Inmet vem se estruturando e fomentando esse mercado de índice paramétrico para que todos tenham um seguro mais adequado."