Incentivar o autocuidado, ampliar os investimentos e reduzir as desigualdades no acesso à saúde são as principais lições aprendidas com a pandemia de Covid-19, que, segundo o médico sanitarista Gonçalo Vecina, ainda fortaleceu o entendimento de que a saúde é um bem público e uma das responsabilidades do estado.
"Ela pode ser fornecida pelo setor público ou privado, porém o estado precisa garantir um aparato regulatório para suprir as desigualdades no acesso à saúde", afirmou Vecina, que é professor da USP e da FGV e ex-presidente da Anvisa.
Para o sanitarista, o Brasil deve ampliar investimentos em epidemiologia e criar um serviço de alerta epidemiológico que possa prever novos desastres sanitários. "A epidemiologia deve ser vista como ciência fundamental para dar suporte aos planos de saúde e atender às demandas da assistência."
Para Guilherme Hummel, head mentor da eHealth Mentor Institute, metade da população mundial não tem acesso à saúde básica e uma das ferramentas para reduzir as desigualdades a esse acesso seria a introdução de novas tecnologias e o autocuidado. "Este será o século do autocuidado, não tem outra saída para reduzir o acesso aos sistemas de saúde."
Segundo Hummel, a pandemia permitiu que tecnologias já disponíveis fossem utilizadas em maior escala, como a telemedicina e a teleconsulta. Para ele, depois do open banking e do open insurance, em que o usuário compartilha seus dados para receber mais ofertas de serviços, será a vez do open health. "Isso vai reduzir o custeio, melhorar a integração e diminuir a fragmentação, além de trazer outras vantagens aos usuários do sistema de saúde."
João Alceu Amoroso Lima, presidente da FenaSaúde, afirma que a entidade considera o open health muito positivo. "Se é para melhorar o acesso e o mercado, somos a favor." Amoroso Lima falou de privacidade de dados e de outras questões que precisarão ser mais bem desenvolvidas. "O sonho de consumo era que tivesse prontuário eletrônico, mas isso ainda é utopia. As empresas estão começando a enquadrar suas bases."
Amoroso Lima também tratou da revisão do marco regulatório, que está em discussão no Congresso, e afirmou que ela engessa a ampliação do acesso e que a entidade tem contribuído para o debate para aumentar a participação das operadoras. "Cada um que migra para o privado desonera o setor público."
Tecnologia em saúde
Outro tema é sobre os reais benefícios das novas tecnologias na saúde e se seus custos compensam a utilização. Para o especialista em saúde Denizar Viana, professor e pró-reitor da UERJ, "a sustentabilidade do setor de saúde está no tripé acesso da população, qualidade assistencial e sustentabilidade".
Segundo Viana, a ATS (Avaliação de Tecnologias em Saúde) "é uma ferramenta fundamental para melhorar a qualidade do segmento e desafogar o sistema público de saúde, permitindo um aumento da escala e diluição de custo da saúde suplementar".