Carreta leva mamografia a mulheres da região amazônica

Ação percorre cinco estados da Amazônia Legal para permitir que mulheres em vulnerabilidade possam detectar precocemente o câncer de mama e tenham chance de cura

Equipe da carreta quando esteve em Palmas, no Tocantins

Equipe da carreta quando esteve em Palmas, no Tocantins Divulgação

​O câncer de mama é o que mais mata mulheres no Brasil1. O principal inimigo é o diagnóstico tardio, que reduz, e muito, as chances de cura2. A melhor forma de detecção da doença, que muitas vezes é assintomática, é por meio da mamografia, que nem sempre está disponível para quem mais precisa3,4.

Um projeto idealizado pela Daiichi-Sankyo Brasil em parceria com a ONG Américas Amigas busca reduzir essa indisponibilidade. Desde o dia 8 de março, uma carreta do projeto percorre cidades de cinco estados da Amazônia Legal para levar atendimento por especialistas, mamografia e outros exames, como ultrassonografia, a mulheres vulneráveis, incluindo populações ribeirinhas.

Além dos aparelhos para os exames, a carreta conta com mastologista, técnico em radiologia e equipe de enfermagem. A ideia é atender mais de 4.000 mulheres até junho. "Sabemos das dificuldades de acesso dessas mulheres. Queremos que possam fazer os exames e que tenham orientação total. Ninguém sai com resultado inconclusivo. Depois da mamografia, se necessário, são feitos exames complementares, como o ultrassom. Em caso de diagnóstico positivo, há o encaminhamento para serviços de referência", afirma Tatiane Garcia Schofield, diretora de assuntos institucionais da Daiichi-Sankyo Brasil.

A Daiichi-Sankyo é uma farmacêutica global que nasceu no Japão e está no Brasil há 60 anos. É voltada à pesquisa e inovação de medicamentos. "No ano em que comemora 60 anos no Brasil e anuncia sua entrada na oncologia, a Daiichi-Sankyo tem orgulho de liderar uma iniciativa como essa, que visa a detecção e o diagnóstico precoce do câncer de mama para mulheres da região amazônica. Com isso, a Daiichi-Sankyo Brasil renova seu compromisso permanente com o desenvolvimento sustentável da sociedade", afirma Marcelo Gonçalves, presidente da empresa no Brasil.

A., de 66 anos, foi uma das atendidas em Taquari, setor rural de Palmas (TO). Ela só havia feito uma mamografia na vida e nem foi buscar o resultado.

"Gostei do atendimento que recebi dessa vez. As pessoas que falaram comigo, que realizaram os exames foram muito educadas. Saí da carreta com os resultados embaixo do braço, para mostrar na próxima vez em que farei o exame", disse. É a atitude correta, segundo médicos, a de levar os exames anteriores quando da nova consulta.

A. recebeu o diagnóstico negativo, apesar de ter chegado à carreta com dor na mama esquerda. "Graças a Deus não era nada, acho que são dores da idade mesmo."

A Américas Amigas, parceira da ação, é uma entidade que atua em todo o Brasil pela queda da mortalidade por câncer de mama entre a população mais vulnerável. Mirna Hallay de Andrade, gerente geral da entidade, explica que para se candidatar ao atendimento na carreta a mulher precisa fazer um cadastro prévio no site ou diretamente na carreta, onde um profissional faz a triagem. "A previsão era atendermos 65 mulheres por dia. Estamos fazendo um esforço e conseguimos atender 80", explica.

Patyelly Alves Tavares, médica mastologista a bordo da carreta, diz que o projeto possibilita realizar um exame que durante os últimos dois anos ficou esquecido devido à pandemia.

"É importante incluir na rotina anual dessas mulheres a mamografia. Quando o diagnóstico se faz de forma precoce, as chances de cura chegam a 95%5", diz a médica. E convoca: "Mulheres, não tenham medo de fazer a mamografia". Patyelly conta que tem aprendido muito com o projeto. "É gratificante ver a alegria e o agradecimento das mulheres ao realizarem o exame", diz.

Élvio Simões de Oliveira, técnico em radiologia e biomédico que dá apoio nos laudos a bordo, acredita que a ação é também importante para levar capacitação e informação, por meio de vídeos e outros materiais, aos profissionais de saúde da região. São esses profissionais que ajudam as mulheres a se conscientizarem da importância do autoexame e da mamografia e as informam sobre os mitos e verdades acerca do câncer de mama.

"A experiência é gratificante. Fico muito sensibilizado pelas histórias. Em Palmas, por exemplo, havia mulheres que nunca haviam feito o exame. Das quase 800 atendidas, tivemos um número alto de suspeitas, que serão acompanhadas. São histórias que jamais imaginamos e que nos dão esperança para continuar a desenvolver esse trabalho", afirma Oliveira.

O Instituto Nossa Voz se juntou à iniciativa em Belém do Pará e Santarém. Para Nice Tupinambá, jornalista indígena que dirige a entidade, a ação é uma oportunidade rara para mulheres indígenas, quilombolas, ribeirinhas e das periferias das cidades do Pará terem acesso à saúde.

"Estamos falando da Amazônia paraense, que é uma região com carência enorme de estrutura para realizar exames de alta complexidade. Além disso, temos também o baixo acesso à informação. O projeto vai fazer uma diferença enorme na vida de nossas mulheres", conclui.

Referências:

1 - Instituto Nacional de Câncer. Mortalidade. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/dados-e-numeros/mortalidade. Acesso em: 2/05/22

2- Traldi, M.C. et al. Demora no diagnóstico de câncer de mama de mulheres atendidas no Sistema Público de Saúde. Cad. Saúde Colet., 2016, Rio de Janeiro, 24 (2): 185-191.

3 - Hospital Albert Einsten. Cãncer de mama. Disponível em: https://www.einstein.br/doencas-sintomas/cancer-mama Acesso em: 2/05/22

4 - Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama. Brasileiras têm dificuldades para fazer mamografia na rede pública de saúde. Disponível em: https://femama.org.br/site/noticias-recentes/brasileiras-tem-dificuldades-para-fazer-mamografia-na-rede-publica-de-saude/. Acesso em 2/05/22

5 - Sociedade Brasileira de Mastologia. Estudo revela: falta de informação ainda é barreira do câncer de mama. Disponível em: https://sbmastologia.com.br/cancer-de-mama-falta-de-informacao-ainda-e-barreira/. Acesso em: 2/05/22

6 - Instituto Nacional de Câncer. Tipos de Câncer. Câncer de Mama. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama. Acesso em: 2/05/22 às 15h.

7 - Sociedade Brasileira de Mastologia. Sociedades brasileiras recomendam mamografia a partir dos 40 anos. Disponível em: https://sbmastologia.com.br/sociedades-medicas-brasileiras-recomendam-mamografia-anual-a-partir-dos-40-anos/. Acesso em: 2/05/22

8- UFRGS. Quais são as mulheres com alto risco para câncer de mama e como devem realizar o rastreamento?. Disponível em: https://www.ufrgs.br/telessauders/perguntas/quais-sao-as-mulheres-com-alto-risco-para-cancer-de-mama-e-como-devem-realizar-o-rastreamento/. Acesso em: 2/05/22

9- Lei S, et al. Global patterns of breast cancer incidence and mortality: A population-based cancer registry data analysis from 2000 to 2020. Cancer Commun (Lond). 2021 Nov;41(11):1183-1194.

10 - Instituto Nacional de Câncer. Conceito e Magnitude. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/conceito-e-magnitude. Acesso em: 2/05/22