SIEI - Dia 1

No dia 12 de dezembro começou o 3º Seminário Internacional de Educação Integral (SIEI), uma parceria da Fundação Itaú Social com a Fundação SM. A edição deste ano acontece no Sesc Pompeia e tem como tema o "Desenvolvimento Integral e a Aprendizagem: o mesmo direito, várias realidades". Veja como foi o 2º dia do Siei.

Confira o que aconteceu no 1º dia de evento:

16h às 17h30 - Rodas de conversa: Reflexão e práticas em Educação Integral

A última atividade do dia envolveu debates e compartilhamento de experiências acerca de temas e práticas relevantes à agenda contemporânea de educação integral. Confira, na galeria de fotos, algumas delas e saiba o que foi discutido:

14h00 - Painel Práticas de Educação Integral

Este painel visa colocar em debate experiências concretas de redes, escolas e organizações que trabalham em uma perspectiva integral de educação.

Ana Bocchini - Coletivo Escola Família Amazonas - CEFA
Socorro Lages - Diretora da Escola Municipal Professor Paulo Freire - Belo Horizonte
Leida Tavares - Laboratório de Inovação e Criatividade - LABIC - Ipatinga
Lucelina Rosseti Rosa - Curumim do Sesc São Carlos

Práticas de Educação Integral

O Painel Práticas de Educação Integral colocou em debate as experiências concretas de redes, escolas e organizações que trabalham em uma perspectiva integral de educação.

O primeiro exemplo foi o trabalho do Coletivo Escola Família Amazonas (CEFA), que começou em Manaus com um grupo de pais inquietos e hoje atua tanto dentro de escolas como junto à secretaria de Educação. "A gente dialoga e constrói a partir do princípio de que os educadores já tinham o sonho. Pensamos juntos, e não para os educadores. Sempre tendo em mente que qualidade não é nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas sim uma formação integral: é ver educadores e crianças felizes no dia a dia", explicou Ana Bocchini.

Ver gente feliz e protagonista da própria história também é a prioridade da Escola Municipal Professor Paulo Freire, em Belo Horizonte. Por lá, a primeira providência foi integrar a unidade ao bairro de alta vulnerabilidade. "Fomos nos apropriando dos espaços e transformando-os. Primeiro pintamos o muro. Depois fizemos intercâmbio com as famílias e levamos mudas e preparamos os terrenos dos quintais das casas", elenca Socorro Lages, diretora da instituição.

Desde 2008 a escola também oferece aulas de dança e a prática de esportes. "Bacana é ver o protagonismo dos meninos. Hoje, eles voltam dez anos depois para transformar a vida de outros meninos como a deles foi transformada. É o sentimento de estar integrado, porque todo mundo, do porteiro ao professor, todos educam", contou Ana.

Em São Paulo, o projeto Curumim atua com a missão de contribuir com o processo de educação integral num contexto social em que as mulheres chegaram ao mercado de trabalho. O projeto - que funciona em 30 unidades do Sesc no interior e na capital - atende a aproximadamente 3.700 crianças de sete a 12 anos com atividades manuais, de esporte e de saúde. "Levamos em conta dimensão social, emocional, cultural e física", explicou Lucelina Rosseti Rosa, da coordenação do projeto no Sesc de São Carlos." O foco prioritário é o desenvolvimento do brincar, com espaço e tempo para a criança ser quem é."

Respeitar a individualidade e os limites dos alunos é o objetivo do Laboratório de Inovação e Criatividade (LABIC) em Ipatinga, Minas Gerais. O programa, formatado em 2015, articula a educação integral à prática de educação inclusiva. "Radicalizamos o debate. Primeiro universalizamos a educação integral nas 41 unidades da cidade, depois estendemos esse direito também às crianças com deficiência", afirmou Leida Tavares, do LABIC. "Acreditamos que todos, sem exceção, são capazes de aprender. O que fizemos foi garantir que o deficiente também seja protagonista de seu aprendizado."

11h30 - Palestra: Educação e projeto de país

José Miguel Wisnik
Com base no diálogo entre a literatura e a canção popular brasileira, o ensaísta, cantor e professor vai abordar as múltiplas linguagens que contribuem com o desenvolvimento integral das pessoas, ressaltando a importância de considerar a diversidade cultural brasileira nas ações educativas em todo território nacional.
Mediação: Anna Helena Altenfelder

Educação e projeto de país

A educação só pode ser vista como um projeto de país se estiver totalmente integrada à cultura. A fala é de José Miguel Wisnik, um dos palestrantes do 3 º Seminário Internacional de Educação Integral.

"Não estou falando em educação como panaceia ou solução, como um remédio milagroso. Educação não é só transmissão de conteúdo formal. Ela só ganha sentido e se amplia se estiver em relação com o que existe em volta, com a vida e suas formas criativas", disse.

Diego Padgurschi/Estúdio Folha
José Miguel Wisnik inicia sua fala na segunda mesa do SIEI: "A educação só pode ser vista como um projeto de país se estiver totalmente interligada à cultura"

No entanto, do jeito que são vistas e feitas no Brasil, de forma isolada, a educação e a escola não atraem, afirmou o artista."Para os alunos, fica como uma bolha fora do mundo, enquanto a garotada está ligada a outras formas de atração. E assim a linguagem não anda e não damos sentido às coisas que lemos, vemos e escutamos."

Mudar isso, defendeu Wisnik, implica em que escolas e agentes de educação aprendam a criar vínculos, a considerar a diversidade cultural brasileira nas ações educativas em todo o território nacional.

Um dos exemplos narrados por Wisnik é a Experiência Neojiba - núcleos estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, criados pelo pianista Ricardo Castro. Estão no repertório tanto a 9ª Sinfonia de Beethoven como o arranjo para Tico-tico no Fubá - ambos executados por jovens que haviam começado a prática do instrumento pouco antes.

Diego Padgurschi/Estúdio Folha
"Educação não é só transmissão de conteúdo formal. Ela só ganha sentido e se amplia se estiver em relação com o que existe em volta, com a vida e suas formas criativas", explicou o professor

"Como é possível, em tão pouco tempo? E o maestro me explicou: 'A criança, quando aprende uma escala no instrumento, já é multiplicadora, já pode ensinar a outra. Quando vão aprendendo já vão se apresentando, fazendo com que sala de aula e palco sejam permeáveis."

Outro exemplo citado por Wisnik foi o de duas obras expostas no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo: um poema de Gregório de Matos cantado como rap e outro de Carlos Drummond de Andrade na voz de Hermínio Bello de Carvalho e Elza Soares. "Somos uma sociedade mal letrada, mas um povo extremamente musical. A canção ocupa esse lugar, é poesia. Não é o caso de substituir literatura por música popular, mas sim de levantar fronteiras, criar interesse e estabelecer relações", concluiu.

10h30 - Roda de conversa - Trajetórias educativas em diálogo

Com base no relato da trajetória de jovens brasileiros, especialistas são convidados a tecer comentários sobre a proposta da educação integral, considerando elementos como papel da escola, ocupação e aprender no, com e o território e mecanismos de inclusão e equidade.

A primeira mesa do 3 º Seminário Internacional de Educação Integral reuniu, na manhã desta quinta-feira, jovens atuantes em projetos educativos e representantes do terceiro setor que trabalham com o tema. O objetivo foi discutir o papel da escola - sempre considerando a educação integral como um projeto para o país, e considerando o território e os respectivos mecanismos de inclusão e equidade.

"A meritocracia é uma lógica que a gente inventa para não encarar a realidade de frente", provocou logo no início André Gravatá, do Movimento Entusiasmo, coletivo que realiza ações no centro de São Paulo para provocar mudanças profundas no aprendizado, feito a partir da potencialização de conexões no território local. "Quando se fala em trajetória de jovem, a gente precisa falar em desigualdade."

Em seguida, Daniel Remilik, da Redes da Maré, contou como foi nascer e viver até hoje no bairro carioca de 140 mil habitantes e 17 favelas. Com o apoio da mãe, ele conseguiu terminar o ensino médio. Chegou a começar quatro cursos universitários antes de optar pela Pedagogia. A antiga aversão à escola se transformou em gosto por educação: Daniel está na Redes da Maré há sete anos. A instituição oferece várias atividades aos jovens da região, entre elas cursos pré-vestibular e oficinas culturais. " Não entendemos educação como uma coisa isolada. Na Maré, por exemplo, nosso maior problema é a violência. Este ano, foram 40 dias sem aula. Numa trajetória de 12 anos, você perde dois."

Nesse cenário, ter oportunidade de acesso à arte e à cultura é uma experiência que muda vidas, afirmou Mirelle Bezerra da Silva, participante do Conexão Felipe Camarão, projeto que preserva a cultura local em um bairro com cerca de 80 mil habitantes de Natal. "Conheci o projeto na escola, aos nove anos. A primeira vez que vi a rabeca, fiquei deslumbrada.". E nunca mais saiu dali. "Me reconheci e sabia para onde queria ir, apesar de o caminho não ser fácil até hoje."

Assim como não é fácil ser negro e viver nas periferias da cidade, observou Thábata Letícia da Silva, educadora do Programa Jovens Urbanos, que atua em Cidade Tiradentes, bairro da extrema zona leste de São Paulo. "Na adolescência, fazendo curso de artesanato e aulas de vôlei, fui deixando de alisar o cabelo e assumindo minhas tranças. Quando entrei no teatro, ele transformou minha vida."

Educação integral: diferentes modelos e um projeto de país

Os depoimentos foram o pano de fundo para que os outros palestrantes, representantes do terceiro setor, reiterassem na sequência como é importante considerar os muitos desenhos da educação integral para que o Brasil consiga desenvolver o potencial que a sociedade desigual impede dia após dia.

"A educação integral nos tira do lugar. Ela procura saber onde as crianças moram, como vivem", afirmou Pilar Lacerda - diretora da Fundação SM. "É um projeto de país, um país no qual todas as pessoas tenham oportunidade."

"Esses jovens são o símbolo da diversidade ignorada que precisa aflorar. A escala está ali, no poder público, mas a provocação está aqui", acrescentou Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social.

Para Mônica Franco, superintendente do Cenpec, é preciso que a escola se dê conta de que as memórias afetivas das crianças acontecem em espaços que muitas vezes não são vistos como educativos. "O projeto da educação integral não desenvolve só algumas habilidades, ela é a percepção do mundo de uma outra forma, o desenvolvimento humano em sua integralidade e isso faz a diferença", afirmou.

Por fim, Natacha Costa, diretora do Cidade Escola Aprendiz, defendeu a urgência da escola pública ser uma unidade brasileira, que reconheça as identidades, as cisões e as barreiras que os brasileiros enfrentam todos os dias. "Se a escola pública pode ser a máquina de fazer a democracia, precisamos reconhecer quem somos, o que queremos e para onde queremos ir", concluiu.

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