No Festival de Curitiba, "Frequência Ausente 19Hz" e "A Máquina de Ser Outro" dialogam com a tecnologia

O teatro é uma das artes mais antigas, mas pode beber da tecnologia. É o que comprovam as obras "Frequência Ausente 19Hz" e "The Machine to Be Another/A Máquina de Ser Outro", que integram a Mostra 2018 do Festival de Teatro de Curitiba.

Os espetáculos oferecem uma experiência diferente aos espectadores usando áudio em 3D e óculos de realidade virtual.

Em "Frequência Ausente 19Hz", realizada nos dias 3 e 4/4 na Casa do Damaceno, a paulistana ExCompanhia de Teatro propõe que o espectador saia às ruas de Curitiba, sendo guiado por fones de ouvido conectados ao smartphone.

Com concepção, direção e dramaturgia de Gustavo Vaz e de Bernardo Galegale, o espetáculo é baseado no romance "A Náusea", de Jean Paul-Satre. Na trama, um ator se prepara para apresentar um monólogo inspirado no livro, mas ninguém vai assistir. Sem público, ele vaga sem rumo pelas ruas da cidade e se desmaterializa. Um ano depois, o homem volta à cidade para contar o que aconteceu com ele - é esse relato que os espectadores de "Frequência Ausente 19Hz" vivenciam.

À trajetória do personagem, unem-se curiosidades e fatos históricos da cidade onde o espetáculo é apresentado. "Em cada cidade, tentamos coletar a memória local e a história, para entender o que é viver naquele lugar e o que ele representa para as pessoas", afirma Gustavo Vaz.

Gustavo Vaz/Estúdio Folha
Frequência Ausente 19Hz tem direção e dramaturgia de Gustavo Vaz e Bernardo Galegale

Em Curitiba, a experiência começa na Casa Damaceno, onde o espectador encontra um "ator invisível", que fala pelos fones de ouvido. Com o recurso do áudio 3D - que promove uma grande imersão, porque os sons podem vir de várias direções e em vários volumes -, a impressão é de que o ator está realmente ali, apesar de não poder ser visto. Ele, então, começa a guiar o espectador pelas ruas de Curitiba, à medida que conta o que lhe aconteceu.

A experiência é individual e dura cerca de 75 minutos, e os espectadores precisam levar seus próprios smartphones.

Segundo Vaz, o público costuma se surpreender com os fatos históricos de sua cidade, muitas vezes desconhecidos para eles até então. "Acho que isso traz uma sensação de pertencimento, de que estar naquele lugar é importante. Elas se sentem parte de algo maior."

"A Máquina de Ser Outro" também traz a sensação de pertencimento - mas a de pertencer a um outro corpo. Da Espanha, o espetáculo propõe que, por 15 minutos, o espectador use óculos de realidade virtual e que, com ele, se veja no corpo de outra pessoa.

Divulgação/Estúdio Folha
A Máquina de Ser Outro traz Philippe Bertrand como produtor e diretor

Desenvolvida pelo coletivo BeAnotherLab e dirigida e produzida por Philippe Bertrand e Alessandra Vidotti, a obra usa a neurociência para fazer com que o espectador realmente se sinta em outro corpo. "Nós aproveitamos conceitos para criar a ilusão perceptiva: realidade virtual, visão em primeira pessoa, movimentos físicos e sensações táteis", diz Bertrand. "Recriamos a neurociência na nossa garagem, em 2012, quando começamos a desenvolver o projeto".

Em "A Máquina de Ser Outro", duas pessoas se sentam frente a frente, olhando-se. Os óculos de cada uma possuem uma câmera. Essa imagem é a base para criar a realidade virtual: um espectador se vê no corpo do outro.

Em certo momento da experiência, as pessoas se levantam e se tocam.

De acordo com Bertrand, o objetivo do projeto é fazer com que as pessoas vençam a barreira do preconceito. "Quando você se enxerga como outra pessoa, acaba percebendo que ela não é diferente de você, seja branco, negro, imigrante, homem ou mulher", diz.

O quê: Frequência Ausente 19 Hz
Onde: Casa do Demaceno - r. Treze de Maio, 991, Centro.
Quando: Dias 3 e 4/4, das 10h às 17h.
Quanto: R$ 40 (venda de ingressos no local).

O quê: The Machine to Be Another/A Máquina de Ser Outro
Onde: Cia. Brasileira de Teatro - r. José Bonifácio, 135, Largo da Ordem.
Quando: A partir das 14h. Até 3/3.
Quanto: Grátis.

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