Do mundo para o Ceará...

Divulgação Angola Cables
Início da colocação do cabo submarino no litoral de Angola

Fortaleza vai se tornar o ponto de maior conectividade intercontinental da América Latina e importante elo na ligação com a África e a Europa

O Ceará está se consolidando como o grande centro de conexão do Brasil com o mundo no campo das telecomunicações, de linhas aéreas e de cargas marítimas. No início do mês de agosto, deu-se mais um grande passo nessa direção: começou o cabeamento submarino que ligará Fortaleza a Angola, na África.

Será a primeira ligação direta, por meio de fibra ótica, entre os dois continentes. Com isso, mais o cabo Monet -que liga o Brasil aos Estados Unidos e deve começar a operar no fim deste ano- e a construção de um datacenter na praia do Futuro (Fortaleza), o Estado se firma como a grande porta de entrada de telecomunicações do Brasil.

O cabo, chamado de Sacs (South Atlantic Cable System), trará uma série de melhorias ao tráfego de dados entre os dois continentes e o restante do planeta. Hoje, a conectividade dos países africanos com o mundo se dá necessariamente pela Europa. A do Brasil, por meio dos Estados Unidos ou da Europa.

Uma ligação direta oferece mais velocidade, segurança e economia. No quesito velocidade, é questão de milessegundos, mas que fazem a diferença principalmente para o mercado financeiro. No caso do custo, pode cair até 80%.

"Esse projeto começou a ser pensado há quatro anos e tem uma enorme importância estratégica por fazer essa ligação sul-sul", afirma António Nunes, CEO da Angola Cables, empresa que está construindo o Sacs e tem participação também no Monet, que ligará a Flórida a Fortaleza e depois a São Paulo.

A empresa é, ainda, uma das controladoras do Wacs, cabo de fibra ótica que liga a África do Sul ao Reino Unido, na Europa, servindo os países da costa oeste africana.

"Esses três cabos, aliados ao datacenter que já temos em Angola e ao que estamos construindo em Fortaleza, darão segurança às empresas que dependem de grande fluxo de dados e trarão desenvolvimento aos dois países", afirma Nunes. O investimento da Angola Cables no Brasil chega a US$ 300 milhões (quase R$ 1 bilhão).

Os cabos submarinos existem desde o fim do século 19, quando foram usados para comunicação via telégrafo. À época, transmitiam duas palavras por minuto. Nos anos 1970, passaram a ser usadas as fibras óticas, que permitem atingir a velocidade da luz.

Esses cabos são responsáveis atualmente por quase todo o tráfego de dados (internet, por exemplo) e de voz (telefones fixos e celulares) entre os continentes. São mais baratos, mais rápidos e mais seguros do que a transmissão via satélite.

Devido à maior utilização de sistemas de computação e armazenamento em nuvem, à proliferação de datacenters e à popularização dos serviços de streaming (principalmente de vídeos), seu uso tem crescido exponencialmente. Daí a necessidade de cabos novos e mais modernos.

O Estado tem ainda outra vantagem competitiva. O Governo do Ceará construiu o chamado cinturão digital, ligação por fibra ótica de cem municípios. É tráfego de dados ágil e confiável para levar a nova economia, aliada à tecnologia, para além de sua capital.

Do Ceará para o mundo...

Objetivo do Estado é se tornar um exportador de serviços, com ampliação de infraestrutura e mão de obra qualificada

O Ceará já tem a geografia a seu favor, devido à proximidade com a América do Norte, a África e a Europa. Por isso, é o ponto de entrada dos cabos submarinos que ligam o Brasil ao mundo e que são operados por empresas como Embratel, Telecom Itália, America Movil, entre outras teles.

Com os cabos Monet (previsto para operar no fim deste ano), Sacs (2018) e outros planejados, além do datacenter em construção em Fortaleza, o Estado amplia a infraestrutura para consolidar sua vocação de polo tecnológico.

Outro passo importante, a qualificação da mão de obra, exigida por essa nova economia digital, está sendo dado com a melhoria da educação.

Ela se realiza em dois estágios: aprimoramento do ensino básico e evolução e ampliação do ensino superior e da pós-graduação.

No chamado ensino fundamental 1 (cinco primeiros anos), o Estado concentra 77 das 100 melhores escolas públicas do país, segundo o MEC (Ministério da Educação). No superior, o Ceará ganhou nos últimos anos universidades federais e ampliou as vagas das estaduais no interior. A pós-graduação também tem dado um salto, em número de mestres e doutores formados e em rankings.

"Os empresários veem essas mudanças como um manancial de oportunidades. Além da infraestrutura, estamos formando capital humano. E isso será muito importante para empresas que exigem alto consumo de informação, sejam elas do mercado financeiro, sejam outras que dependem de internet de altíssima qualidade", afirma Guilherme Muchalle, economista do Núcleo de Economia e Estrutura da Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará).

Isso poderá mudar o padrão da economia local, que hoje exporta principalmente commodities agrícolas e aço. A ambição é exportar serviços, setor cobiçado por todos os Estados e países por agregar muito valor, gerar emprego e não ser poluente.