RESPIRE LIBERDADE

Disponíveis no SUS e na rede de saúde suplementar, tratamentos atuais para asma grave permitem aos pacientes levar uma vida normal

Asthma, do grego, "sufocante". Sem o cuidado adequado, a asma grave impõe a suas vítimas um sofrimento terrível. As crises começam com sibilos e tosse. Vem a impressão de peito pesado, comprimido. A respiração torna-se ofegante; curta e rápida. O oxigênio não chega aos pulmões. Tem-se a sensação de morte. Nos casos mais severos, os sintomas costumam ser diários e, frequentemente, exigem internação hospitalar1.

No cotidiano limitado pela doença, cujo dia mundial é 3 de maio, tudo cansa. Subir alguns degraus de escada, caminhar, lavar louça, brincar com os filhos... Qualquer esforço, por menor que seja, pode levar ao próximo ataque2. A temperatura caiu? O pó acumulou? O cheiro do perfume era forte demais? O que para a maioria causa no máximo um certo incômodo, para os asmáticos graves pode se transformar em emergência médica.

Até o início dos anos 19803,o controle da doença era extremamente difícil, obtido apenas com doses elevadas de broncodilatadores e corticoides –medicamentos que, usados em grandes quantidades, estão associados a uma série de enfermidades, segundo Paulo Pitrez, pneumologista pediátrico da Santa Casa de Porto Alegre. Graças aos avanços da imunologia e da farmacologia, os tratamentos mais modernos conseguem proporcionar uma rotina mais serena aos portadores, sem as privações impostas pelo desconforto respiratório, comemoram os pacientes. "Hoje em dia, quando o tratamento é iniciado o mais precocemente possível, na história natural da doença do asmático grave, a gente melhora demais a qualidade de vida. Ao ponto de o paciente poder ter uma vida normal ou muito próxima do normal, comparado ao que era", diz o médico. "A maioria consegue até praticar atividade física normalmente."

A mudança de paradigma na abordagem da asma grave foi motivada pelos medicamentos imunobiológicos4.

Disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e na rede da medicina suplementar, esses remédios funcionam como mísseis teleguiados: anticorpos programados em laboratório para atacar substâncias específicas associadas à inflamação dos brônquios e, consequentemente, ao desencadeamento das crises (veja quadro)5.

Atualmente há quatro imunobiológicos disponíveis no mercado brasileiro. São ministrados sob a forma de injeções subcutâneas, a cada 15 ou 30 dias, segundo o pneumologista Pitrez.

Os novos medicamentos abrandam os sintomas da asma grave e diminuem os riscos de hospitalização, afirma Pitrez, e permitem também a redução das dosagens dos remédios tradicionais. Mas, apesar dos ganhos, não dispensam o acompanhamento médico. Com forte componente genético, a doença é complexa e heterogênea, diz o médico. Mantê-la sob controle exige atenção e cuidado permanentes. "O tratamento de manutenção, todos os dias, é essencial para preservar os brônquios livres de inflamação, protegidos", alerta o médico Pitrez. Só assim a vida pode ser normal.

Essa é uma realidade distante dos pacientes brasileiros. Dos cerca de 20 milhões de asmáticos no país, entre 3% e 5% são graves. E uma grande parte deles não tem a doença sob controle, diz o pneumologista da Santa Casa de Porto Alegre.

À dificuldade do diagnóstico precoce, soma-se o manejo inadequado. A adesão ao tratamento é baixa, e muitos só recorrem aos medicamentos nos momentos mais agudos. "O uso apenas da medicação de resgate, além de não controlar a inflamação, faz com que o paciente tenha crises cada vez mais graves", diz Pitrez. A asma mata mais de 400 mil pessoas a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde6.

Outro problema bastante comum no Brasil é o uso indiscriminado de corticoides orais, indicados apenas para o alívio das crises.

No longo prazo, o abuso está associado a outros problemas sérios de saúde, lembra Pitrez. Obesidade, hipertensão, diabetes e osteoporose, por exemplo. O descuido com o tratamento profilático pode ainda levar a um quadro de comprometimento pulmonar irreversível.

O médico explica que a sucessão de crises favorece a formação de cicatrizes e fibroses nas paredes dos brônquios. Quando isso acontece, não há remédio capaz de fazer com que as vias aéreas voltem ao seu calibre original. O estreitamento é para sempre. No estágio atual do conhecimento sobre os mecanismos da doença e com o arsenal terapêutico disponível hoje em dia, a asma não deveria ser um limitador da qualidade de vida, nem mesmo para os pacientes mais graves.

Jovem voltou às atividades físicas e recuperou o paladar e o olfato

Aos 25 anos, a paulista Bruna Oliveira está radiante. "Sinto muito prazer em acordar, tomar banho, me perfumar e sentir meu cheiro", conta. Para muitos, pode parecer uma bobagem, mas não para ela. Portadora de asma grave, por causa da doença ela havia perdido o olfato e o paladar. "Se antes eu me perfumava para os outros, hoje me perfumo para mim", comemora. O estrogonofe, seu prato preferido, também voltou a ser apreciado, e com muito gosto.

Essas conquistas têm um peso simbólico muito grande. A primeira crise de asma aconteceu quando Bruna tinha 15 anos. Com o passar do tempo, os ataques ficaram mais severos. "Eu ia para o pronto-socorro dia sim dia não", lembra. Vivia à base da bombinha, com broncodilatadores e corticoides, medicamentos indicados apenas para o alívio imediato dos sintomas. Eram quatro aplicações por dia, com três puffs em cada uma.

O uso frequente desses medicamentos a fez engordar 25 quilos. Foram anos pulando de médico em médico, soprando nos aparelhos de espirometria, entrando e saindo de tomógrafos, colhendo sangue. Um calvário enfrentado pela maioria dos pacientes brasileiros.

Em 2019, em uma de suas internações, Bruna conheceu a pneumologista Telma Antunes. Só então ela foi, finalmente, diagnosticada como portadora de asma grave.

A médica imediatamente propôs o uso de um imunobiológico. Mas veio a pandemia, e Bruna teve dificuldades para obter a autorização de seu plano de saúde.

Por sugestão da pneumologista, ela entrou para um programa de uma farmacêutica, que oferecia seis aplicações gratuitas do remédio. "A partir da terceira aplicação, minha vida mudou", lembra.

Hoje, Bruna já completou 14 injeções. Está devidamente coberta pelo seguro saúde, raramente recorre à bombinha (e, quando acontece, um puff apenas basta), não tem mais crises exacerbadas, faz ginástica e perdeu 20 quilos. Uma rotina inimaginável até bem pouco tempo atrás.

Referências: 1. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, sbpt.org.br/portal/espaco-saude-respiratoria-asma/ 2. III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma, Capítulo II, Diagnóstico e Classificação da Gravidade, scielo.br/j/jpneu/a/CLYx4Kpw4qRjypfVgCmZTSR/?lang=pt# 3, 4 e 5. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, sbpt.org.br/portal/t/sbpt/#:~:text=Dia%20Mundial%20da%20Asma%3A%20incorporação,momento%20notável%20para%20a%20saúde&text=Na%20primeira%20terça-feira%20de,o%20Dia%20Mundial%20da%20Asma. 6 OMS, who.int/news-room/fact-sheets/detail/asthma 7. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2021/20210526_PCDT_Relatorio_Asma_CP_39.pdf 8. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, asbai.org.br/asma-atinge-20-milhoes-de-brasileiros/#:~:text=Estudos%20epidemiol%C3%B3gicos%20nacionais%20estimam%20que,duas%20mil%20pessoas%20por%20ano. 9. Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas, abraf.ong/asma-grave/duvidas-frequentes/#:~:text=Os%20principais%20sintomas%20que%20caracterizam,e%20curta%20e%20desconforto%20torácico. 10. Associação Brasileira de Asmáticos, abrasaopaulo.org/publicacoes.asp?codigo=35#:~:text=Agora%20vamos%20entender%20as%20diferenças%20entre%20asma%20alérgica%20e%20asma%20não%20alérgica!&text=Nem%20toda%20asma%20é%20alérgica,ansiedade%2C%20ar%20frio%20ou%20seco. 11. Ministério da Saúde, bvsms.saude.gov.br/asma/#:~:text=A%20maioria%20dos%20pacientes%20com,quando%20houver%20piora%20da%20asma.

"Material dirigido ao público em geral, por favor, consulte o seu médico"

NP-BR-ASU-JRNA-220001 | ABR/2022