Rota 40 liga desertos e geleiras em roteiro fascinante na Argentina

Com mais de 5.000 km, a mais longa rodovia argentina corta o país de norte a sul; percorrê-la por inteiro é uma viagem de proporções épicas, mas trajeto pode ser dividido em road trips mais curtas e acessíveis

Carro percorre estrada com cadeia de montanhas ao fundo na região de Salta

Maioria dos trechos Rota 40, como este na região de Salta, ao norte, tem boas condições de segurança Visit Argentina/DVG

Resposta argentina à icônica Rota 66, que corta os Estados Unidos de Leste a Oeste, a Rota 40 possui uma característica marcante que a diferencia e lhe confere uma identidade própria capaz de matar de inveja os norte-americanos: a Cordilheira dos Andes. Majestosa, ela acompanha praticamente toda a extensão da estrada, de 5.224 quilômetros. Isso significa uma coleção de paisagens deslumbrantes que vão dos glaciares patagônicos às formações rochosas desérticas do norte, passando por florestas, vinhedos e lagos emoldurados por montanhas.

Maior estrada da Argentina, a Rota 40 corta o país desde Cabo Vírgenes, em Santa Cruz, último ponto ao sul antes da Terra do Fogo, até La Quiaca, em Jujuy, já quase na fronteira boliviana. Nesse trajeto impressionante, La Cuarenta, como é carinhosamente chamada, atravessa 11 províncias e 21 parques nacionais, colecionando cartões postais. Percorrê-la por inteiro de norte a sul (ou vice-versa) é a aventura de uma vida, que pode levar entre três e cinco semanas.

Para quem não tem esse tempo todo mas quer um gostinho desta jornada épica, é possível percorrê-la aos poucos, dividindo o trajeto por roteiros menores.

Confira aqui três sugestões de road trips incríveis que podem ser feitas em menos tempo e em diferentes épocas do ano:

1. ROTA DO DESERTO

De Cachi a Cafayate, em Salta

Trajeto surrealista liga Cachi a Cafayate, devido à paisagem da Quebrada das Flechas
Desertos surpreendem visitantes na região de Salta, ao norte da Argentina - Visit Argentina/Divulgação

Esse é um dos trechos em que a Rota 40 parece estar em outro planeta. Marte, por exemplo. O caminho que liga Salta, a charmosa capital da província e onde começa e termina esse roteiro, às cidades de Cachi e Cafayate é realmente surpreendente. Vale muito a pena se programar para pernoitar nas duas cidades.

De Salta a Cachi são 156 quilômetros, o primeiro trecho pela RN 68 e depois pela pitoresca RP 33, percorrendo a Cuesta del Obispo em 20 km de ziguezague com paisagens impressionantes. Mais à frente, a Reta do Tin Tin é literalmente um retão de 19 km feita sobre um caminho inca aberto em meio da serra.

Cachi é uma vila histórica colonial localizada no Vale do Calchaquíes, a mais de 2.500 metros de altitude e colada no Parque Nacional Los Cardones, uma das maiores áreas do continente cobertas por cactos gigantes. Além de hotéis sofisticados, como o La Merced del Alto, a cidade conta com bons restaurantes e um museu arqueológico de respeito, o Pío Pablo Díaz.

Na outra ponta, Cafayate é o centro da Rota do Vinho da província de Salta. A cidade é uma graça, rodeada por vinícolas que podem ser visitadas como Bodega El Esteco, Estancia Los Cardones, Bodega El Porvenir, Finca Quara e Finca Las Nubes, entre outras. No centro da cidade fica o interessante Museo de la Vid y el Vino, onde se entende por que os Torrontés e Malbec de Salta caíram no gosto dos enólogos mundo afora.

O bônus está no trajeto que liga Cachi a Cafayate, devido à paisagem surrealista da Quebrada das Flechas. Suas formações rochosas que apontam para o céu já são motivo mais do que suficiente para encarar os 157 km de estrada tortuosa e com trechos de cascalho.

E quando se pensa ser impossível o visual ficar ainda mais impressionante, eis que Salta mais uma vez surpreende. O trajeto de volta, de Cafayate a Salta, pela Rota 68, esconde um highlight das road trips sul-americanas: a Quebrada de las Conchas. São cânions grandiosos, com destaque para as formações rochosas únicas Anfiteatro e Garganta del Diablo, onde é possível caminhar.

2. ROTA DOS 7 LAGOS

De Bariloche a San Martín de los Andes, em Neuquén

Estrada corre ao lado de lago na Rota 40, altura de Bariloche
Bem asfaltada e sinalizada, na Rota dos 7 Lagos a estrada corre entre as montanhas e a água - Visit Argentina/DVG

A Rota dos 7 Lagos é uma road trip clássica do norte da Patagônia, que passa por lagos de água azul cristalina emoldurados por montanhas verdejantes. É perfeita para ser percorrida no verão, quando é possível aproveitar esportes náuticos e deliciosas praias nas beiras das lagoas. Oficialmente, essa rota cênica compreende os 105 quilômetros entre Villa la Angostura e San Martín de los Andes, anteriormente Rota 234, mas que foi incorporada à Rota 40. Nesse trecho, a dica é começar por Bariloche, 80 quilômetros ao sul, pois é ali que que se encontra o principal aeroporto da região.

O primeiro lago é o Nahuel Huapi, que banha a cidade de Bariloche e segue até Villa la Angostura. No verão, quando os esportes de neve dão lugar aos aquáticos, ele reina soberano, com opções para pesca esportiva, kitesurf, windsurfe e caiaque.

Outra opção é adotar Villa la Angostura como base, uma cidadezinha charmosa com ótimos hotéis e restaurantes, além do belíssimo Parque Nacional Los Arrayanes.

É a partir daqui que começa uma sequência de cair o queixo, com os lagos Espelho, Correntoso, Escondido, Villarino, Falkner e Machónico. Mais impressionante ainda é se dar conta de que pequenos desvios levam a outros lagos igualmente deslumbrantes, como o Traful, que fica a cerca de 30 km a partir do Lago Escondido. Vale e muito o desvio, especialmente pela bela Villa Traful, localizada dentro do Parque Nacional Nahuel Huapi, com seus 400 habitantes e casinhas em estilo alpino. É o lugar para fazer trekking, cavalgadas ou passeios de mountain bike.

O ponto final dessa aventura é San Martín de los Andes, às margens do lago Lácar. Essa é uma cidade que ferve no inverno por conta do esqui em Cerro Chapelco, mas que no verão é tranquila, contando com boa estrutura turística e preços bem amigáveis. Outro bom pit stop antes de voltar para Bariloche é o Paso del Córdoba (rodovia 237). São 161 quilômetros de ziguezagues entre penhascos e formações rochosas. Cereja do bolo perfeita para coroar essa aventura patagônica.

3. ROTA DOS GLACIARES

De El Calafate a El Chaltén, em Santa Cruz

O Glacial Perito Moreno é uma gigantesca formação de gelo na Patagônia
Glaciar Perito Moreno é a principal atração da Rota dos Glaciares, acessível de carro pela Rota 40, na Patagônia - Visit Argentina/DVG

A Rota dos Glaciares é outro clássico, dessa vez na parte sul da Patagônia. É nesse trecho, entre El Calafate e El Chaltén, que a Rota 40 apresenta suas paisagens mais deslumbrantes ao acessar o Glaciar Perito Moreno ou revelar imagens únicas do imponente Cerro Fitz Roy, com seus 3.359 metros.

São 214 quilômetros entre as duas cidades, beirando os lagos Argentino e Viedma, parte pela Rota 40, parte pelas estradas regionais 11 e 23. Mas atenção: prepare-se para rodar mais que isso, uma vez que o Parque Nacional los Glaciares, onde se localiza o Perito Moreno, fica a outros 80 quilômetros de distância de El Calafate, o ponto estratégico para começar essa viagem.

Voar de Buenos Aires até El Calafate é a forma mais fácil de chegar a esses rincões patagônicos. Trata-se de uma cidade agradável, de onde sai a maioria dos passeios para as geleiras do Parque Nacional los Glaciares, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco e famoso pelas passarelas que revelam ângulos impressionantes do glacial Perito Moreno.

Os passeios podem ser reservados com antecedência no site da Hielo e Aventura, concessionária do parque. Isso inclui o imperdível minitrekking, quando se caminha em Perito Moreno com grampões presos aos sapatos e com direito a uma dose de uísque com gelo milenar da geleira ao final do percurso.

Mais aventura aguarda o viajante na outra ponta da Rota dos Glaciares, pois, não por acaso, El Chaltén é conhecida como "a capital nacional do trekking". A cidade, que está mais para uma vila, é a base para caminhadas para todos os níveis de aventureiros. Podem durar entre uma e cinco horas ou muito mais, com acesso a vistas magníficas do Monte Fitz Roy e Cerro Torre.

Sem dúvida, um roteiro perfeito para quem gosta de colocar o pé na estrada e se aventurar por paisagens deliciosamente surpreendentes – e que não deixa nada a dever à badalada Rota 66.

Veja como é fácil viajar de carro pela Argentina

Estrada reta e vazia em meio a cenário desértico com montanhas ao fundo na região de El Chaltén, na Patagônia
Trecho da Rota 40 na região de El Chaltén, na Patagônia argentina - Visit Argentina/Divulgação

Para ajudar no planejamento, é uma excelente notícia saber que a gasolina na Argentina está mais barata que no Brasil, com o preço médio do litro girando em torno de 90 pesos (R$ 4,55). Em relação às estradas em geral, as condições dos trechos da Rota 40 aqui selecionados são boas, asfaltados na maior parte do tempo, bem sinalizados e com serviços disponíveis, como postos de gasolina e lojas de conveniência.

A exceção fica com a região mais ao norte, em Salta, onde parte dos caminhos não é pavimentada e os serviços são mais limitados. Com muitas curvas e pedras soltas, exige, além da atenção redobrada ao dirigir e com o nível de combustível, veículos mais robustos, do tipo SUV ou caminhonete. Por isso, é indicado efetuar a reserva ainda no Brasil para garantir que o carro desejado esteja disponível na data de chegada.

Alugar um veículo na Argentina, por sinal, é bem simples. Não há necessidade da Carteira Internacional, bastando a CNH brasileira e um documento de identificação, como a carteira de identidade ou o passaporte. Como todos estão sujeitos a imprevistos, não economize no seguro, pois o barato pode sair caro no final da viagem, principalmente por conta de eventuais riscos na lataria, além de um para-brisa ou espelho quebrados.

Outra dica importante: como em muitos trechos da Rota 40 não há sinal de internet, não se esqueça de fazer o download dos mapas da região para o smartphone/tablet antes de sair em viagem – ou, para quem for mais "old school", adquirir um bom e velho mapa rodoviário em papel. Também vale acompanhar no site do governo argentino as informações sobre as condições das estradas.

Mais informações em Visit Argentina.