A economia circular é um dos pilares do processo de transição para um modelo de produção de baixo carbono. Segundo o Fórum Econômico Mundial, o sistema que busca eliminar o desperdício e promover o uso seguro e contínuo de recursos naturais responde hoje por 8,6% da economia mundial e precisa crescer. A instituição estima que a expansão do uso do conceito pode render US$ 4,5 trilhões em benefícios econômicos até 2030.
É um modelo que se contrapõe ao tradicional, no qual os recursos naturais são extraídos, transformados, utilizados e descartados. A economia circular é baseada na produção e no consumo responsáveis, envolvendo o prolongamento da vida útil de materiais por meio de compartilhamento, reutilização, reparação, reciclagem e agregação de serviços aos produtos. Os resíduos de uma indústria, por exemplo, são reutilizados como matéria-prima dela própria ou de terceiros.
"A melhor gestão dos recursos naturais irá impactar positivamente todos os sistemas, auxiliando na conservação e regeneração dos ecossistemas, na qualidade de vida da sociedade e na estabilidade econômica no longo prazo", diz Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Pesquisa da CNI mostra que 76,5% das empresas industriais brasileiras adotam alguma prática de economia circular. Para Bomtempo, o Brasil pode mostrar caminhos que levem ao melhor uso de recursos naturais e, ao mesmo tempo, ao desenvolvimento. "Identificamos um grande potencial para valorizarmos as boas práticas que já são realizadas pelo setor industrial brasileiro hoje."
Um exemplo é a Campo Forte Fertilizantes, nova empresa da JBS Novos Negócios. A empresa opera uma fábrica em Guaiçara, no interior de São Paulo, com capacidade para produzir 150 mil toneladas anuais de fertilizantes 100% nacionais.
Para nós, não existe o conceito de ‘resíduo’. Tudo vira matéria-prima para outro ciclo de produção
Susana Martins Carvalho, diretora-executiva da Campo Forte Fertilizantes, ressalta que a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que a população mundial vai crescer 26% até 2050, para 9,7 bilhões de pessoas. Por isso, a demanda por alimentos - e fertilizantes - irá crescer significativamente. "Os fertilizantes têm que fazer parte da estratégia brasileira."
Além de marcar a entrada da JBS no mercado de insumos agrícolas, a Campo Forte adota a economia circular como padrão. A unidade produz uma linha completa de fertilizantes orgânicos, organominerais e especiais com reaproveitamento de resíduos orgânicos e matérias-primas minerais. A empresa se insere na estratégia da companhia de se tornar Net Zero até 2040, ou seja, zerar o balanço líquido de suas emissões de gases de efeito estufa, reduzindo as emissões diretas e indiretas e compensando a residual.
O processo na Campo Forte usa 25% dos resíduos orgânicos gerados nas operações da própria JBS. É a primeira indústria brasileira de alimentos a fazer tal reaproveitamento na produção de fertilizantes.
"Em comparação com fertilizantes de origem mineral ou obtidos através da transformação química do gás natural, os fertilizantes orgânicos que produzimos com o reaproveitamento de resíduos colocam na economia, e também à disposição do produtor rural, uma opção com baixa pegada de carbono", diz Susana.
Segundo a executiva, a economia circular é um dos pilares das iniciativas de sustentabilidade da JBS e faz parte da estratégia de negócios do grupo.
"Para nós, não existe o conceito de ‘resíduo’. Tudo vira matéria-prima para outro ciclo de produção", declara Susana. É o conceito chamado de "do berço ao berço". "A economia circular faz parte desse processo evolutivo, em que o melhor uso dos recursos naturais e a perspectiva econômica somam esforços para atender as demandas sociais e, ao mesmo tempo, manter o ambiente equilibrado", ressalta Bomtempo.
A economia circular faz parte desse processo evolutivo, em que o melhor uso dos recursos naturais e a perspectiva econômica somam esforços para atender as demandas sociais e, ao mesmo tempo, manter o meio ambiente equilibrado
O investimento realizado nos 51 mil metros quadrados na fábrica de Guaiçara da Campo Forte foi de R$ 134 milhões. Além da reutilização de resíduos, a unidade agrega serviços aos produtos, gerando novos valores. A venda é feita de forma consultiva e técnica, com base em análises de solo para apoio na decisão de compra, tanto para empresas parceiras como para consumidores finais.
Os fertilizantes da Campo Forte auxiliam no aumento da produtividade, potencializam os nutrientes e ajudam a reduzir perdas. Consequentemente, têm menor impacto no meio ambiente. Os esforços atualmente são concentrados na comercialização para lavouras de soja, milho, café, cana-de-açúcar, hortaliças, frutas, pastagens e florestas. A agricultura orgânica é também um alvo prioritário.