Descrição de chapéu alimentação

Brasil pode ser protagonista da alimentação do futuro

População mundial vai chegar a quase 10 bilhões de pessoas em 2050; garantir segurança alimentar e mitigar emissões ao mesmo tempo é o desafio

A população global chegará a quase 10 bilhões de pessoas em 2050, segundo estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas). E a entidade instituiu, em 1981, 16 de outubro (dia de criação da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em 1945) como o Dia Mundial da Alimentação para estimular a reflexão sobre a importância de aumentar a produção de alimentos.

Ao mesmo tempo, o mundo tem que reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global, que é uma das ameaças que põem em risco a vida no planeta.

O desafio para os próximos anos, portanto, é ampliar a oferta de alimentos com a preservação do meio ambiente, intensificando o uso de novas técnicas e de novas tecnologias para caminhar em direção à economia de baixo carbono.

Esse esforço demanda investimentos em pesquisas para ampliar a produtividade de lavouras e rebanhos, novas técnicas de manejo e inovações na indústria.

"Sabemos que estamos diante de um grande desafio mundial", diz Eduardo Noronha, diretor global de recursos humanos e inovação da JBS, maior empresa de alimentos do mundo.

Como grande exportador e referência em pesquisa, o Brasil tem condições de liderar a expansão da oferta. "O Brasil terá papel extraordinariamente importante e estratégico na alimentação de boa parte do mundo", afirma Celso Moretti, presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

De acordo com Moretti, o crescimento do agronegócio vai ocorrer em dois vetores. No vertical, haverá ganhos de produtividade por meio de pesquisa e desenvolvimento. No horizontal, a conversão de 90 milhões de hectares de pastagens degradadas em áreas agrícolas. "O Brasil não precisa desmatar para aumentar a produção."

TENDÊNCIAS

A Embrapa vê quatro grandes tendências para o setor nas próximas décadas: sustentabilidade, adaptação e mitigação das mudanças climáticas, biorrevolução e agricultura digital.

Na primeira, Moretti destaca o potencial de avanço do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. O modelo é aplicado em 17 milhões de hectares, e a previsão é de crescimento para chegar a 30 milhões de ha em 2030.

A segunda decorre do acordo internacional que prevê redução de 30% das emissões de metano da pecuária até 2030 e inclui o desenvolvimento de pastagens de fácil digestão e animais mais precoces.

A biorrevolução consiste no uso de técnicas de melhoramento genético, transgenia e edição genômica de plantas e animais.

A agricultura digital inclui a aplicação de tecnologias como drones, inteligência artificial e internet das coisas.

DIVERSIDADE

A diversidade de alimentos é outro possível pilar de sustentação do protagonismo brasileiro. A demanda mundial por proteína animal cresce mais que a oferta, com potencial de mercado para proteínas análogas de origem vegetal ou cultivadas.

De acordo com Raquel Caselli, diretora de Engajamento Corporativo do GFI (The Good Food Institute), organização que fomenta o segmento, os novos produtos atendem também a uma procura crescente por alimentação saudável.

A expectativa é que, até 2040, o mercado mundial de proteínas animais e análogas chegue a US$ 1,8 trilhão, com 40% de participação de carnes tradicionais, 25% de origem vegetal e 35% de cultivadas. "A indústria vê o setor como oportunidade", afirma.

A carne de origem vegetal já está no mercado. Um exemplo é a marca Incrível!, da JBS. "Temos a responsabilidade de liderar a busca por novas alternativas para atender essa crescente demanda", declara Noronha (leia texto abaixo).

Empresa planeja liderar desenvolvimento de formas alternativas de produzir proteína

Maior empresa mundial de alimentos, a JBS pretende liderar o desenvolvimento de formas alternativas de produzir proteína e crê que o Brasil terá papel central na área.

"A JBS é a única empresa brasileira a controlar e liderar investimento em infraestrutura para a produção 100% nacional de proteína cultivada", diz Eduardo Noronha, diretor global de recursos humanos e inovação da companhia.

Proteína cultivada é a produção de carne a partir de células de animais. A JBS já fabrica alimentos a partir de proteínas vegetais que replicam aroma, sabor e textura de carnes. São exemplos as marcas Incrível!, no Brasil, e Vivera, da Holanda, maior produtora independente de itens do gênero na Europa.

O grupo investe no desenvolvimento de produtos e na identificação de ingredientes em laboratórios próprios, no apoio a startups e em parcerias com instituições, como a Embrapa. "Nossas equipes de inovação, de pesquisa e de desenvolvimento estão constantemente pesquisando novos ingredientes e tecnologias", afirma Noronha.

A JBS é a única empresa brasileira a controlar e liderar investimento em infraestrutura para a produção 100% nacional de proteína cultivada”

Eduardo Noronha

Diretor global de recursos humanos e inovação da JBS

INVESTIMENTO

A JBS está investindo mais de US$ 100 milhões na área de proteína cultivada, cujos recursos foram utilizados na aquisição da espanhola BioTech Foods e estão sendo aplicados na instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento em Florianópolis (SC), o JBS Biotech Innovation Center. O projeto será liderado pelos doutores Luismar Marques Porto, presidente do JBS Biotech Innovation Center, e Fernanda Vieira Berti, vice-presidente do Centro de PD&I.

O centro na capital catarinense contará com laboratórios especializados e, inicialmente, com 25 pesquisadores especialistas. Nesse primeiro momento, as instalações vão ocupar uma área inicial de 10 mil m2, com probabilidade de expansão para futuros projetos da JBS.

A BioTech Foods opera uma planta piloto em San Sebastián e, após o aporte da JBS, prevê iniciar a produção comercial de proteína cultivada em meados de 2024. A expectativa é que o produto seja usado como matéria-prima para hambúrgueres, embutidos e almôndegas. Há potencial de uso da tecnologia na produção de proteína suína, avícola e de pescados.

"A forma como a JBS tem investido no assunto mostra a seriedade com que ela aborda o mercado de proteína cultivada", diz Noronha. "É de longe o mais relevante investimento nesse segmento entre as empresas de origem brasileira", diz.