Uma das preocupações de pais de adolescentes é a falta de interesse dos filhos pela leitura. Nascidos na era da internet, eles se apegam mais às interfaces digitais, tendo pouco contato espontâneo com livros físicos.
Esse quadro pode mudar se os pais começarem a ler para seus filhos já na primeira infância. Para a coordenadora de mobilização social da Fundação Itaú Social, Claudia Sintoni, a leitura, quando feita como uma atividade prazerosa, pode formar leitores. Leia abaixo trechos da entrevista com ela:
Sergio Carvalho | ||
Claudia Sintoni, coordenadora de mobilização da Fundação Itaú Social |
Qual a importância de campanhas de distribuição de livros como o "Leia para uma Criança"?
Claudia Sintoni: A leitura é muito importante para reforçar o vínculo da criança com o adulto e contribui de muitas formas para o desenvolvimento infantil. Por isso, na campanha, nos preocupamos muito em estimular essa atividade e uma das questões que fazem a diferença é a escolha dos livros que oferecemos. A qualidade do texto e da ilustração, bem como a composição entre eles, são levadas em conta para que o livro seja interessante tanto para o adulto quanto para a criança O contato com um bom livro é uma rica experiência estética que permite a exploração do texto, das imagens, do tamanho, forma, textura e que cria significado para todos os envolvidos.
Muita gente reconhece a importância de ler para crianças. Então por que a dificuldade em disseminar esse hábito?
Sintoni: A gente tem a impressão de que é muito fácil ler, mas não é. A leitura exige atenção e pode assustar quem tem certa dificuldade. Parar para sentar, ler, ter essa disponibilidade com o filho também é difícil muitas vezes em uma rotina mais atribulada. Muita gente tem dificuldade de ler ou não tem como comprar livros, por isso a importância dos projetos comunitários, de bibliotecas públicas e de programas que favoreçam o acesso ao livro.
Os jovens que têm pouco contato com a literatura são mais dispersos?
Sintoni: Não sei o que vem primeiro. É preciso estudar o jovem e a dispersão. Não ter tido experiência como leitor desde cedo pode facilitar uma certa alienação. Estamos tentando promover o hábito da leitura para crianças pequenas porque sabemos que isso tem efeito duradouro na vida das pessoas. Mas a atividade tem que se tornar um hábito, entrar na vida de todos.
E a criança tem de entender o que está lendo?
Sintoni: Enquanto ainda bem pequenos os bebês não compreendem o sentido do texto, mas vão aprendendo outros códigos que acompanham a leitura como o ritmo, o tom de voz e as expressões do rosto de quem lê. Em algum momento, com a ampliação do repertório e do vocabulário, a criança passa a compreender mais a história em si, mas incentivamos muito a leitura "de graça", que faz com que a criança vivencie os livros. E, se pensarmos na literatura, mesmo para os adultos, há variadas formas de compreensão.
Essa leitura 'de graça' transformará a criança em jovem leitor?
Sintoni: Sim. Vários estudos mostram isso. Criar esses momentos prazerosos e fazer com que a criança aproveite a leitura estimula esse hábito. Mas para que o efeito seja duradouro, é preciso manter a atividade viva, não pode perder o costume.
Quando os pais devem começar a ler para a criança?
Sintoni: A leitura tem que começar quando o bebê está na barriga. Em geral as pessoas acham que a criança só vai aprender a ler mais tarde, por isso acreditam que a leitura deva ser introduzida só lá na frente. Mas a criança identifica os sons desde a gravidez e desde então pode se beneficiar de diferentes estímulos de ritmos e linguagens. Por isso, é bacana conversar, cantar e ler para o bebê desde os primeiros dias de vida, ou ainda na barriga. Ler desde cedo faz muita diferença.