Concordo, ministra!

Nelson Wilians*

Recentemente soube da contratação pelo nosso departamento pessoal de uma profissional que estava grávida. E isso me encheu de orgulho, pois, fora o fato de não ouvir sobre algo semelhante em outro escritório de advocacia, combater as injustiças sociais, as desigualdades de raça e gênero está em nossos valores, em nosso Instituto, em nossos corações.

Não canso de repetir que palavras convencem, mas exemplos arrastam.​

O empreendedor e advogado Nelson Wilians
O empreendedor e advogado Nelson Wilians - Bruno van Enck

Retornando à contratação dessa profissional, é preciso ressaltar que ela esbanjou capacidade, experiência, ética e qualificação durante o extenso processo seletivo conduzido pelo nosso RH. E foi contratada por méritos. Mas isso poderia não ter acontecido, como é a “praxe” empresarial de mercado. Explico. Do período de seleção até ser chamada para ocupar o cargo, se passaram algumas semanas. Quando o nosso RH a contatou, ela foi transparente ao nos informar que estava grávida de seu primeiro filho.

A questão foi discutida internamente e, de maneira rápida, optou-se por contratá-la. Obviamente, a gravidez irá significar o afastamento dessa profissional de suas funções por um período. Mas, a longo prazo, a contratação dela fazia todo o sentido, era um investimento em uma profissional extremamente apta.

Fora esse fato, como já disse, os nossos valores estavam em questão. Não podíamos penalizá-la pelo fato de ser mulher e estar grávida. Aliás, sob nenhuma condição devemos penalizar uma mulher por ser mulher, especialmente discriminá-la com base na sua fertilidade potencial.

Como bem destacou recentemente a ministra Carmen Lúcia, a desigualdade de gênero é um problema cultural que precisa ser combatido. “Precisamos reaprender a realidade. Não devemos ser tratadas com igualdade por conta da lei, mas porque, de fato, somos iguais”, pontuou a ministra durante um debate sobre a paridade de gênero.

Concordo, ministra. Não podemos lutar por um ambiente de trabalho inclusivo, sem tomar atitudes que prezem pela igualdade, respeito aos seus colaboradores e à sociedade a qual pertencemos. E não importa o tamanho ou setor da empresa. De A a Z, de milímetro a quilômetro, vale para todos.

Não somos os primeiros a contratar uma grávida, outras empresas já fizeram isso, me recordo da Alpargatas e da TOTVS.

Mas, sobretudo, não queremos ser os últimos. Modestamente, queremos ser exemplo. Por isso, divido aqui essa experiência.

São necessárias atitudes práticas e inspiradoras para evitar assimetrias no mercado de trabalho que coloquem a mulher em desvantagem por sua maternidade ou pela probabilidade de ela ter que cuidar dos filhos mais do que o homem. Atitudes que vão além das leis trabalhistas, que ajudem a derrubar a discriminação cultural incutida no processo de recrutamento.

*Empreendedor, advogado, fundador e presidente do Nelson Wilians Advogados