Corrida eleitoral para Presidência continua com efeito 'beauty'

Nelson Wilians*

O leitor deste jornal deve conhecer os famosos filtros do Instagram. Em um piscar de olhos é possível alterar o rosto, esconder rugas, transformar-se em um super-herói ou ficar parecido com aquele artista mundialmente conhecido.​

Fazendo um paralelo com as eleições do próximo ano, algo semelhante deverá ocorrer por aqui. É esperado que o Brasil seja submetido a um grande "filtro do Instagram".

Os detentores do poder exaltarão mesmo índices econômicos modestos, as poucas reformas aprovadas serão elogiadas, o resultado do PIB será relativizado, assim como os números do desemprego e a inflação.

Já a oposição pintará o quadro de terra arrasada, como se o fim do mundo se aproximasse a passos largos.

O advogado Nelson Wilians
O advogado Nelson Wilians - Bruno Van Enck

Ao observar o noticiário, já percebemos que a discussão sobre agenda econômica e as medidas necessárias para a retomada do crescimento foram deixadas de lado. Só se fala em mudanças de partido, montagem de coligações e pesquisas sobre a intenção de voto. Pré-candidatos que buscam apenas se tornar competitivos, com pouca ou nenhuma proposta real de governo.

Podem me chamar de ingênuo, mas eu gostaria que governantes ou aqueles que já tiveram oportunidade de comandar o país, Estados ou municípios reconhecessem onde falharam, fizessem um "mea-culpa". Mas sei que isso é praticamente impossível de acontecer. Tenho certeza de que quem o fizesse ganharia ao menos o reconhecimento pela honestidade e franqueza, atributos obrigatórios, mas raros ultimamente.

Quando conseguiremos aprovar as reformas estruturais e significativas, como a tributária, a administrativa, a fiscal? Enfrentar de fato as desigualdades, a pobreza? O "toma lá dá cá" persiste há décadas, sem sinal de mudança. Entra, sai presidente e a dinâmica em Brasília continua a mesma.

Da forma atual, a administração federal já iniciou o seu mandato com o objetivo de permanecer no poder por oito anos, sem se esforçar para realizar alguma transformação concreta na qualidade de vida dos menos favorecidos. As poucas ações em favor dos mais humildes visam claramente alguma vantagem eleitoral, pensando com otimismo. Às favas o Orçamento, a Constituição. Tudo é em busca de apoio, governabilidade. A eterna sede de poder. O Poder pelo Poder apenas.

Ainda bem que nossa democracia é forte. As instituições funcionam. Mesmo nos momentos mais conturbados, elas resistem, seguem firmes.

2022 já se apresenta e, sem querer parecer presunçoso ou me estender, eu elencaria três grandes pilares para o próximo governo, independentemente de ideologias ou vertentes partidárias: 1) aprovação das reformas política, tributária, administrativa e fiscal, que possibilitarão a tão esperada recuperação econômica; 2) combate efetivo à corrupção; 3) combate à pobreza e ao desemprego.

Que a população saiba escolher, de forma racional e inteligente. Há boas opções entre os pré-candidatos. Sigamos acreditando no ser humano, por mais difícil que possa aparecer.

É preciso ler, comparar, conhecer, aprender com os erros e não escolher ninguém por paixão, mas pela razão. Se os políticos são incapazes de fazer, que nós então façamos o nosso próprio "mea-culpa". Sem filtro ou efeitos especiais. Isso é perfeitamente possível.

*Empreendedor e advogado