O mundo mudou, o consumo de tabaco, também

Léo Feltran, fotógrafo especializado em gastronomia e coquetelaria

Um estudo conduzido e publicado pelo banco Goldman Sachs em 2014 apontou oito produtos e tecnologias com potencial de se tornarem disruptivos ao longo da década. Ou seja, teriam condições de mudar completamente o mercado em que estariam inseridos.

Dentre eles, a impressora 3D, a lâmpada de LED, o big data, o uso de gás natural como fonte de energia e o cigarro sem combustão.

"Imagine um produto que é possivelmente menos danoso que o cigarro, entrega uma experiência de uso similar e oferece uma troca econômica melhor", diz o documento, que demonstra ainda que o "mercado de cigarro tradicional tenderia a ser alterado pelo novo produto."

Com essa hipótese fortalecida, uma estimativa da empresa financeira Wells Fargo viu 2022 como o ano em que o cigarro, ainda um "best-seller" em diversos países do mundo, deveria passar a se tornar secundário para a indústria, eclipsado pelo advento dos novos dispositivos eletrônicos e de tabaco aquecido.

Assim como setores como o de automóveis e o de energia evoluíram, era de se esperar que o ato de fumar também se transformasse.

A indústria do tabaco tem investido milhões em pesquisa para compreender o que o fumante adulto quer e conseguir criar produtos que o atendam.

Resultado disso, os novos dispositivos eletrônicos de tabaco aquecido e os cigarros eletrônicos já são comercializados em mais de 50 países, e o mundo começa a se ver livre da fumaça do cigarro. No Brasil, a regulamentação atual proíbe a venda desses produtos, mas o assunto está em discussão.

COMBUSTÃO

Pesquisas confirmam que a combustão do tabaco é responsável pela liberação da maior parte dos componentes tóxicos do cigarro. Assim, a substituição do cigarro convencional pelos dispositivos eletrônicos é, do ponto de vista da saúde pública, um movimento bem-vindo, para a redução de danos. Os dispositivos eletrônicos para fumar não são livres de risco, mas podem ser alternativas melhores do que o cigarro para o adulto que opta por continuar a fumar.

Há, evidentemente, uma lógica empresarial por trás das disrupções. Para o especialista em marcas Jaime Troiano, fundador da consultoria Troiano Branding, isso tem a ver com algo elementar do capitalismo, a sobrevivência dos negócios.

Ele reconhece que essas mudanças são bem-vindas e estão em linha com as demandas de uma sociedade mais bem informada.

O fotógrafo especializado em gastronomia e coquetelaria Léo Feltran, 46, gostaria de ter acesso a essa nova geração de produtos no Brasil. Feltran já ficou três anos longe do cigarro, mas reconhece que mantém um "relacionamento" com o tabaco. "Pelo que vi em viagens, esses dispositivos eletrônicos [alternativas ao cigarro] são mais práticos."

A percepção de Feltran está em sintonia com a opinião de americanos ouvidos em oito cidades - dentre elas Las Vegas, Miami e Detroit. Os ouvidos, adultos fumantes que experimentaram o dispositivo de tabaco aquecido, destacaram a facilidade de uso e aspectos sensoriais como boas razões para migrar para o novo produto. O cheiro e o gosto de tabaco impactaram positivamente os fumantes.

O dispositivo de tabaco aquecido produzido pela Philip Morris International teve sua comercialização autorizada nos Estados Unidos no dia 30 de abril deste ano pela agência regulatória americana Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo norte-americano que regulamenta o comércio e o consumo de alimentos, cosméticos, medicamentos e produtos de tabaco no país.

À época, a FDA reconheceu em seu relatório que pesquisas apontam que o vapor criado a partir do aquecimento do tabaco e então inalado pelo consumidor contém menos compostos tóxicos do que a fumaça produzida pela queima do tabaco no cigarro convencional.

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