Programa de Saneamento do Novo Rio Pinheiros beneficia mais de 3 milhões de cidadãos em São Paulo

Além de despoluir as águas do rio, projeto melhora a qualidade de vida de mais de 650 mil famílias

Tratamento de esgoto beneficia mais de 3 milhões de pessoas no entorno do Rio Pinheiros

Tratamento de esgoto beneficia mais de 3 milhões de pessoas no entorno do Rio Pinheiros Divulgação

A qualidade de vida dos moradores da Vila das Pratas, na zona sul de São Paulo, mudou muito nos últimos tempos. Até o início de 2019, o esgoto corria a céu aberto, ameaçando a saúde principalmente das crianças e dos idosos. O cheiro forte dos dejetos no córrego Zavuvus impregnava o ar, e as enchentes eram uma constante.

Hoje, a bacia do Zavuvus está saneada, beneficiando 173 mil habitantes. O Zavuvus foi um dos primeiros córregos a receber, em novembro de 2019, as obras do Novo Rio Pinheiros. Ele faz parte dos 16 afluentes do rio que passaram por saneamento como parte do programa de despoluição desenvolvido pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Daniel dos Reis, 57, conta que a comunidade sempre foi muito ativa, participando das comissões para dialogar com a Sabesp e com a subprefeitura. "Mais de 6.000 famílias foram atendidas pela Sabesp na região de Americanópolis. A empresa trocou as escadas de madeira pelas de cimento, as vielas e travessas de terra foram cimentadas. Também fez a rede de esgotos e melhorou os banheiros de várias casas, colocando válvulas de descarga", diz.

Daniel em ação na comunidade
Daniel dos Reis em ação na comunidade - Arquivo pessoal

Antes da canalização, o córrego era aberto e não tinha rede de esgoto. Ele era despejado no Zavuvus. O mau cheiro era constante, e os moradores pegavam todo tipo de doença. Sem falar nos alagamentos: sempre que chovia, as casas alagavam

Daniel dos Reis

Morador da Vila das Pratas, na região de Americanópolis, desde os 5 anos. Ele é um dos líderes da Associação Comunidade Vila das Pratas.

A conexão dos imóveis ao sistema de coleta e tratamento, evitando que o esgoto fosse despejado diretamente no córrego Zavuvus, atingiu 18.387 famílias, superando em 16% a previsão de 15.868. Como resultado, a água do Zavuvus está mais transparente e é possível até avistar pequenos peixes.

Terezinha Dantas, 77, líder comunitária da Sociedade Amigos Unidos de Vila Joaniza (bairro de alta vulnerabilidade social na zona sul de São Paulo, localizado na bacia do Zavuvus), fala com animação das mudanças no dia a dia dos moradores depois das obras de saneamento.

Terezinha Dantas, 77, líder comunitária da Sociedade Amigos Unidos de Vila Joaniza
Terezinha Dantas, 77, líder comunitária da Sociedade Amigos Unidos de Vila Joaniza - Arquivo pessoal

O esgoto corria aqui a céu aberto: a favela tinha um cheiro muito forte. Era muita mosca, barata, as crianças pisando na sujeira. Elas tinham feridas nos pés, de pisar no esgoto; brincavam no chão e colocavam a mão na boca, então, se enchiam de ferida. Os pezinhos e as mãozinhas descascavam… Hoje não tem mais isso

Terezinha Dantas

Líder comunitária da Sociedade Amigos Unidos de Vila Joaniza

Daniel concorda: "As obras de saneamento melhoraram a nossa qualidade de vida. Além de diminuir muito o fedor, a qualidade da água também melhorou". E completa: "Com a urbanização, as nossas crianças conseguem brincar e circular melhor dentro das vielas e travessas. A urbanização facilitou também a circulação dos idosos e deficientes físicos. Melhorou a acessibilidade da comunidade como um todo".

PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE

O Programa Novo Rio Pinheiros é formado pela conexão de vários eixos de trabalho: saneamento, manutenção, revitalização e educação socioambiental.

A despoluição dos córregos requer a participação efetiva da população, seja para se conectar à rede de esgoto já existente, seja para descartar adequadamente o lixo. Jogado na rua, o lixo vai parar nas galerias de drenagem da água da chuva e nos córregos, contribuindo para a poluição.

Depois das obras de urbanização, saneamento e canalização do esgoto, as crianças têm lugar para brincar
Depois das obras de urbanização, saneamento e canalização do esgoto, as crianças têm lugar para brincar - Daniel dos Reis/Arquivo Pessoal

Para engajar a população, a operação nos córregos inclui ações de educação ambiental nos bairros e em espaços lúdicos, com palestras com temas ambientais e mostras sobre o andamento e o legado das obras. Também foram distribuídas caixas d'água. "Na Vila das Pratas, a Sabesp forneceu caixas d'água e relógio de água (hidrômetro) para a maioria dos moradores,", diz o líder comunitário Daniel dos Reis.

Entre os projetos que a comunidade espera que sejam mantidos estão o do garrafão para depósito das garrafas pet recolhidas no rio, o de treinamento e suporte aos catadores de reciclagem e o de educação ambiental para as crianças. "Nossa comunidade tem lixeiras, as crianças ajudam na limpeza. Fazemos rodas de leitura nas escolas explicando a importância de cuidarem do planeta, da água, do lixo", afirma.

Os impactos do Programa Novo Rio Pinheiros não são apenas ambientais, mas sociais e emocionais. Ele resgata a dignidade das comunidades de ocupação habitacional informal no entorno do rio: as famílias, agora conectadas e atendidas por redes de saneamento básico, podem ter uma vida melhor, com maior segurança hídrica para morar e receber amigos e familiares.

Córrego Zavuvus antes da canalização, com esgoto a céu aberto
Córrego Zavuvus antes da canalização, com esgoto a céu aberto - Daniel dos Reis/Arquivo Pessoal

MAIS SAÚDE

O retorno mais percebido dos serviços de coleta e tratamento do esgoto é a melhora na saúde da população beneficiada. Principalmente as crianças, que acabam ficando mais expostas e vulneráveis em áreas previamente contaminadas pela falta de saneamento.

Ciclovia no Rio Pinheiros
Ciclovia no Rio Pinheiros - Divulgação
  • Para cada R$ 1 gasto em saneamento básico, o Estado economiza, a médio e longo prazo, R$ 4 em saúde

A proposta do Novo Rio Pinheiros vai além da despoluição: o programa quer ser instrumento de transformação socioambiental, impactando cada vez mais a população. Manter o rio vivo depende de atitudes diárias e envolvimento de todos os moradores na adoção de melhores práticas ambientais, descartando lixo da maneira correta, por exemplo.

25 KM DESPOLUÍDOS

Até o momento, o Programa Novo Rio Pinheiros conectou 650 mil imóveis ao sistema de tratamento de esgotos
Até o momento, o Programa Novo Rio Pinheiros conectou 650 mil imóveis ao sistema de tratamento de esgotos - Divulgação

Até o momento, o Programa Novo Rio Pinheiros conectou 650 mil imóveis ao sistema de tratamento de esgotos (22% acima da meta), o que significa que quase 2 milhões de pessoas passaram a contar com serviços de saneamento básico. No total, direta e indiretamente, o Programa beneficia cerca de 3 milhões de pessoas, contando inclusive aquelas que hoje usufruem dos equipamentos de lazer às margens do rio.

Foram implantados 279 quilômetros de novas tubulações nas 25 sub-bacias (córregos e afluentes) do rio: Jaguaré, Vila Hamburguesa, Pirajussara, Boaçava, Jockey/Cidade Jardim, Bellini, Morumbi, Alto De Pinheiros, Cachoeira/Morro do S, Corujas, Ponte Baixa, Rebouças, Socorro, 9 de Julho, Sapateiro, Uberaba, Traição, Água Espraiada, Cordeiro, Chácara Santo Antônio, Pouso Alegre, Santo Amaro, Poli, Pedreira e Zavuvus.

Essa infraestrutura permite que o esgoto coletado seja levado para Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Barueri, o que contribui diretamente para a revitalização do rio e seus afluentes.

Com investimentos orçados em R$ 2,0 bilhões em todo o projeto, a meta de reduzir o esgoto lançado em seus afluentes, melhorar a qualidade das águas e integrar o rio Pinheiros à cidade foi atingida e superada: são 25 quilômetros de rio despoluídos e mais de 86 mil toneladas de lixo removidas.

Foram implantados 279 quilômetros de novas tubulações nas 25 sub-bacias
Foram implantados 279 quilômetros de novas tubulações nas 25 sub-bacias - Divulgação

Por ser um rio urbano, a água não será potável. No entanto, com o projeto de despoluição concluído, haverá a melhora do odor existente, abrigo de vida aquática e, principalmente, a volta da população às suas margens por meio também da recuperação ambiental e paisagística do seu entorno.

Para completar o programa, começam a ser implantadas as unidades de recuperação de qualidade da água, que realizarão o tratamento dos afluentes. As URs (Unidades de Recuperação de Qualidade da Água) atingirão 5 sub-bacias que apresentam núcleos de ocupação irregular, onde não é viável tecnicamente implantar infraestrutura de saneamento. Essas unidades vão retirar o esgoto diretamente dos córregos, de forma que estejam despoluídos antes de desaguarem no rio Pinheiros.

Iniciado em 2019, o Novo Rio Pinheiros é um programa do Governo do Estado de São Paulo sob a coordenação da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente e tem a Sabesp como executora das ações de expansão de saneamento básico. O Programa conta ainda com outras empresas e órgãos estaduais como parceiros, além da Prefeitura Municipal de São Paulo.

A HISTÓRIA DO RIO

Tratamento de esgoto beneficia 2 milhões de pessoas no entorno do Rio Pinheiros
Tratamento de esgoto beneficia mais de 3 milhões de pessoas no entorno do Rio Pinheiros - Divulgação

As águas que nascem limpas na Serra do Mar compõem o rio Jurubatuba (também chamado de rio Grande) e, na junção com o rio Guarapiranga, formam o rio Pinheiros — este encontro acontece próximo à estação Santo Amaro. O percurso do rio Pinheiros se completa dois quilômetros a oeste da estação Ceasa, onde ocorre a foz com o rio Tietê.

Antes que a urbanização alcançasse suas margens, o rio Pinheiros fazia várias curvas ao sudeste da cidade. Como todo rio, a área de várzea passava por inundações cíclicas. Atualmente, o rio percorre 25 quilômetros e recolhe as águas de uma bacia de 271 quilômetros, área onde vivem 3,3 milhões de pessoas.

No século 20, São Paulo começou a crescer rapidamente. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade tinha cerca de 230 mil habitantes em 1900. Cem anos mais tarde, a mesma cidade abrigaria mais de 10 milhões de pessoas.

Esgoto canalizado no córrego Zavuvus, na Vila das Pratas, zona sul de São Paulo
Esgoto canalizado no córrego Zavuvus, na Vila das Pratas, zona sul de São Paulo - Daniel dos Reis/Arquivo Pessoal

Em decorrência do crescimento populacional, o rio Pinheiros teve, então, seu percurso canalizado e retificado, a calha aprofundada e as águas bombeadas rio acima para a recém construída Represa Billings — a inversão do rio, para a geração de energia elétrica na usina Henry Borden.

E o rio se transformou num lugar desfavorável para vida aquática e impróprio até para navegação. Com o crescimento populacional, a poluição do rio Pinheiros se acentuou, sendo necessário interromper o bombeamento para a represa Billings no final dos anos 80.

Clique e saiba mais sobre o projeto de despoluição do rio Pinheiros