Durante sua vida profissional, é possível – e até provável – que você tenha que escolher mais de uma carreira. E o que levar em conta quando chegar a sua hora? Quem responde é a professora do Senac Karin Pfannemuller Gomes: “Reflita sobre sua trajetória de vida”.
Ela orienta a colocar no papel alguns pontos-chave, como objetivo profissional e expectativa em relação a um plano de carreira. E considerar o que gosta de fazer, o que sabe fazer e o que o mercado de trabalho tem condições de absorver. “Ao fazer anotações, uma ideia que é meio nebulosa fica mais concreta”.
Conheça, a seguir, o que você precisa considerar ao escolher uma carreira.
1. Autoconhecimento
Vamos partir de duas premissas:
1) estamos mudando permanentemente
2) sempre há algo novo a descobrir sobre nós mesmos
Assim, um processo de autoconhecimento deve ser contínuo, “vivo e dinâmico, que devemos ampliar ao longo de nossa jornada”, afirma a psicóloga Silvana Mello, especialista em desenvolvimento humano da consultoria TCS - Talent Creative Solutions.
Quais são meus principais talentos? E minhas fragilidades? O que preciso desenvolver? O que me faz feliz? O que é importante para mim? Quais são meus valores? Sobre que temas eu gosto de aprender? Essas são algumas perguntas que podem ajudar a identificar um caminho.
Talvez você não chegue a todas as respostas. “Mas, certamente, um ponto importante que pode surgir é: o que eu não quero fazer. Compreender esse aspecto nos ajuda a priorizar coisas que se conectem mais conosco”, explica a administradora Thaís Fraga, sócia e responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da consultoria Woke.
2. Propósito
O que dá significado à sua existência? É uma pergunta que pode parecer difícil. Mas o trânsito pelo mundo do trabalho se torna mais fluido e ganha significado quando o profissional tem uma missão. Thaís orienta: “Algumas pessoas já têm um propósito de carreira muito claro, mas, ainda assim, vale investigar e transformá-lo em evidências, atividades e palavras que o descrevam da forma mais tangível possível”.
3. Motivadores
Motivações e necessidades devem ser investigadas. “As escolhas de carreira são influenciadas pelo nosso momento de vida e não devemos considerar apenas o aspecto financeiro, mas também as perspectivas de aprendizado e crescimento, a exposição a desafios interessantes e a elementos que te façam feliz, te energizem e gerem senso de realização”, afirma a executiva da Woke. É o conjunto de todos esses fatores que sustenta a motivação e a satisfação na carreira ou na organização escolhida.
4. Área
Fechar a busca em um campo do conhecimento é apenas parte da tarefa. Dentro dele, há várias opções de carreira – acadêmica, empreendedorismo, consultoria, corporativa –, cada uma com seus desafios e suas oportunidades. É preciso conhecê-las bem para fazer uma escolha assertiva.
Também vale avaliá-la em termos de potencial de crescimento, abertura ou fechamento de postos, oferta de profissionais no mercado e perspectivas de mudança. Com essas informações em mãos, a escolha fica mais clara.
5. Pesquisa
Sites de notícias, de pesquisas e de organizações como o Fórum Econômico Mundial trazem tendências de mercado e estudos que podem ajudar a avaliar o cenário. A rede de relacionamento LinkedIn também colabora para identificar quem são as pessoas-chave em determinada área, por exemplo.
A internet é uma ferramenta importante, mas nem de longe a única. Na busca por informação, mais é sempre melhor. ONGs, aceleradoras de negócios, mentores, entidades de classe, amigos, gestores, profissionais da área ou de RH e colegas são valiosos para entender melhor a rotina da carreira, os desafios que não são tão evidentes e os benefícios que pouca gente fala.
6. Desenvolvimento
O mundo VUCA (do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo) está migrando para BANI (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) e exige que o profissional se renove e desenvolva competências que são para a vida, não somente as técnicas, segundo a professora do Senac.
“O profissional deve conseguir trabalhar com adaptabilidade, resiliência, com as condições desfavoráveis que a gente encontra hoje. O mercado está procurando isso”, considera Karin, uma das responsáveis pelo Programa de Orientação Profissional e de Carreiras da instituição de ensino.
7. Aprendizado
O cenário atual é de constante mutação. Significa entrar em um trem em movimento, compara a especialista da TCS. Isso vai exigir que o profissional se mantenha em aprendizado contínuo: “Este, provavelmente, será o nome do jogo durante e após a pandemia”.
Qualquer que seja a carreira escolhida, um ponto é certo: será necessário ter disposição para aprender e se adaptar permanentemente. E aqui voltamos ao autoconhecimento. “Escolher uma carreira envolve analisar muitos aspectos, internos e externos ao profissional e, além disso, pensar em variáveis que farão parte da jornada, afinal, mudanças no meio do jogo vão ocorrer.”
8. Rede de contatos
Ampliar as conexões ajuda a tomar decisões mais assertivas. Silvana recomenda participar de eventos, cursos e palestras, além de fazer lives, por exemplo, para conhecer profissionais e cultivar relações no mundo do trabalho. “Sempre lembrando que fazer networking é uma via de mão dupla, precisamos dar e receber, é uma relação de troca.”
9. Formação superior
Uma opção para ingressar no mercado de trabalho é o ensino superior. “A pessoa ganha conhecimentos técnicos, de valores, de atitudes, que também serão úteis, como trabalhar em equipe, tomar decisões, fazer estágio. A formação acadêmica também é uma formação como ser humano, por mais técnico que seja esse ambiente”, diz a professora do Senac.
A escolha da instituição de ensino– seja para um curso de graduação, seja para uma pós ou extensão – também passa pelo plano de carreira. Karin orienta a buscar o programa curricular, verificar se o ensino é voltado mais para a academia ou mais para o mercado corporativo, conhecer as disciplinas.
Olhar a experiência dos professores também é uma prática comum. Se o profissional quer seguir a carreira acadêmica, a dica é consultar a experiência dos docentes na Plataforma Lattes, que traz a formação, os trabalhos e as pesquisas desenvolvidas por eles. Se o interesse é caminhar para o mercado corporativo, a recomendação é buscar as informações no LinkedIn.
10. Prática
Cursos, formações acadêmicas e palestras proporcionam conhecimento. Mas é preciso ir além. “Tão relevante quanto ensino formal da sala de aula são as oportunidades de aprendizado que ocorrem no nosso dia a dia e que é onde, de fato, aplicamos o que aprendemos na teoria”, afirma Thaís, da Woke.
E finaliza: “Garanta que são formações de qualidade, com bons professores e reconhecidas pelo mercado, que elas explorem conteúdos que de alguma maneira vão ajudar a suprir gaps de conhecimento. E, finalmente, entenda quais são as oportunidades que possui de aplicar os conhecimentos, sejam eles ligados a habilidades técnicas ou comportamentais e, caso não veja essas oportunidades, crie-as você mesmo!”.